Artes/cultura
30/10/2024 às 06:00•2 min de leituraAtualizado em 30/10/2024 às 06:00
As montanhas do leste do Uzbequistão, que já foram ponto de passagem para viajantes da famosa Rota da Seda, escondiam duas cidades antigas que agora revelam suas histórias. Ali estavam Tugunbulak e Tashbulak, duas cidades medievais agora reveladas por pesquisadores usando drones equipados com a tecnologia LiDAR — uma técnica de sensoriamento remoto que utiliza feixes de laser para medir distâncias e topografias com precisão.
Localizadas a mais de 2 mil metros de altitude, essas cidades eram importantes núcleos comerciais e culturais da Rota da Seda, rota que conectava o Ocidente à China, promovendo intensas trocas de mercadorias e ideias.
Segundo o professor Michael Frachetti, da Universidade de Washington, e Farhod Maksudov, do Centro Nacional de Arqueologia do Uzbequistão, as descobertas confirmam que, ao contrário do que muitos pensam, as montanhas não eram um obstáculo para a Rota da Seda. Pelo contrário, cidades como Tugunbulak e Tashbulak prosperaram, servindo como centros de interação em alta altitude, onde produtos e tecnologias circulavam a todo vapor.
Tugunbulak e Tashbulak datam de aproximadamente 1.000 anos e floresceram em altitudes que hoje desafiam até pequenas comunidades. A primeira delas, Tugunbulak, cobria impressionantes 120 hectares, algo significativo para a época. “Essas cidades eram centros urbanos essenciais na Ásia Central, não apenas pontos de passagem, mas importantes focos de interação e inovação”, afirma Frachetti. Segundo ele, as montanhas ofereciam recursos preciosos, como minérios, que contribuíam para o desenvolvimento econômico local.
Para Maksudov, a estrutura social dessas cidades montanhosas era distinta da encontrada nas planícies. Tugunbulak, por exemplo, tinha grossas muralhas de terra batida, provavelmente para proteger uma antiga fortaleza e, talvez, uma área de produção de ferro e aço – produtos de grande valor para o período. Essa atividade, além do comércio, parece ter sido o motor econômico da região entre os séculos VI e XI.
O LiDAR, a mesma tecnologia usada para revelar cidades maias ocultas na selva, foi fundamental para mapear essas cidades e identificar contornos de construções, muralhas e espaços públicos que antes pareciam apenas montes no terreno. Os resultados do estudo permitiram recriar modelos 3D das cidades, revelando traços urbanos complexos e uma disposição incomum de edifícios.
Tashbulak, menor que Tugunbulak, serviu como um dos primeiros locais de escavação arqueológica urbana em alta altitude. Curiosamente, Tashbulak não exibia áreas residenciais além das muralhas, o que sugere que seus habitantes poderiam ser nômades, vivendo fora das fortificações no verão, possivelmente em estruturas leves como as tradicionais tendas de pele de animais, as yurts. Isso explicaria a ausência de vestígios fixos de habitações.
Mesmo com desafios de acesso e duras condições climáticas, os arqueólogos acreditam que há mais cidades escondidas nas montanhas da Ásia Central, esperando para serem descobertas. Com o uso do LiDAR e dos drones, que precisam de autorização especial no Uzbequistão, a esperança é que mais segredos sejam desvendados e que a história rica da Rota da Seda nas montanhas ganhe novo fôlego.
“A Rota da Seda não conectava apenas o Oriente e o Ocidente; havia um núcleo complexo na Ásia Central que foi o coração dessa rede, promovendo inovações que ecoam até hoje”, concluiu Frachetti. Com mais expedições planejadas e novas permissões para sobrevoos, o futuro promete ainda mais revelações sobre esses tesouros ocultos nas alturas.