Estilo de vida
25/09/2013 às 07:25•3 min de leitura
Se você está abaixo dos 26 anos e acha que já é adulto, pode mudar sua percepção a partir de agora. Estudos comprovam que a adolescência vai, na verdade, até os 25 anos – e não até os 18, como era considerado antes. E isso está fazendo com que psicólogos infantis passem a trabalhar com a faixa etária 0-25, ao contrário da tradicional 0-18. A novidade veio em uma série de pesquisas, divulgadas pela BBC de Londres.
A nova orientação é feita para que os jovens, quando entrem em seus 18 anos, não caiam em uma lacuna nos sistemas de saúde e educação. A mudança acompanha o desenvolvimento hormonal e as atividades cerebrais em geral.
A psicóloga infantil Laverne Antrobus defende que o apoio psicológico aos jovens não deve terminar aos 18 anos, já que o desenvolvimento cognitivo continua acontecendo até os 25 anos. Até lá, ainda não existiria a maturidade emocional ainda, o que afeta itens como o julgamento de situações diversas e até mesmo a autoimagem, tudo isso devido ao córtex pré-frontal do cérebro, que ainda não é totalmente desenvolvido até essa idade.
“A neurociência tem feito avanços maciços e, com isso, não acho que as coisas simplesmente parem em uma determinada idade. Existem evidências de desenvolvimento do cérebro até os 20 e poucos anos e, na verdade, o momento em que as mudanças param é muito mais tardio do que pensávamos”, diz Antrobus.
Segundo pesquisadores, a adolescência pode ser dividida em três partes: início (12-14 anos), adolescência média (15-17 anos) e final (18 anos e mais).
Para a psicóloga, os hormônios também são fundamentais nessa evolução. “Em crianças e jovens entre a idade de 16 a 18 anos, a agitação hormonal é tão grande que imaginar que tudo isso vai se estabelecer no momento em que eles chegarem a 18 anos realmente é um equívoco”, acredita Antrobus.
Ela ainda diz que alguns adolescentes podem querer ficar mais tempo com suas famílias antes de sair de casa, já que eles precisam de mais apoio durante esses anos de formação. Segundo a psicóloga, é importante que os pais percebam que os jovens não se desenvolvem no mesmo ritmo, por isso cada um tem seu próprio tempo.
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Segundo Frank Furedi, professor da Universidade de Kent, ainda existe um enorme número de jovens infantilizados na faixa dos 20 anos, o que faz com que eles fiquem por muito mais tempo na casa dos pais, demorando mais para exercer sua independência.
Para ele, além das motivações econômicas, existe uma ligação emocional maior do que nas gerações anteriores, demonstrando uma independência tardia. “Há uma perda da aspiração por independência. Quando eu fui para a universidade, teria sido minha morte social caso eu fosse visto com meus pais, mas hoje parece que essa é a norma.”
No entanto, ele acredita que isso pode ser um malefício para o indivíduo. “Temos esse tipo de mudança cultural, o que significa, basicamente, que a adolescência se estende em seus vinte e tantos anos, no entanto isso pode prejudicar os indivíduos de várias formas. Eu acho que, de certa maneira, a psicologia reforça esse tipo de passividade e impotência e normaliza essa imaturidade.”
Furedi diz que essa cultura se massificou em forma de uma “dependência passiva” e que isso pode levar a diversas dificuldades em relacionamentos adultos maduros. Para ele, existem diversas evidências dessa nova cultura, até mesmo no consumo de conteúdo.
“Há um número crescente de adultos que estão assistindo a filmes infantis no cinema”, diz Furedi. “Se você olhar para os canais infantis nos Estados Unidos, 25% dos telespectadores são adultos e não crianças.” O estudioso ainda acredita que parte desse comportamento vem como consequência da superproteção dos pais da última geração.
“Eu não acho que o mundo tornou-se mais cruel, nós é que seguramos nossos filhos em casa desde muito cedo. Com 11, 12 e 13 anos não deixamos os adolescentes por conta própria. Quando eles estão com 14 e 15 anos, isolamos os jovens a partir da experiência da vida real. Muitas vezes, tratamos estudantes universitários da mesma maneira que tratamos alunos da escola, então acredito que o responsável por isso é um tipo de efeito cumulativo de infantilização”, diz Furedi.
A apresentadora de TV britânica Sarah Beeny, especialista em assuntos familiares, garante que a solução não está em expulsar os filhos de casa aos 20 e poucos anos, mas sim aumentar suas responsabilidades dentro do ambiente familiar. “A solução é fazê-los lavar sua própria roupa, pagar suas próprias contas, pagar o aluguel, assumir a limpeza de seu próprio quarto e não apenas esperar que isso parta dos pais”, diz Beeny.
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Já seu colega, o apresentador Quentin Willson, acredita que dar responsabilidades de maior peso aos jovens também ajuda no desenvolvimento. Para ele, o maior “talismã” da vida madura, que é encarado como símbolo de maturidade e responsabilidade, é o carro.
Segundo ele, embora as estatísticas locais mostrem que o maior número de acidentes automobilísticos acontecem com jovens na faixa dos 18 anos, a solução não seria tirar os carros dos jovens, mas sim ensinar habilidades e mostrar o peso da condução aos jovens.
“Se você ensinar essas crianças quando suas mentalidades são puras e antes de terem sido corrompidas por coisas como Grand Theft Auto V e Top Gear, além de todas as pressões sociais corrosivas, então você começa passar a mensagem de segurança rodoviária muito mais cedo”, diz Willson.
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Para ele, jogos e filmes em si não representam problemas: a questão seria o que crianças fora da classificação indicada aprendem ali antes mesmo de ter uma consciência do que acontece no mundo real.
Por fim, o repórter da BBC questiona aos entrevistados: “Como saber se realmente cheguei à vida adulta?”. Para Antrobus, isso acontece quando a independência “parece algo que você tanto deseja quanto pode adquirir”. A opinião de Beeny também foi levada em conta: “Para mim, a vida adulta acontece ao deixar de perceber os outros como adultos”.