Artes/cultura
16/07/2023 às 06:00•2 min de leitura
Os neandertais (Homo neanderthalensis) eram criaturas muito parecidas com o ser humano. Eles mantinham comportamentos sociais, usavam ferramentas de modo avançado e é possível que tenham até mantido contato com os nossos ancestrais.
Contudo, pouco se sabe sobre a capacidade de fala desses seres. Eles conversavam entre si? Falavam algum idioma específico? É possível que alguma língua moderna tenha origem neandertal?
Ainda não há respostas para todas essas perguntas, mas os pesquisadores estão se esforçando para respondê-las. Um deles, o pesquisador Antônio Benítez-Burraco, linguista da Universidade de Sevilha, na Espanha, acredita que esses indivíduos conseguiam falar — e provavelmente suas falas tinham semelhanças com as de nossos antepassados.
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(Fonte: Getty Images)
A análise feita pelo linguista concluiu que neandertais tinham uma estrutura física que possibilitava a emissão de sons semelhantes aos que nós, humanos, somos capazes de produzir.
“É quase certo que os neandertais falavam línguas muito parecidas com as nossas, mas aparentemente menos complexas estruturalmente e menos flexíveis funcionalmente”, explica Benítez-Burraco em seu artigo.
Além da capacidade vocal, eles também tinham uma capacidade auditiva semelhante à nossa. Isso ajuda a validar a hipótese de que eles eram capazes de manter uma comunicação relativamente complexa.
(Fonte: Hermann Schaaffhausen/Wikimedia Commons)
Ainda assim, a linguagem não é formada apenas por sons. É preciso conseguir estruturar o raciocínio em palavras e frases, o que exige um alto nível de capacidade cognitiva. É esse ponto que dificultaria uma conversa interessante entre humanos e neandertais.
A análise craniana de fósseis dos neandertais concluiu que o cérebro deles tinha uma forma menos “globular”. Isso teria feito com que uma região específica do cérebro desses seres, o tálamo, fosse menos desenvolvida.
“O tálamo é uma região de grande importância funcional e atua como estação de retransmissão para os principais sistemas sensitivos (exceto a via olfatória). Está ainda implicado no controle da motricidade (extrapiramidal), no comportamento emocional e no grau de ativação do córtex”, explica um artigo da Universidade de São Paulo (USP).
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Essa limitação pode, inclusive, ter contribuído para que os neandertais não desenvolvessem tecnologias mais complexas, uma vez que eles teriam dificuldade em memorizar elementos relacionados às atividades de trabalho que desenvolviam.
Por outro lado, os ancestrais da espécie humana eram mais criativos e conseguiam desenvolver um pensamento complexo com base naquilo que observavam no ambiente. Além de ajudar a construir ferramentas, essa capacidade nos ajudou a desenvolver uma linguagem refinada, que consegue comunicar coisas que não são visíveis, como os sentimentos.