Artes/cultura
13/11/2024 às 12:00•3 min de leituraAtualizado em 13/11/2024 às 12:00
O "Experimento Proibido" pode até prometer revelar segredos sobre a natureza humana, mas é tão imoral que qualquer comitê de ética moderno entraria em colapso só de ouvir a proposta. No entanto, em tempos antigos, quando a dignidade humana não era uma prioridade, algumas figuras históricas se aventuraram a tentar suas próprias versões desse experimento sombrio.
Basicamente, o experimento consiste em criar uma criança sem as interações sociais fundamentais, como a linguagem. A ideia é entender o que é moldado pela genética e o que é resultado do ambiente. Parece um enredo de filme de ficção científica, mas teoricamente poderia trazer respostas sobre como nossa humanidade se desenvolve. Infelizmente, o custo disso é mais alto do que qualquer resultado que ele possa oferecer.
Uma das variações mais discutidas do "Experimento Proibido" é aquela em que uma criança é criada sem nenhuma exposição a palavras, linguagem ou escrita. Em tese, isso ajudaria a entender se a mente humana possui uma compreensão inata das regras e estruturas da linguagem, ou se aprendemos tudo de maneira espontânea, sem um módulo de gramática embutido no cérebro.
O problema é que, na prática, essas ideias são apenas experimentos mentais. Sim, é interessante refletir sobre isso, mas ninguém em sã consciência ousaria realizá-lo. No entanto, existe um relato histórico surpreendente de uma tentativa de experimento linguístico. Segundo Heródoto, o "Pai da História", o faraó egípcio Psamético I entregou dois recém-nascidos a um pastor, com a ordem estrita de que ele não pronunciasse uma única palavra para eles. Dois anos depois, a primeira palavra que eles falaram foi “becos” — a palavra para “pão” em frígio, uma língua extinta da Anatólia. Psamético concluiu, então, que o frígio era a língua original da humanidade. Curioso, não?
Outro relato igualmente questionável é o do imperador Frederico II , no século 13. Ele teria dado bebês para serem cuidados por enfermeiras mudas e surdas, acreditando que, sem interferência, as crianças falariam hebraico, grego, latim ou alguma outra língua antiga. Mas seu experimento foi um fracasso, pois, segundo relatos, as crianças “não podiam viver sem afeto e gestos”. Esse tipo de experimento só nos mostra o quão essencial é o carinho para o desenvolvimento humano.
Outro tipo de "Experimento Proibido" envolve crianças que cresceram fora da sociedade humana, interagindo apenas com animais. Roger Shattuck escreveu sobre o “Menino Selvagem de Aveyron”, uma criança “feral” encontrada na França do século 19, que virou o tema de seu livro "The Forbidden Experiment".
O psicólogo americano Winthrop Kellogg foi outro que se interessou por essa ideia, inspirado em relatos de crianças supostamente criadas por lobos na Índia, publicados em 1927. Mas, ao invés de criar uma criança com animais, ele teve uma ideia mais leve: ele e sua esposa criaram um chimpanzé, Gua, ao lado de seu filho, Donald. Gua e Donald cresceram juntos como irmãos, e por um tempo o chimpanzé parecia até mais esperto. Gua andava ereta e respondia a comandos, mas, aos 16 meses, Donald começou a falar, deixando Gua para trás. Embora o experimento não tenha rendido descobertas significativas, Kellogg é considerado pioneiro na ciência do comportamento animal.
Para Sandra Swart, professora de História da Universidade de Stellenbosch, esse tipo de experimento é mais uma projeção das próprias questões dos cientistas do que um estudo real sobre a natureza humana. “As grandes perguntas sobre a natureza humana permanecem sem resposta e impossíveis de responder com esses experimentos”, diz ela. Em resumo, o “Experimento Proibido” parece nos dizer muito mais sobre nossa própria curiosidade do que sobre a essência da humanidade.