Arquiteto mistura o kitsch e o brega para levar cor à Bolívia

O arquiteto autodidata Freddy Mamani Silvestre está revolucionando a paisagem de El Alto, na região metropolitana de La Paz, na Bolívia. A cidade, que é uma das maiores do país, possui uma grande maioria de construções de alvenaria sem revestimento, com os tijolos à mostra. Silvestre, porém, está levando cor à região com edificações pra lá de rebuscadas.

El Alto surgiu há cerca de 1 século como uma favela de La Paz e está localizada na periferia – e acima, daí o seu nome –  da capital boliviana. Nos últimos anos, porém, El Alto se tornou a segunda cidade mais populosa do país, perdendo apenas para Santa Cruz de La Sierra. Com isso, os moradores começaram a investir mais em suas casas, abandonando as tradicionais construções sem revestimento.

Essas mansões estão sendo chamadas de “cholets”, que mistura o termo em inglês “chalet”, aqui no Brasil chamados de “chalés”, com “chola”, que é a forma pejorativa para se referir às bolivianas descendentes do povo indígena Aymara. Elas são um símbolo da ascensão política e aquisitiva desse povo.

Arquitetura de contrastes: cholets se destacam na paisagem monocromática de El Alto

Gaudí da Bolívia

Quando Evo Morales assumiu a presidência da Bolívia, em 2005, ele deu uma nova perspectiva de vida ao povo Aymara – ele próprio é um de seus descendentes. Em 10 anos, mais de um terço dessa população indígena saiu da linha da pobreza extrema, podendo se aventurar em novos empreendimentos comerciais e residenciais.

As construções de Freddy Silvestre são um símbolo dessa nova fase: ter uma casa projetada por ele é um sinônimo de status social, e muitos Aymaras pagam verdadeiras fortunas para ter uma “casinha” com a sua assinatura. Cada construção pode custar entre US$ 300 mil e US$ 600 mil, e já existem mais de 60 casas desse tipo em El Alto.

Apesar de ser chamado de kitsch e de brega por muitos críticos renomados, é inegável que Silvestre está dando uma nova cara à apática paisagem de El Alto. Muitos acreditam que ele será capaz de revolucionar a paisagem da região – algo semelhante ao que Antonio Gaudí fez com Barcelona, por exemplo. No futuro, Silvestre pretende projetar praças, pontos de ônibus e ruas, criando uma estética totalmente inovadora e uma cidade com a sua cara.

Confira mais exemplos de "cholets":

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