Artes/cultura
10/09/2024 às 06:00•2 min de leituraAtualizado em 10/09/2024 às 06:00
A história da vida na Terra começa com um organismo enigmático conhecido como Luca, sigla em inglês para “último ancestral comum universal” (last universal common ancestor). Este ser microscópico é considerado o ancestral de todas as formas de vida que existem hoje. Mas como, afinal, os cientistas conseguiram reconstruir a história desse ancestral primordial?
A resposta está em um trabalho meticuloso e interdisciplinar que combina genética, biologia evolutiva e paleontologia, revelando detalhes fascinantes sobre as primeiras faíscas de vida em nosso planeta.
Luca não foi o primeiro ser vivo, mas foi o ancestral de todos os organismos modernos, desde as bactérias até os humanos. A jornada para desvendar sua existência envolveu comparar os genes de 700 espécies vivas, incluindo bactérias e arqueias, organismos que estão entre as formas de vida mais antigas que conhecemos. Ao analisar esses genes, os cientistas conseguiram estimar quando o ancestral comum viveu e como ele poderia ter sido.
Uma das descobertas mais surpreendentes foi a idade de Luca. Com base em estudos genéticos e fósseis, os cientistas calculam que ele viveu há cerca de 4,2 bilhões de anos, pouco após a formação da Terra. Essa estimativa foi feita comparando mutações genéticas ao longo do tempo e analisando fósseis muito antigos, como os tapetes microbianos de 3,48 bilhões de anos encontrados na Austrália.
Esses fósseis fornecem pistas valiosas sobre as condições da Terra primitiva e ajudaram a estabelecer um cronograma para a evolução inicial da vida.
Reconstruir o genoma de Luca também permitiu aos cientistas entender melhor seu metabolismo e ambiente. Ele provavelmente vivia em locais com condições extremas, como fontes hidrotermais ou oceanos quentes, onde sobrevivia sem oxigênio, respirando através dos resíduos deixados por outros organismos.
Curiosamente, Luca também possuía um sistema imunológico rudimentar, o que sugere que ele já enfrentava uma “corrida armamentista” com vírus, mesmo naqueles primeiros dias de vida na Terra.
Esse ancestral universal não estava sozinho em seu mundo primitivo. Evidências sugerem que ele habitava um ecossistema diversificado e dinâmico, onde outros micróbios reciclavam matéria orgânica, criando um ambiente que permitiu que a vida florescesse.
Além disso, é possível que existissem outros organismos vivendo na mesma época que Luca, mas que não deixaram descendentes vivos para contar sua história. Assim, nosso conhecimento sobre os primeiros passos da vida na Terra pode sempre estar incompleto.
Entender como esses organismos surgiram na Terra tem implicações significativas para a busca por vida em outros planetas, sugerindo que onde quer que existam condições semelhantes, a vida pode ter surgido e prosperado.
Apesar dos avanços, a pesquisa sobre Luca ainda está longe de ser conclusiva. À medida que novas tecnologias emergem e mais dados são coletados, nossa compreensão sobre esse ancestral primordial continuará a evoluir.
Entretanto, o estudo sobre o último ancestral comum universal abriu novas portas para a ciência, revelando não apenas as raízes da vida em nosso planeta, mas também a incrível complexidade dos organismos que surgiram logo após a Terra se formar. Ao continuarmos a explorar essas origens, talvez descubramos que a vida, em toda sua diversidade, começou muito mais cedo e em mais lugares do que jamais imaginamos.