Ciência
27/11/2024 às 18:00•2 min de leituraAtualizado em 27/11/2024 às 18:00
Há alguns anos, não tanto tempo atrás, um artigo científico foi assinado por um gato. E, por incrível que pareça, não era uma piada – ao menos inicialmente.
O caso ocorreu em 1975, quando um professor publicou um artigo no prestigiado periódico Physical Review Letters. Sua inclusão de um gato como coautor foi uma espécie de "protesto" a uma das políticas do periódico e aos desafios de fazer mudanças antes dos dias da tecnologia de processamento de texto.
A ideia ocorreu ao professor Jack Hetherington, um respeitado membro do departamento de física da Universidade Estadual de Michigan, quando escreveu um artigo sobre o comportamento incomum do isótopo hélio-3. Inicialmente ele pensou em submetê-lo ao Physical Review Letters, mas um colega a quem ele mostrou o artigo notou que ele havia usado "nós" em vez de "eu" em todo o texto. Ou seja, ele utilizou o chamado plural majestático em sua escrita.
Alguns periódicos aceitavam esse tipo de redação, mas o Physical Review Letters não. Hetherington então tinha três opções: reescrever todo o artigo, adicionar outro autor ou talvez o enviar para um periódico menos exigente. Pode-se parecer que a escolha mais fácil seria reescrever, trocando o "nós" pelo "eu", mas na época dos anos 1970, em que não havia computadores domésticos e processadores de texto, isso era bem complicado de se fazer.
O físico então escolheu a segunda opção, mas não queria dividir o crédito com um colega que não havia contribuído no estudo. Hetherington teve uma ideia inusitada: dar a coautoria ao seu gato, que certamente nunca disputaria cargos na universidade com ele.
Chester, o gato siamês com quem ele dividia sua casa, era já bem conhecido entre seus colegas de departamento. Por isso, Hetherington resolveu optar por um pseudônimo. O nome do pai de Chester era Willard, então Hetherington usou esse sobrenome para seu coautor e adicionou as iniciais FDC para Felis domesticus Chester.
Tudo isso poderia ter passado despercebido, caso não tivesse ocorrido uma situação: o artigo se popularizou e se tornou muito influente nos estudos da física. Outros acadêmicos começaram a buscar os autores para discutir o tema e até foram ao departamento procurar por Hetherington e Willard.
Como Hetherington não estava, um visitante pediu para falar com Willard. Foi aí que se instalou uma pequena confusão até se descobrir que não existia nenhum FDC Willard na instituição. Por fim, Hetherington acabou confessando que seu gato havia "assinado" o artigo.
Willard/ Chester teve sua história contada muitas vezes e ganhou até uma página na Wikipedia. O mais curioso é que as pessoas ficaram fascinadas pelo caso, que se tornou bastante popular. Tanto que cópias do artigo começaram a circular com o "autógrafo" de uma patinha.
E talvez o mais surpreendente é que os próprios editores do Physical Review Letters adoraram toda a situação e a atenção que receberam. Em 1º de abril de 2014, eles anunciaram que todos os artigos que tinham gatos como autores estariam com acesso aberto no periódico.
Por fim, o reitor da universidade ofereceu a Willard uma posição na instituição, como Professor Distinto Visitante. Mas Hetherington resolveu dar ao felino o título de “Consultor de Predação de Roedores”. A carreira acadêmica de Willard só foi interrompida por sua morte em 1982, aos 14 anos.