Ciência
19/06/2014 às 02:58•2 min de leitura
O vírus do HIV — causador da AIDS — é uma das grandes pragas da civilização moderna e assola uma grande quantidade de pessoas ao redor do planeta, infectando cerca de 35 milhões de pessoas todos os anos. E, apesar de ainda ser considerada incurável pela comunidade científica, muitos pesquisadores continuam buscando formas de acabar com a doença ou ao menos reduzir o impacto dela na sociedade.
Uma das possibilidades que estão sendo pesquisadas nos Estados Unidos é relacionada à tentativa de mimetização de uma mutação genética. Em 2006, um homem chamado Timothy Ray Brown (HIV positivo e que sofria com leucemia) recebeu transplante de medula óssea e com isso adquiriu imunidade em relação ao vírus da AIDS — lembrando que casos parecidos já foram vistos. O motivo para isso seria uma mutação raríssima no terceiro cromossomo do doador.
Esta mutação — que ocorre em cerca de 1% dos caucasianos e em nenhuma outra pessoa, ao que se sabe até o momento — seria responsável por alterar o DNA fazendo com que as células humanas fechem as portas para a proteína essencial do HIV. Ou seja, ela impediria que o vírus continuasse se espalhando no interior do corpo humano — permitindo uma melhor defesa no sistema imunológico.
O vírus da AIDS se espalha dentro do corpo humano por meio das proteínas das células T4, que são linfócitos auxiliares. Elas são dotadas de uma superfície chamada CD4, facilmente ligada às glicoproteínas GP-120 (foto abaixo) — que compõem as membranas externas do HIV. Foi anulando essas ligações que a mutação transplantada permitiu que o paciente ficasse imune à doença.
Apesar de esse caso ser muito animador, é preciso saber que ainda estamos completamente longe de uma cura definitiva. Brown pôde ter o vírus neutralizado dentro de seu corpo, mas ele ainda é portador. Mais do que isso, é preciso pensar em uma escala global: as chances de haver um doador de medula que possua essa mutação e que tenha compatibilidade com pessoas infectadas são ínfimas.
O professor Yuet Kan (Universidade da Califórnia — São Francisco) afirma que pode existir alguma forma de mimetizar essa mutação por meio de edições no genoma. Ele afirma que integrar a mutação não funcionaria no nível macro, mas pode ser eficiente em uma escala molecular. E o melhor é que isso aconteceria de uma maneira menos invasiva do que a doação e transplante de medulas.
Os pesquisadores da UCSF estão utilizando técnicas de edição genética para aplicar os trechos do genoma que seriam encontrados na mutação no lugar dos mesmos trechos do genoma do paciente, sendo assim integrada à “mutação” no corpo da pessoa infectada pelo HIV. Segundo o que eles contaram ao Daily Mail, isso está acontecendo por meio de uma técnica chamada CRISPR.
Ela consiste em substituir códigos genéticos em partes específicas de determinados cromossomos — como se fosse uma alteração de trechos de circuitos de uma placa eletrônica. Antes disso, ainda são utilizadas técnicas chamadas de Cas9, que funcionam como tesouras para retirar a parte do código que será substituída. Como a nova célula ainda é reconhecida como sendo do paciente, não há chances de rejeição.
Apesar de promissor, o novo método ainda está em fases iniciais de testes nos laboratórios norte-americanos. O processo é caro e deve demorar até que seja visto efetivamente em tratamentos ao público, mas é importante saber que existem movimentos da comunidade científica que buscam resolver um dos maiores problemas da saúde.