Artes/cultura
03/10/2014 às 04:58•3 min de leitura
A história de Alain Lefevre, interpretado por Van Damme no longa “O Legionário”, retrata a realidade de um homem que precisava desesperadamente apertar o botão “reset” na vida. O método não seria muito complexo: bastava se inscrever na Legião Estrangeira da França.
No filme, Van Damme pega sua segunda chance com as mãos e parte para a África, em defesa de um território francês que está em conflito com uma rebelião árabe. Não é exatamente o melhor recomeço de vida, mas, caso você seja o Van Damme, soa como uma opção melhor do que viver nos escombros de uma vida criminosa.
A Legião Estrangeira, para quem não sabe, é uma instituição que não só existe na vida real, como está na ativa há dois séculos. Atualmente, a força conta com cerca de 7 mil soldados e atua em diversos combates militares, como no controle de territórios franceses.
Fundada em março de 1831 por Luís Filipe, que atuava como rei da França, a Legião Estrangeira tinha o intuito de controlar as colônias francesas na África, tal como na aventura vivida por Van Damme.
Desde seu princípio, a corporação tem uma tradição importantíssima: fornecer uma identidade “falsa” para quem se alista. Junte a possibilidade de ter uma segunda chance com um pagamento mensal para os soldados e tenha em mãos a fórmula perfeita para atrair todo tipo de vilão cinematográfico – foi exatamente o que aconteceu no primeiro século e meio de fundação, segundo dados de 1896.
Com uma mistura incrível da população europeia em sua base de soldados, entre uma maioria de alemães, belgas, austríacos e suíços, grande parte dos integrantes já havia servido no exército e possuía ficha criminal. Hoje em dia, porém, a Legião Estrangeira junta esforços para não permitir a entrada de homens com histórico manchado.
Antes de 1835, poucos anos após sua formação, a Legião Estrangeira não foi agraciada com um batismo de fogo bem-sucedido: batalhas na Argélia e a Guerra Carlista, na Espanha, revelaram uma força mal remunerada e mal equipada. Foi então que a organização passou por uma repaginação severa, sendo dividida em três batalhões e dando continuidade aos incentivos de recrutamento como forma de ganhar uma segunda chance.
As lutas passaram por diversos países e, o mais relevante, marcando presença em diversas guerras: Crimeia, Franco-Prussiana, Indochina e uma culminação na Primeira e Segunda Guerra Mundial.
A Guerra do Paraguai também resultou na formação de uma versão nacional da Legião Estrangeira, nomeada como Corpo de Imperiais Marinheiros e comumente conhecida como Voluntários da Pátria. Na edição verde e amarela, estrangeiros, índios, detentos e escravos dispostos a defender o Império Brasileiro podiam lutar em troca da alforria ou uma carta de recomendação para conseguir emprego.
O serviço existiu até aproximadamente 1894, no início do período militar da República. A expectativa para quem se alistasse era que em três ou quatro anos fosse possível acumular uma boa fortuna. Infelizmente, o retorno da guerra, ainda que vitorioso para os aliados, não foi nada glorioso: o país sofria com uma alta inflação e os soldados ficaram a ver navios, sem ganharem suas recompensas monetárias.
Quem tem interesse em imitar o Jon Snow e vestir o manto preto tem como única opção o serviço à França. Atualmente, a instituição é a única que aceita inscrições estrangeiras.
O que é necessário para fazer parte?
-Seja homem e tenha entre 17 e 40 anos (com permissão dos pais, no caso dos menores de 18)
-Tenha uma identidade válida, como passaporte, RG, CPF ou carteira de motorista
-Tenha sua certidão de nascimento
-Não seja procurado pela Interpol (que pena, Paulo Maluf!)
-Tenha um bom preparo físico para servir o exército durante cinco anos e diversas situações
Tudo relacionado ao perfil dos candidatos é descartado: origem, nacionalidade, religião, grau de educação, posição social, profissão e conhecimento militar são itens que não decidem quem entra ou não para a Legião Estrangeira.
O que esperar durante o teste?
Preparo físico: realizar quatro barras, completar uma corrida de 2,8 quilômetros em 12 minutos e passar por um teste com diversas etapas, conhecido como Luc Leger, entram para a lista.
Passagem com o médico: é bom não ter miopia e hipermetropia graves, com dioptria variando entre um número inferior a -10 e superior a +8. Não será possível ingressar caso você tenha tuberculose, hepatite, HIV, diabete, obesidade, transtornos mentais ou problemas crônicos com hérnias. Ah, outros itens importantes: não devem faltar mais de seis dentes na boca do candidato e também é necessário ter todos os dedos dos pés e das mãos.
Hora de arrumar a mala: leve seus itens básicos, como sabonete, escova e pasta de dentes e toalha. Tenha na mala ao menos três camisetas, pares de meias e cuecas. Deixe seus eletrônicos e seu dinheiro em casa e entre para a organização com uma quantia entre 10 e 50 euros.
Agradecemos o leitor Denis Diniz pela sugestão de pauta! A ideia de adquirir uma identidade nova e virar um mercenário te agrada? Conte nos comentários abaixo!