Artes/cultura
06/08/2015 às 04:31•3 min de leitura
Nós já divulgamos aqui no Mega Curioso os resultados de uma pesquisa recente que calculou a quantidade ideal de sono com base em diversas faixas etárias, lembra? Basicamente, se você tem entre 14 e 17 anos, o ideal é dormir entre oito e dez horas por dia; agora, se você tem entre 18 e 25, sete horas de sono já ajuda, mas esse tempo pode se estender a até nove horas – confira aqui a relação completa.
Agora sejamos sinceros: em pleno 2015, quando vivemos com nossos smartphones em mãos o tempo todo, quando a Netflix resolve criar séries fantásticas – agora vamos ter até uma produção brasileira! –, quando o MasterChef acaba tão tarde e quando parecemos viver em uma era dominada por cafeterias incríveis, dormir parece ter ficado em segundo plano.
O problema é que a maioria das pessoas acha que dormir pouco é sinal de produtividade quando, na verdade, a falta de um tempo ideal de sono pode prejudicar a nossa saúde mental bem mais do que imaginamos. Uma pesquisa recente afirma, inclusive, que dormir pouco diminui nosso Q.I. O colunista Eric Barker, da Time, expôs uma comparação fácil de ser entendida: “Perder uma hora de sono transforma um cérebro de sexta série em um da quarta série”.
“Se você gritasse/ se você gemesse/ se você tocasse/ a valsa vienense/ se você dormisse/ se você cansasse/ se você morresse.../ Mas você não morre/ Você é duro, José”, dizem alguns versos do poema de Carlos Drummond de Andrade. “Se você dormisse”, escreveu o poeta ao se lembrar da importância de uma noite bem-dormida.
Não é de hoje que a falta de sono parece ter relação com mentes inquietas, perturbadas, criativas ou aceleradas demais. A tecnologia, no entanto, tratou logo de trazer mais gente para esse grupo de insones incontroláveis. E, no final das contas, apenas uma hora a menos de sono por noite parece ser o suficiente para nos causar alguns problemas.
“A perda de uma hora de sono é equivalente à perda de dois anos de maturidade cognitiva e de desenvolvimento”, explica a publicação. No caso dos adolescentes, aqueles que tiram as maiores notas parecem ser também os que dormem em média 15 minutos a mais do que os que têm notas medianas.
Para chegar a esses resultados, pesquisadores avaliaram a qualidade de sono e as notas de mais de 3 mil alunos do equivalente ao Ensino Médio no estado norte-americano de Rhode Island. E a conclusão é simples: até mesmo 15 minutinhos a mais de sono já fazem diferença.
Os pesquisadores descobriram também que a falta de sono afeta a nossa capacidade de controlar impulsos. Ao que tudo indica, dormir pouco prejudica nossa habilidade biológica de extrair glicose da corrente sanguínea. Como esse é um mecanismo que nos dá energia, é só juntar os pontinhos para entender por que nos sentimos cansados depois de uma noite mal dormida.
Essa falta de energia afeta ainda mais a região cerebral conhecida como córtex pré-frontal, responsável pela chamada “função executiva”. Entre essas funções estão a nossa capacidade de organizar pensamentos quando o assunto é alcançar novos objetivos, prever resultados e perceber as consequências das nossas ações.
É por isso que pessoas que têm uma baixa qualidade de sono costumam também ser mais impulsivas e, nesse sentido, a impulsividade faz com que essas pessoas acabem deixando seus compromissos de lado em troca de atividades mais prazerosas, que envolvam algum tipo de entretenimento. Se isso parece finalmente explicar a sua vida, é bom ficar esperto e deixar a maratona Netflix só para os finais de semana.
Outra característica de um cérebro cansado é a sensação de que se está preso em uma situação ruim, sem a capacidade de encontrar alguma solução criativa para resolver problemas cotidianos. Sabe aquela coisa de que uma pessoa não pode ter as mesmas atitudes e esperar resultados diferentes? Pois é. Essa é a lógica de um cérebro cansado: fazer a mesma coisa, mesmo quando se tem noção de que a resposta será negativa.
Sabe o que seu cérebro exausto faz com você, além de induzir ao erro e de transformar você em uma pessoa impulsiva? Ele também vai encher sua cabeça de memórias negativas. Sacanagem, né? Mas é verdade e faz sentido. Basicamente é assim: mentes cansadas não são felizes e, na falta de um motivo concreto de insatisfação, sua cabeça dá um jeito de relembrar momentos ruins.
Esses estímulos negativos são processados na região cerebral da amigdala, enquanto o hipocampo processa o que é positivo ou neutro. Adivinha o que a falta de sono faz? Exatamente isso: sobrecarrega o hipocampo e afeta a amigdala de forma mais leve.
Como resultado, quem dorme pouco acaba tendo memórias de experiências negativas com mais frequência, de modo que esses pensamentos ruins prejudicam nossas experiências do presente.
Em um experimento para comprovar essa teoria, um grupo de estudantes adolescentes tentou memorizar uma lista de palavras. Aquelas palavras com uma conotação negativa, como “câncer”, foram lembradas em 81% das vezes. Esse percentual caiu para 31 em relação às palavras positivas e neutras, como “basquete” ou “luz solar”. É... Pelo jeito a ciência está correta e não nos custa tentar dormir um pouco mais.