Artes/cultura
28/08/2014 às 05:56•3 min de leitura
Embora as cobras sejam peçonhentas e um tanto assustadoras, parece que as pessoas estão perdendo um pouco de medo delas. Tem gente fazendo massagem com cascavéis, crianças que dormem agarradinhas com pítons e até doces gigantescos em homenagem a elas. Mas o que todo mundo está esquecendo é que as cobras são animais selvagens muito perigosos.
Se você pensa que as cobras só podem atacar enquanto estão vivas, está muito enganado. Assim como um zumbi sedento por cérebro, elas conseguem fazer isso até 1 hora depois de terem a cabeça separada do resto do corpo.
Acontece que uma vasta quantidade de cobras predatórias é capaz de reagir a estímulos e liberar um poderoso ataque, mesmo tendo partes de seu corpo amputadas uma hora antes. Assustador, não é mesmo?
Em animais de sangue quente, o metabolismo alto é uma grande desvantagem em casos de decapitação – aliás, nenhuma cabeça sobreviveu para contar história. Basta alguns segundos sem oxigênio para que o cérebro de um mamífero pare – o resultado de uma imensa cascata de células que morrem no momento. O mesmo não ocorre com répteis de sangue frio.
O metabolismo lento dos répteis sustenta os órgãos internos por mais tempo do que o dos mamíferos, logo eles morrem de forma muito mais vagarosa. Portanto, cortar fora a cabeça das cobras só faz com que elas fiquem “quase mortas”.
Em seu livro Reptiles: Misunderstood, Mistreated and Mass-Marketed, lançado na década de 90, Clifford Warwik explica que o retorcer do corpo de um réptil decapitado é um reflexo – algo semelhante ao que acontece quando se corta o rabo de uma lagartixa –, portanto a cabeça também vai sobreviver durante algum tempo. E, provavelmente, com muita dor:
“Algumas das diversas maneiras que um réptil pode ser ‘morto’ serão mencionados mais tarde [no livro], mas uma das mais comuns é a decapitação. Em geral, separar rapidamente a cabeça dos corpos de mamíferos e pássaros pode causar a perda de consciência imediata ou muito próxima a isso, acarretando assim em uma morte rápida. Talvez o método não possa ser descrito como ‘humano’, mas o período de vida após o corte da cabeça é muito curto.”
“Embora signifique a morte certa, a decapitação não é o jeito mais rápido ou digno de se matar um réptil. Por mais difícil que seja acreditar, as cabeças cortadas dos répteis conseguem sobreviver, mesmo após o terrível evento da decapitação. Diferente do que a maioria das pessoas pensa, não é o caso dos ‘nervos que fazem com que a cabeça se mexa inconscientemente’.”
“A cabeça – e as partes do pescoço que ainda estiverem ligadas à ela – está viva e pode tentar picar os objetos que tentarem se aproximar. Os olhos podem seguir os movimentos e as pupilas podem se contrair e dilatar em resposta à luz ou escuridão. Além disso, ela pode piscar e, no caso de lagartos e cobras, eles conseguem botar a língua para fora para sentir o odor do ar e até mesmo se mover um pouco, caso ainda tenha uma quantidade suficiente de pescoço.”
“Todavia, ainda que possam se mover, os animais sofrem uma terrível agonia devido à grande quantidade de tecido danificado. Os animais estão indefesos, assustados e vão morrer. Caso pareça muito inconcebível para ser verdade, então basta pensar em um animalzinho que acabou de ter grande parte de seu corpo arrancado. Alguns podem achar que um sofrimento desse tipo não poderia ser suportado durante muito tempo, mas isso não é verdade”.
“Infelizmente, um dos problemas associados ao metabolismo reptiliano é a habilidade de operar com uma quantidade de oxigênio e pressão sanguínea relativamente baixa, portanto o tecido nervoso é muito forte. Logo, o sistema nervoso – o que obviamente inclui o cérebro – pode funcionar durante algum tempo, mesmo estando afastado do resto do corpo.”
“De fato, as atividades da cabeça decapitada mencionadas anteriormente já foram registradas até aproximadamente uma hora depois do ato. Se um réptil deve ser morto por meios físicos (em vez de uma overdose de anestésicos aplicados), então o processo deve envolver uma rápida e completa destruição do cérebro. De outra maneira, ele provavelmente vai sofrer imensamente durante muito tempo antes de morrer”.
Lembre-se que, na hora da morte, as cobras decapitadas continuam sendo tão letais quanto elas eram quando inteiras. Em geral, elas vão tentar se vingar de seus agressores – assim como aconteceu na província de Guangdong, na China. Nessa região, as cobras cuspideiras são um ingrediente popular entre as especiarias locais, entre elas a sopa de cobras.
O chef Peng Fan morreu enquanto preparava esse prato ao ser picado por uma cobra, mesmo após ter cortado sua cabeça havia 20 minutos. Ele não aguentou o veneno e faleceu a caminho do hospital.
Então, fique esperto! Se você encontrar uma cobra no jardim – principalmente uma venenosa – fique fora de seu caminho e chame o centro de controle de zoonoses. Não seja bobo de tentar matá-la. Mas, se não tiver outra opção, ao menos seja breve e poupe o pobre animal de uma hora de sofrimento sem o corpo.