Ciência
18/07/2023 às 09:00•3 min de leitura
A guerra causa muitos males: morte, destruição... Mas podemos dizer que ela tem um grande benefício, que é a inovação. Muitas invenções que, posteriormente, vão melhorar as vidas dos civis, surgem a partir de iniciativas militares.
Um dos exemplos mais famosos disso é a internet que você está usando para acessar o Mega Curioso. Ela foi criada a partir de redes militares e acadêmicas dos Estados Unidos, no auge da Guerra Fria.
Por outro lado, várias outras inovações interessantes surgem em tempos de paz, inclusive com o objetivos pacifistas. É o caso das seus invenções que destacamos neste artigo. O problema é que esses ideais pacifistas não duraram tanto tempo — e logo essas invenções foram utilizadas na guerra. Algumas com consequências desastrosas.
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Vamos começar com um dos casos mais célebres de criações deturpadas para a guerra. Nosso compatriota Alberto Santos-Dumont é o pai da aviação, realizando o primeiro voo com o 14-bis, em 1906. Depois disso, a aviação se desenvolveu rapidamente e se disseminou pelo mundo.
Desde a 1ª Guerra Mundial, Santos-Dumont se preocupava com o uso dos aviões em guerras e advogava por um uso pacífico de sua invenção. Mas, no início dos anos 1930, ele testemunhou horrorizado aviões bombardeando o estado de São Paulo na Guerra Constitucionalista, entre o governo de Getúlio Vargas e rebeldes paulistas.
Dizem que isso estimulou o suicídio do pai da aviação, em julho de 1932 — mas como Santos-Dumont não deixou uma carta de suicídio, há controvérsias sobre essa afirmação.
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Você sabia que os submarinos modernos são ideia de um catalão? Narcís Monturiol teve essa ideia enquanto vivia numa pequena vila à beira do mar. Ele observava seus vizinhos descerem até o fundo do mar para coletar corais, que decoravam as casas. Quando um dos seus colegas não voltou de uma expedição, ele desenvolveu um aparato para ajudar nos mergulhos.
Na foto acima, você pode ver o primeiro submarino de Monturiol, batizado de Ictineo — mistura entre as palavras gregas para peixe (icthyus) e navio (neus). Depois, o catalão criaria o Ictineo II com um motor a vapor. Mas o investimento em suas invenções levou Monturiol à falência.
Um pacifista, ele não chegou a ver sua invenção sendo usada na guerra, já que o primeiro uso amplo dos submarinos por militares aconteceu na 2ª Guerra Mundial, pela Alemanha.
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Uma organização com todos os países do mundo em prol da paz. Logo depois da 1ª Guerra Mundial, tentaram fazer isso com a Liga das Nações e não deu certo. Tanto que aconteceu a segunda, ainda pior. Depois dela, veio a ONU que a gente conhece até hoje.
Como podemos observar pelas últimas décadas, a organização falha bastante no objetivo de manter a paz. Votações no Conselho de Segurança tem pouco poder de impedir invasões em países — até porque os Estados Unidos e a Rússia (parte da antiga União Soviética) estão nele e vivem invadindo países, sem grandes consequências.
Na verdade, as duas potências já estavam brigando logo após a criação da ONU. A Guerra da Coreia, por exemplo, começaria em 1950 — só cinco anos após o surgimento da organização.
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Se você se surpreende com a ideia de um idioma causando guerras, saiba que isso acontece com grande frequência. Afinal, muitos conflitos surgem por ideais nacionalistas — motivados, entre outros fatores, por diferenças culturais e linguísticas. Pensando nisso, várias propostas para uma língua universal surgiram ao longo da história. O esperanto é a mais famosa delas.
No início da Liga das Nações, citada logo acima, um delegado iraniano sugeriu o esperanto como língua oficial da organização. Não deu certo porque um representante francês votou contra. E sabe quem também não gostava do esperanto? Adolf Hitler, que o via como outra prova da influência judaica pelo mundo, já que seu criador era judeu.
Em anos seguintes, defensores do esperanto foram perseguidos pelos nazistas e por outros governos — como os fascistas espanhóis e os soviéticos. Nesses outros casos, porque viam o idioma como ameaça ao nacionalismo.
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Assim como nosso Santos-Dumont é o pai da aviação, o russo Konstantin Tsiolkovsky é o pai da astronáutica. É interessante observar que ele nunca viajou numa nave espacial, até porque nasceu em 1857 — mas ele criou todas as ideias que tornaram a viagem especial possível, nos seus livros. Ele calculou a velocidade necessária para sair do planeta, por exemplo, muito antes da tecnologia necessária para isso existir.
Ele também previu o chamado "efeito perspectiva": astronautas olhando para nosso planeta lá do alto ficariam maravilhados com sua beleza e com a ausência de fronteiras entre países. Ele acreditava que isso acabaria com as guerras. Não é que observamos nas últimas décadas, né?
Aliás, os satélites não são usados como armas, mas são bastante usados por países em guerra para reconhecimento de áreas inimigas. Tsiolkovsky não gostaria nada disso, apostamos.
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Acredite se quiser, mas as armas nucleares foram criadas com a paz em mente. Muita gente pensava que ter armas tão destrutivas faria os governantes ficarem com medo de entrar em guerras. Mas o presidente dos EUA não teve medo de detonar duas delas no Japão.
Durante a Guerra Fria, o medo de um "apocalipse nuclear" foi real em várias ocasiões — em especial na famigerada Crise dos Mísseis de Cuba. E embora as ogivas nucleares nunca mais tenham sido usadas, as guerras continuaram acontecendo.
Então, a humanidade ainda não testemunhou uma invenção criada para trazer a paz que tenha funcionado totalmente. Continuamos esperando.