Ciência
11/12/2024 às 06:00•2 min de leituraAtualizado em 11/12/2024 às 06:00
Ao concluir recentemente a temporada de trabalho deste ano no sítio pré-histórico Bahra 1, a Missão Arqueológica Polonesa-Kuwaitiana (KPAM) anunciou uma importante descoberta: uma cabeça de cerâmica representando uma figura humanoide com características reptilianas.
A pequena escultura consiste em um crânio alongado, com nariz achatado, sem boca e olhos estreitos e semicerrados. O estilo é parecido com outra estatueta, já conhecida dos arqueólogos, associada à cultura pré-histórica Ubaid, uma antiga civilização mesopotâmica que floresceu aproximadamente entre 6500 a.C. e 3800 a.C., no Oriente Médio.
Em um comunicado de imprensa, o arqueólogo Piotr Bielinski, da Universidade de Varsóvia, na Polônia, que estudou a peça, explica: "Sua presença levanta questões intrigantes sobre seu propósito e o valor simbólico, ou possivelmente ritualístico, que tinha para as pessoas desta antiga comunidade". A população Ubaid é anterior aos sumérios na Mesopotâmia.
Localizado no atual Kuwait, o sítio de Bahra 1 vem atraindo a atenção dos arqueólogos por ser um dos poucos exemplos de ocupação Ubaid fora da Mesopotâmia. Suas características arquitetônicas únicas incluem uma estrutura descrita como "edifício de culto", considerado surpreendentemente complexo para uma comunidade pré-histórica daquela época.
Uma outra descoberta marcante foi feita no local: uma oficina artesanal, que pode ter servido para fabricar a famosa cerâmica Coarse Red Ware (algo como cerâmica rústica vermelha em português), um conjunto de artefatos muito presentes em culturas arqueológicas (inclusive Ubaid).
São artefatos de argila geralmente feitos à mão, com acabamento simples e destinados a armazenar alimentos ou líquidos no dia a dia. Como essas peças foram encontradas ao lado de restos de trabalhos manuais Ubaid contendo material vegetal embutido na argila, irão permitir a conexão do local com a cultura Ubaid, e também esboçar um painel da ecologia circundante há mais de sete mil anos.
Enquanto desenterravam pratos e potes incrivelmente decorados pelos artesãos da cultura Ubaid, os arqueólogos se depararam com mais exemplos de esculturas com características híbridas entre humanos e serpentes. São as chamadas estatuetas ofídicas, representando figuras femininas estranhamente magras e com cabeças de pássaros ou lagartos.
Feitas de terracota, essas pequenas estátuas, assim como a máscara, têm olhos do tipo “grãos de café” e alguns pontinhos pintados por todo o corpo como se fossem escamas.
Essas estatuetas Ubaid em forma de serpente foram encontradas principalmente em contextos domésticos e funerários. E, apesar de continuar sendo um mistério para os arqueólogos, têm um papel significativo na compreensão do tempo e da relação entre elas e a fascinante cultura pré-histórica.