Artes/cultura
06/10/2024 às 15:00•2 min de leituraAtualizado em 17/10/2024 às 17:36
Enquanto grande parte dos países do planeta luta em guerras por uma suposta supremacia genética, uma pesquisa recente revelou que um território no sul da África do Sul permanece, desde o Holoceno, sem ondas de migração, mistura genética ou substituição de linhas. Isso faz dos povos nativos San e Khoi uma das linhagens mais antigas e distintas da Terra.
De acordo com o estudo, publicado na revista Nature Ecology & Evolution, as populações indigenes San, tradicionais caçadores-coletores, e os pastores Khoi podem traçar até hoje grande parte de sua ancestralidade genética diretamente até os seus ancestrais pré-históricos, que habitaram a região há 10 mil anos.
Considerado pelos autores, como "excepcional no registro arqueogenético global", o grau de continuidade genética ao longo de vários milênios foi determinado depois que eles sequenciaram os genomas de nove indivíduos antigos enterrados no sítio arqueológico de Oakhurst, perto da cidade de George, no Cabo Ocidental.
Em um comunicado de imprensa, a coautora Victoria Gibbon, da Universidade da Cidade do Cabo, explica que “O abrigo rochoso de Oakhurst é um local ideal para estudar a história da civilização, pois continha mais de 40 sepulturas humanas e camadas preservadas de artefatos, como ferramentas de pedra, que remontam a 12 mil anos”, afirmou a professora de antropologia biológica.
Datados em 10 mil e 1,3 mil anos, esses corpos de ancestrais de Sans e Khois fornecem o que os autores chamam de "transecto de tempo", uma metáfora da biologia que indica uma amostragem contínua ao longo de um período.
Segundo o estudo, o indivíduo mais velho "mostrou uma composição genética indistinguível dos habitantes posteriores do abrigo rochoso de Oakhurst". Isso significa uma continuidade genética significativa por cerca de nove mil anos.
Enfatizando o caráter único dessas descobertas, o primeiro autor do estudo, Joscha Gretzinger, destacou em um press release que, enquanto na Europa esse tipo de estudo revelou "uma história de mudanças genéticas em larga escala devido a movimentos humanos nos últimos dez mil anos", os resultados obtidos no extremo sul da África sugerem uma longa estabilidade genética.
Essa constância só começou a mudar há cerca de 1,2 mil anos, até de forma abrupta, com a chegada de pastores e agricultores vindos da África Oriental e Ocidental. Essas migrações foram parte de um processo mais amplo conhecido como expansão Bantu, e motivadas principalmente pela expansão agrícola e pastoreio, novas tecnologias e mudanças climáticas.
Embora os modernos grupos San e Khoi derivem pelo menos 9% de sua herança genética de fontes de fora da África do Sul, Namíbia e Botsuana, alguns indivíduos ainda têm sua ancestralidade ligada aos caçadores-coletores da Idade da Pedra Tardia, diz o estudo.