Ciência
07/12/2022 às 12:00•2 min de leitura
Um pequeno invertebrado marinho encontrado na China, pode contribuir para que pesquisadores compreendam melhor como foi a evolução dos artrópodes. Isso porque, depois de uma revisão de uma animal já conhecido, pesquisadores da Universidade do Arizona, em parceria com cientistas do King's College London, encontraram o que pode ser o cérebro fossilizado mais antigo do mundo.
O animal, conhecido como Cardiodictyon catenulum, foi descoberto em 1984 na província chinesa de Yunnan. Ele viveu há cerca de 525 milhões de anos, durante o período Cambriano (542 milhões a 488 milhões de anos atrás), e possivelmente é o ancestral que deu origem aos artrópodes — um grupo que inclui insetos, aracnídeos e crustáceos.
Porém, quando o fóssil do animal foi descoberto, o entendimento comum era que os cérebros não fossilizavam. Segundo o neurocientista evolutivo do King's College London e coautor do estudo, Frank Hirth, a equipe que encontrou e catalogou o fóssil nem cogitou tentar encontrar alguma parte do cérebro.
Isso fez com que fossem necessários quase 40 anos para os cientistas percebessem que poderia haver esse material no C. catenulum. O que levou a uma nova análise foram algumas investigações recentes de fósseis semelhantes e datados da mesma época.
Por se tratar de um fóssil com cerca de 1,5 cm de comprimento, não foi possível realizar a radiografia da amostra, como costuma ser feito. Em vez disso, o estudo utilizou uma técnica de contraste, feita a partir de imagens digitalizadas de alta resolução. "Até onde sabemos, este é o cérebro fossilizado mais antigo que conhecemos, até agora", disse o neurobiólogo da Universidade do Arizona em Tucson e autor principal do estudo, Nicholas Strausfeld.
O corpo fossilizado (canto superior esquerdo) e o cérebro fossilizado (canto superior direito) do bicho parecido com um verme. A cor magenta indica a presença de tecido neural preservado. (Fonte: Nicholas Strausfeld/Universidade do Arizona)
Por mais surpreendente que tenha sido encontrar o cérebro antigo, os pesquisadores ficaram mais surpresos com a forma e a estrutura do crânio da criatura. Os artrópodes modernos possuem o corpo segmentado. Está é, inclusive, uma das características utilizada para a definição do grupo.
Porém, o C. catenulum é especial, pois sua cabeça e o seu cérebro não são segmentados — o que significa que não são divididos em várias partes. Apenas o restante do corpo possui essa característica. Isso derrubou mais de um século de compreensão sobre a origem dos artrópodes. A maioria dos fósseis de outros ancestrais desses animais também exibe cabeças e cérebros segmentados.
Os autores do estudo acreditam que isso pode indicar que os cérebros e cabeças segmentados e vistos nos artrópodes modernos, podem ter evoluído separadamente do resto do sistema nervoso, que provavelmente se tornou segmentado primeiro. Mesmo assim, como o cérebro fossilizado do C. catenulum compartilha algumas características-chave com os cérebros de artrópodes modernos, eles acreditam que a estrutura básica do órgão não teve mudanças drásticas nos últimos meio bilhão de anos.