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19/10/2024 às 06:00•2 min de leituraAtualizado em 19/10/2024 às 06:00
A canábis é uma das drogas mais consumidas no mundo, mas ainda há muitas coisas sobre seus efeitos em nosso organismo que não descobrimos. Recentemente, uma pesquisa publicada na Molecular Psychiatry trouxe novas evidências sobre como o uso da maconha de alta potência pode deixar marcas no nosso DNA. A descoberta, inclusive, pode ajudar a explicar por que algumas pessoas que usam a substância desenvolvem psicose.
Para isso, os pesquisadores analisaram amostras de DNA de 239 pessoas que enfrentaram o primeiro episódio de psicose e 443 indivíduos saudáveis, comparando os efeitos do uso de canábis nos dois grupos. Os resultados mostraram que a droga modifica o DNA de formas distintas em pessoas com histórico de psicose, o que pode ser um indicador valioso para identificar quem está mais vulnerável a desenvolver distúrbios mentais.
Nos últimos anos, o teor de THC, principal composto psicoativo da canábis, tem aumentado consideravelmente. Em locais como o Colorado, nos Estados Unidos, é possível encontrar produtos com até 90% de THC, o que eleva o risco de efeitos adversos para os usuários. Estudos anteriores já apontavam que o uso diário de canábis com mais de 10% de THC aumenta em cinco vezes a probabilidade de desenvolver psicose em comparação com quem nunca usou a substância.
Os sintomas de psicose associados ao uso da droga incluem alucinações, delírios e paranoia, tornando essas experiências muito debilitantes para quem as enfrenta. “A canábis de alta potência representa um risco maior para a saúde mental, especialmente para aqueles que a consomem regularmente”, explicaram os pesquisadores. O estudo sugere que os padrões de alteração no DNA podem ser a chave para entender essa ligação.
Ao analisar o DNA, a pesquisa focou em um processo chamado metilação — que regula a atividade dos genes sem mudar sua estrutura. Os cientistas descobriram que o uso frequente da substância impacta esse processo de forma significativa, principalmente em genes relacionados ao sistema imunológico e à produção de energia.
As alterações epigenéticas — o estudo das alterações nas expressões gênicas — observadas pelos pesquisadores indicam como o uso de canábis pode afetar a expressão dos genes, alterando o funcionamento do organismo. É importante destacar que essas mudanças não podem ser explicadas pelo uso de tabaco, frequentemente misturado à canábis. Esse fato reforça que os efeitos encontrados são realmente consequência do uso da droga.
O estudo sugere que os padrões de metilação do DNA poderiam ser utilizados como biomarcadores para identificar pessoas mais propensas a desenvolver psicose. Se isso for comprovado por estudos posteriores, os investigadores argumentam que será possível criar estratégias de prevenção mais eficazes e informar os usuários sobre práticas de consumo mais seguras.
Compreender melhor como a canábis altera a biologia do corpo pode ajudar a ciência a desenvolver intervenções direcionadas para reduzir os riscos associados ao uso da substância. Com isso, a pesquisa abre um caminho promissor para proteger a saúde mental dos usuários no futuro próximo.