Ciência
26/11/2018 às 03:00•3 min de leitura
Além do medo de não acordar de uma cirurgia, um dos maiores temores de quem vai passar por qualquer tipo de procedimento cirúrgico é, justamente, o de acordar, só que bem no meio da coisa toda. Afinal, todo mundo já ouviu histórias de pessoas — ou inclusive passou pela experiência na própria pele! — de voltar da anestesia antes da hora, e muitos desses relatos são simplesmente aterrorizantes.
Segundo os especialistas, é relativamente raro que uma pessoa volte da anestesia geral enquanto está sendo submetida a uma cirurgia. Contudo, você sabe com qual frequência esses episódios acontecem ou, ainda, quais são as razões de eles ocorrerem?
Um levantamento conduzido pela Associação de Anestesistas da Grã Bretanha e pelo Royal College of Anaesthetists do Reino Unido analisou os registros de 3 milhões de cirurgias realizadas no período de mais de um ano. Durante o estudo os pesquisadores descobriram que mais de 300 pacientes — ou um em cada 19,6 mil — disseram ter recuperado algum tipo de consciência enquanto os procedimentos ocorriam sob a anestesia geral.
O levantamento apontou que, na grande maioria dos casos, os pacientes acordaram antes de a cirurgia começar ou logo depois de ela terminar — e não durante o procedimento —, e isso teve duração inferior a cinco minutos. No entanto, apesar de nem todas as ocorrências terem gerado muita preocupação, em 41% dos casos, as experiências resultaram em traumas psicológicos.
Muitos dos pacientes que voltaram à consciência durante as cirurgias descreveram uma série situações, como experiências de quase-morte, ocorrência de alucinações, dificuldades para respirar e sensações de dor e extremo pânico. Entretanto, segundo disseram, mais traumatizante e perturbador do que sentir dor é a incapacidade de se movimentar e de se comunicar com os médicos quando os episódios acontecem.
Os pesquisadores avaliaram cada um dos casos detectados no levantamento para tentar identificar quais são os possíveis fatores que podem desencadear os incidentes. Segundo descobriram, 90% dos episódios ocorreram quando os pacientes receberam relaxantes musculares — medicamentos que bloqueiam os nervos e evitam que eles estimulem os músculos durante as cirurgias — em conjunto com as drogas anestésicas.
De acordo com o estudo, os casos mais frequentes tendem a ser relatados por mulheres que recebem anestesia geral durante cesáreas, assim como por pacientes que passam por cirurgias do trauma. Além disso, os episódios também são registrados com frequência entre indivíduos que se submetem a cirurgias cardíacas ou nos pulmões e em procedimentos realizados em pacientes obesos ou pessoas que estão sendo tratadas com determinados medicamentos.
Os cientistas acreditam que os episódios ocorrem por que os pacientes receberam as drogas relaxantes e anestésicas em quantidades equivocadas, deixando-os paralisados, mas não totalmente inconscientes.
No caso das cesáreas, por exemplo, o mais comum é que as mulheres recebam anestesia geral quando se trata de um procedimento de emergência. Contudo, os pesquisadores estimam que uma em cada 670 pacientes que são submetidas a esse tipo de anestesia pode experimentar algum tipo de recuperação de consciência durante a cirurgia.
Isso se deve ao difícil equilíbrio que os anestesistas devem encontrar na administração dos medicamentos, já que eles precisam garantir que a mãe receba o anestésico em quantidade suficiente para ela fique inconsciente sem que a droga afete o bebê. Além disso, o mesmo pode ser dito das cirurgias do trauma — que também são focadas em urgências e emergências —, pois o uso de anestésicos na quantidade equivocada pode provocar a morte do paciente.
Estudos anteriores realizados nos EUA chegaram a sugerir que o índice de pessoas que recobram a consciência durante as cirurgias era de um em cada mil pacientes, ou seja, muito mais alto do que o revelado pelo levantamento britânico. No caso dos episódios avaliados no Reino Unido, apenas 17 deles ocorreram por conta de erros na administração das drogas.
Para evitar que esse tipo de situação aconteça, alguns médicos recomendam o emprego de estimulantes musculares durante as cirurgias, para garantir que apenas a mínima quantidade possível dos bloqueadores sejam usados — e os pacientes consigam se mover ligeiramente caso eles acordem no meio do procedimento.
Além disso, avisar os pacientes sobre a possibilidade de que eles podem voltar à consciência durante a cirurgia também é de suma importância, já que, dessa forma, caso eles tenham o azar de passar por essa experiência, eles saberão o que está acontecendo, minimizando o risco de trauma. Mas e você caro leitor, conhece alguém que tenha passado por esse tipo de situação? Não deixe de compartilhar sua história conosco nos comentários!
*Publicado em 15/06/2015