Artes/cultura
29/06/2024 às 09:00•3 min de leituraAtualizado em 29/06/2024 às 09:00
Filmes como Jurassic Park criaram em nosso imaginário a possibilidade de que, a partir de achados em âmbares (que são as resinas fósseis muito usadas para objetos de decoração), poderíamos recriar animais a partir de clonagem – e, por que não, gerar um desastre imenso. Entretanto, paleontólogos encontram, até com certa frequência, as coisas mais incomuns dentro dessa resina fossilizada, mas nada com DNA que possibilite isso.
O material encontrado fossilizado é importante para pesquisadores, pois a partir dele é possível aprender muito mais a respeito dos seres que viveram há milhares (ou milhões) de anos. A principal razão para isso é que o material na resina preserva detalhes de alguns seres, ao ponto de parecerem estar vivos.
Na República Dominicana, um grupo de paleontólogos encontrou um âmbar cuja descoberta exigiu que se criasse uma nova família, gênero e espécie taxonômica. Um microinvertebrado até então desconhecido, medindo 100 micrômetros, quase invisível a olho nu, foi nomeado como Sialomorpha dominicada, e tem semelhanças tanto com tardígrados quanto com ácaros.
Sua aparência, grande e lembrando um suíno, além da dieta baseada em fungos, fez com que passasse a ser chamado de porco-do-fungo. No âmbar em que foi encontrado, havia centenas de espécimes do tardígrado, fato que permitiu aos cientistas estudar o ser em detalhes. No entanto, não se sabe se ele tem descendentes vivos.
Foi encontrado por um grupo de paleontólogos um âmbar com um filho de pássaro com alguns dias de idade, datado em aproximadamente 100 milhões de anos. Não foi a primeira vez que cientistas encontraram um animal inteiro fossilizado em âmbar, mas entre as aves, essa espécie foi a mais completa e detalhada já vista.
O pássaro continha um conjunto completo de penas de voo, incluindo na cauda, o que não ocorre em filhotes modernos com a mesma idade do fóssil. Ele foi classificado como parte do grupo taxonômico denominado "opostos às aves", em função dos ossos de seus pés serem fundidos de modo diferentes nas aves modernas.
O roteiro pode até lembrar Jurassic Park, mas a história não resultou em clonagem. Paleontólogos encontraram diversos âmbares no oeste do Canadá, datados da Era Mesozoica, que continham penas fossilizadas, com sua estrutura tridimensional e pigmentos coloridos preservados.
Além da possibilidade de se descobrir mais sobre a origem das penas em animais, chamou a atenção dos pesquisadores que elas estavam infestadas de piolhos, incluindo uma até então desconhecida. A Mesophthirus engeli foi descoberta em dois pedaços de âmbares.
Era de conhecimento que dinossauros foram parasitados por carrapatos e pulgas, mas essas espécies de piolhos são as mais velhas já encontradas, e foram datadas de meados do período Cretáceo, há aproximadamente 100 milhões de anos.
Pholcidae são aranhas bastante comuns, do tipo que costumamos encontrar em casa, principalmente no teto. Um achado paleontológico de um ancestral da família chamou a atenção por uma inusitada ereção preservada no fóssil. Essa família de aracnídeos é a única com pênis, que é longo, com cerca da metade do comprimento de seu corpo, e tem a cabeça em formato de coração.
Os paleontólogos acreditam que a aranha tenha caído no âmbar durante o acasalamento, ainda que haja a possibilidade de que a ereção tenha surgido de um aumento da pressão arterial durante a luta para escapar da resina da árvore.
A resina da árvore, por vezes, acaba registrando situações curiosas do reino animal, como um ataque de um ser a outro. Porém, dessa vez, o âmbar preservou uma situação, digamos, romântica. Um casal de moscas de pernas longas, datado de 41 milhões de anos, acabou preso na resina durante o coito.
Paleontólogos sustentam, no entanto, que a mosca que estava por cima pode ter ficado presa posteriormente, ao tentar acasalar com a que já estava no âmbar. Independente da ordem dos fatores, o achado é incrível por sua raridade.