Artes/cultura
30/08/2023 às 08:00•2 min de leitura
Você sabia que o glitter, presente em fantasias de carnaval, itens decorativos, e mesmo naquela maquiagem incrível, não raramente é composto por microplásticos não biodegradáveis? Em meio ao aumento da concentração dessas partículas nos rios, mares e oceanos, elas têm conseguido passar até pelo processo de filtragem no tratamento de águas residuais, dado o seu tamanho bastante reduzido.
O problema é que sua presença também está representando um grande perigo para a vida marinha, incluindo as cianobactérias, ou melhor, as algas verde-azuladas. Responsáveis por realizar importantes processos biogeoquímicos nas águas, estudiosos suspeitavam de que a presença de glitter afetaria elas de forma significativa.
Presença de glitter nas águas prejudica o desenvolvimento das cianobactérias, comprova estudo. (Fonte: Getty Images/Reprodução)
Para submeter essa teoria à prova, pesquisadores do Centro de Energia Nuclear na Agricultura da Universidade de São Paulo (CENA/USP), com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), conduziram um estudo ao longo de 21 dias para monitorar quais impactos poderiam ser percebidos.
Para isso, eles escolherem duas linhagens de cianobactérias para avaliar como se daria o seu comportamento na presença de purpurina na água, em diferentes concentrações. Além disso, a cada três dias, eles analisavam as taxas de crescimento desses pequenos seres.
Os resultados apontaram que sim, as duas cepas foram prejudicadas pela presença de glitter na água, de modo que, além de apresentarem redução na taxa de crescimento celular à medida que a concentração do brilho aumentava, elas ainda tiveram aumento do volume biocelular. Este último dano representa redução da capacidade de responder ao estresse, e no caso, prejudica a própria realização da fotossíntese.
Ou seja, se o processo de obtenção de energia é perturbado, a função das cianobactérias também é comprometida, sugerindo que esse impacto deve ser percebido por outros organismos que habitam as águas, ainda que em escalas diferentes. E não é demais apontar que mesmo os seres que vivem na superfície são afetados pela poluição marinha, ainda que indiretamente.
As partículas de glitter, também chamadas de purpurina, possuem um tamanho bastante reduzido, de até 5 milímetros. (Fonte: Getty Images/Reprodução)
Afinal, são grandes os danos do desequilíbrio das águas provocados pela atividade humana, como pode ser observado pela extinção de espécies marinhas, desaparecimento de recifes de corais, redução da atividade pesqueira, além, é claro, da gradativa redução da oferta de água doce e difusão de doenças em meio à contaminação.
Ainda é necessário considerar que a presença de microplásticos no interior dos órgãos humanos já tem sido documentada por meio de diversas pesquisas. Dado o impacto percebido nas cianobactérias, agora não fica difícil imaginar como isso é possível, não é mesmo?
Em 2020, microplásticos foram encontrados pela primeira vez em tecidos humanos. Já em 2022, a presença dessas pequenas partículas foi detectada nos pulmões e no sangue de pessoas vivas. E como são capazes de se fixar na membrana dos glóbulos vermelhos, já afetam a capacidade de transportar oxigênio. Neste ano, essas partículas foram encontradas no interior do coração humano. Ao que tudo indica, tornamos o plástico onipresente.
Vale lembrar que além do glitter, há uma infinidade de outros itens presentes no dia a dia que respondem pelo acúmulo de resíduos plásticos, como itens descartáveis (copos, garrafas e acessórios). E diferente do que muitos imaginam, além de ser ingerido, o contato com as micropartículas pode se dar pela respiração.