Estilo de vida
03/03/2015 às 10:07•4 min de leitura
Depois do tão aguardado lançamento do filme “50 tons de cinza” fomos bombardeados com uma porção de notícias falando a respeito de quantos tons dessa cor os seres humanos são capazes de enxergar. O problema é que acabamos nos deparando com números bem contraditórios, e aqui no Mega Curioso mesmo publicamos matérias nas quais mencionamos estudos que sugerem que conseguimos distinguir 30, 500 e até 50 mil tons de cinza!
Com tanta discrepância entre as informações, é claro que os nossos leitores questionaram — e com toda razão! — sobre essa bagunça de tons. E nós aqui da redação decidimos sair em busca de uma resposta mais concreta para essa questão, e inclusive entramos em contato com um dos autores de um dos estudos dos quais falamos aqui. Mas, antes de começar, que tal entender melhor o que são as cores, os tons e como os nossos olhos processam tudo isso?
As cores que os seres humanos conseguem perceber nada mais são do que ondas eletromagnéticas que vibram em determinadas frequências. A frequência de luz mais baixa que conseguimos enxergar é a vermelha, enquanto que a mais alta é a roxa, e entre essas duas se encontra o que chamamos de espectro visível de cores. Assista ao vídeo a seguir para entender melhor:
Os nossos olhos percebem o espectro de cores graças a dois tipos de células — os cones e os bastonetes — responsáveis por capturar e transmitir os estímulos visuais ao cérebro que, por sua vez, decodifica essas informações e as transforma em imagens. Os bastonetes são os que se encarregam de detectar a luminosidade, enquanto que os cones são os responsáveis pela percepção das cores, e a maioria de nós possui três tipos de cones diferentes.
Cada variedade de cone é mais sensível a determinado comprimento de onda — curto, médio e longo —, mas não pense que isso significa que eles se limitam a perceber apenas uma cor específica. Na verdade, os diferentes cones contam com diferentes graus de sensibilidade sobre uma ampla variedade de frequências e, juntos, os três tipos conseguem identificar um enorme número de cores.
Basicamente, as cores que os seres humanos enxergam nada mais são do que a forma como os nossos olhos interpretam a luz que é refletida pelos objetos. Dependendo da composição de determinado material, os diversos comprimentos de luz viajam por ele de maneira diferente. Assim, depois que a luz é absorvida por determinado objeto, os nossos olhos veem a cor — ou o comprimento de onda — que esse objeto reflete.
A cor branca, como você sabe, resulta da absorção de todas as cores, enquanto que a preta é produto da ausência de todas elas. Uma das razões de vermos o mar como sendo azul, por exemplo, é por que o comprimento de onda próximo ao espectro do azul viaja até profundidades maiores, enquanto que os comprimentos de onda mais claros, como vermelhos, amarelos e laranjas, são absorvidos mais rapidamente.
Outro exemplo é o fato de vermos as veias como sendo azuis esverdeadas, apesar de o sangue ser vermelho. Isso ocorre por que a pele branca não consegue absorver muita luz, e reflete quase todos os raios luminosos. Já o sangue — fora das veias — é capaz de absorver todos os comprimentos de onda, exceto o vermelho, que é a cor que ele reflete.
Mas quando o sangue se encontra dentro das veias, o comprimento de onda azul não consegue penetrar da mesma forma que o vermelho, e acaba sendo refletido de volta para que os nossos olhos o interpretem como o tom azulado que enxergamos. Agora, vamos às cores propriamente ditas.
Todas as cores que os humanos são capazes de detectar são produzidas através da combinação de três cores primárias por meio de processos aditivos ou subtrativos. Os processos aditivos são aqueles nos quais a luz é adicionada a um fundo escuro, enquanto que nos processos subtrativos determinados pigmentos são usados para bloquear a luz branca. Veja:
Cores aditivas e cores subtrativas, respectivamente
As cores nos círculos externos de cada uma das figuras são chamadas cores primárias, e elas são a base da criação de todas as demais cores. Além disso, outros componentes únicos das cores são a saturação e o matiz — ou tom — e, embora a descrição de ambos seja muito subjetiva, para entender melhor o que cada um significa, temos que voltar à questão do espectro visível das cores e das frequências de onda.
É importante saber que as cores que ocorrem naturalmente não são compostas por um único comprimento de onda — mas sim por toda uma variedade deles —, e o matiz nada mais é do que o comprimento mais dominante entre os demais. Já a saturação define o grau de pureza de determinada cor, o que significa que quanto mais saturada ela for, menor será a variedade de comprimentos de onda que a compõem, e mais pronunciada essa cor parecerá.
Aliás, é por conta da combinação desses fatores todos — níveis de luminosidades, variação de matizes e saturação — que os computadores são capazes de gerar 16 milhões de cores, que são mais cores do que os nossos olhos são capazes de distinguir.
Agora que já sabemos o que são as cores, quais são seus os seus componentes e como os nossos olhos processam essas informações, vamos aos benditos tons de cinza! Conforme mencionamos anteriormente, os nossos olhos contam com células responsáveis por transmitir os estímulos visuais ao cérebro, e ele traduz essas informações em imagens e cores.
Acontece que essa ação é bastante complexa e exige um bocado de processamento por parte do cérebro e todas as demais estruturas envolvidas, sem falar que diversos fatores podem afetar a forma como o cérebro interpreta os estímulos visuais — e um exemplo disso são as ilusões de óptica e o famoso vestido azul e preto/ branco e dourado que chamou a atenção de todo mundo dias atrás.
Mas, voltando ao assunto do cinza, quando consideramos imagens monocromáticas, ou seja, desprovidas de cor, a verdade é que os humanos são capazes de distinguir entre 20 e 40 tons de cinza, lembrando que tom não é cor, já que esse é o valor de matiz. No entanto, centenas de cores podem ser identificadas dependendo da variação nos níveis de luminosidade presentes em diferentes partes da figura — e na forma como o cérebro processa as informações recebidas através de nossos olhos.