Ciência
09/12/2016 às 08:01•2 min de leitura
Estou lendo um dos livros mais incríveis que já caíram em minhas mãos. Chama-se “Incógnito” e foi escrito pelo neurocientista David Eagleman, que consegue tratar de temas interessantes da Neurociência de uma forma que qualquer pessoa consegue entender.
Quando cheguei à página 60 da versão brasileira da editora Rocco, me deparei com o seguinte trecho, que faz parte do capítulo que aborda questões relacionadas à visão humana: “Considere a síndrome de Anton, um distúrbio em que um derrame leva à cegueira – e o paciente nega a perda da visão”.
Quando li isso, me perguntei o que você talvez esteja se perguntando também: como é possível que uma pessoa fique cega e não acredite nisso? Bem... O cérebro humano é realmente fantástico e capaz das mais diversas peripécias.
Seu cérebro é tão incrível que consegue fazer com que você ache que esta imagem está em movimento.
Eagleman continuou a explicar o caso, na página 61: “Os que sofrem de síndrome de Anton não estão fingindo que não são cegos; eles verdadeiramente acreditam que não o são. Suas respostas verbais, embora inexatas, não são mentiras. Eles estão vivendo o que consideram ser a visão, mas tudo é gerado internamente”, diz o autor.
Ele explica também que um paciente com essa síndrome não costuma procurar ajuda médica rapidamente, simplesmente por não perceber que ficou cego. Com o passar do tempo, e com os contínuos esbarrões em móveis, paredes e pessoas, o paciente começa a perceber que há algo de errado com ele.
Isso acontece, segundo Eagleman, porque o cérebro da pessoa já tem uma série de informações visuais que ela acumulou ao longo da vida e que, em casos bem específicos e que se desencadeiam depois de um acidente vascular cerebral (AVC ou “derrame”, como é conhecido popularmente), passam a ser usados pelo cérebro como se a pessoa estivesse realmente enxergando.
Nesta publicação do Journal of Medical Case Reports, há o relato de uma paciente de 83 anos que, apesar de não aceitar, ficou cega depois de sofrer um AVC. No relato do caso, os médicos explicam que a paciente agia como se não estivesse cega e que apresentava também um quadro de demência leve. Quatro semanas após iniciar o tratamento, a idosa já estava enxergando sombras novamente, o que indica que, em alguns casos, essa cegueira pode ser temporária.
O círculo laranja da esquerda parece menor que o da direita, mas não é!
Se pensarmos na visão como um processo extremamente complexo de ilusões, imagens congeladas, alucinações e criações cerebrais, fica relativamente mais fácil entender como o cérebro desses pacientes recorre a imagens da memória para criar a sensação da visão de uma maneira tão perfeita que a pessoa chega a não se dar conta de que está cega.
Em seu livro, Eagleman fala dos mecanismos da visão com o fascínio de quem estuda esse processo físico – e podemos entender aqui como físico de fisiológico e físico como aquilo que faz parte da Física – há muito tempo e que nem por isso deixa de se surpreender com as habilidades extraordinárias do cérebro humano.
“Embora pareçam estranhas, as respostas da paciente podem ser compreendidas como seu modelo interno: as informações externas não estão chegando aos lugares certos devido ao derrame, e assim a realidade da paciente simplesmente é aquela gerada pelo cérebro, com pouca ligação com o mundo real. Nesse sentido, o que ela vive não é diferente dos sonhos, das viagens por drogas ou das alucinações”, conclui.
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