Artes/cultura
22/12/2023 às 08:00•2 min de leitura
Você sabia que chimpanzés se lembram do rosto de uma pessoa ou de outro primata mesmo que não o vejam há anos? Pois esta habilidade parece ter sido comprovada em um estudo publicado esta semana pela revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences.
Pesquisadores analisaram 15 chimpanzés e 12 bonobos de zoológicos na Bélgica, Escócia e no Japão. O experimento consistiu em levar computadores perto de onde os animais estavam, mostrando na tela duas imagens lado a lado. Uma delas era a de um macaco desconhecido; a outra, de um antigo companheiro. Para manter sua atenção, o grupo apelou para um estímulo: sucos de frutas para os participantes beberem com canudinho.
Embora o tempo para observar as fotos fosse curto (três segundos), uma tecnologia de rastreamento ocular gravava o olhar dos primatas a fim de verificar se eles priorizariam uma das fotos. E foi isso o que aconteceu: eles se detiveram entre 11% e 14% a mais nas imagens com velhos conhecidos. Portanto, tudo indica que, sim, os chimpanzés se lembram de outros rostos.
Entre os pesquisadores estava Laura Simone Lewis, especialista em psicologia comparada – de modo geral, este é o ramo que visa analisar as diferenças comportamentais entre as espécies. Em 2015, quando ainda era estudante universitária e estava na Carolina do Norte (EUA) para um experimento, ela fez amizade com Kendall, um dos chimpanzés do zoológico. Sempre que ela se aproximava, Kendall pegava em suas mãos e dava uma boa olhada em suas unhas.
Chimpanzés se lembram de rostos mesmo após vários anos, aponta estudo (Fonte: Pexels/Divulgação)
No verão seguinte, Laura foi para a África estudar os babuínos. Quando voltou, meses depois, Kendall a reconheceu e indicou que gostaria de ver suas mãos. Ela ficou intrigada ao perceber a reação de seu amigo e resolveu testar sua teoria: seriam os chimpanzés mesmo capazes de reconhecer rostos?
Segundo Christopher Krupenye, um dos coautores do estudo, a reação dos primatas ao identificar um conhecido nas fotos é quase igual à nossa quando de repente encontramos alguém da nossa infância, por exemplo.
Além de a descoberta reiterar a existência de uma memória de longo prazo, um dado se destacou: os chimpanzés olhavam mais para a foto se ela fosse de algum primata com quem tivessem tido uma relação amigável. Muitos paravam de beber o suco e observavam boquiabertos as imagens.
Ao mesmo tempo, a pesquisa quebrou um tipo de recorde. Isso porque Louise, uma bonobo que fica no Japão, demonstrou reconhecer sua irmã e seu sobrinho mesmo sem tê-los visto nos últimos 26 anos.
Até então, considerando os animais não humanos, eram os golfinhos os donos da melhor memória. Um estudo publicado em 2013 indicou que eles se recordam dos chamados de companheiros com quem não interagem há pelo menos duas décadas.