Artes/cultura
15/11/2024 às 08:00•3 min de leituraAtualizado em 15/11/2024 às 08:00
Ao longo dos anos, a busca pelas origens humanas trouxe descobertas surpreendentes que moldaram nossa compreensão sobre a evolução. Entre inúmeros fósseis, alguns são tão importantes que receberam apelidos carinhosos e ganharam destaque na cultura popular, como Lucy, cuja descoberta celebra 50 anos.
Esses achados, mesmo que sejam apenas partes de esqueletos, se tornaram personagens icônicos na história da humanidade. Aqui, destacamos cinco fósseis incríveis que abriram caminhos essenciais na antropologia, listados do mais antigo ao mais recente.
Descoberto em 1994 por uma equipe liderada pelo paleoantropólogo Tim White, o fóssil “Ardi” é um dos mais antigos já encontrados, datado de 4,4 milhões de anos. Esse hominídeo foi identificado como Ardipithecus ramidus, e seus ossos revelam um aspecto curioso: Ardi tinha adaptações tanto para caminhar sobre dois pés quanto para escalar árvores.
Seus ossos do pé e a pelve sugerem que ele podia se locomover de maneiras diversas, o que desafia a teoria de que o bipedalismo teria surgido devido ao clima mais seco e à vida nas planícies, onde andar ereto ajudaria a enxergar e se mover com facilidade.
O fóssil foi encontrado em uma região de floresta, o que sugere que os primeiros hominídeos desenvolveram o bipedalismo em ambientes arborizados e não necessariamente nas savanas, como se pensava antes. Ardi trouxe uma nova perspectiva sobre os cenários onde os primeiros passos da humanidade foram dados.
Em uma caverna na África do Sul, conhecida como o “Berço da Humanidade,” o paleoantropólogo Ron Clarke descobriu, em 1994, quatro ossos de um pé que pertenciam a uma espécie antiga de Australopithecus, a quem ele chamou de “Pé Pequeno”.
Apenas três anos depois, enquanto examinava outra caixa de fósseis, Clarke encontrou mais ossos de Pé Pequeno, o que o levou a acreditar que o esqueleto completo poderia estar na caverna. Ele estava certo: 15 anos de escavação revelaram o esqueleto mais completo de Australopithecus já encontrado, datado de 3,67 milhões de anos.
Pé Pequeno é uma peça fundamental para entender a vida e os movimentos dos hominídeos ancestrais. Ele é o representante mais completo de sua espécie e nos deu pistas preciosas sobre as características físicas e o ambiente onde esses antigos hominídeos viveram.
Talvez o fóssil de hominídeo mais famoso do mundo, “Lucy” foi descoberto em 1974 por Donald Johanson e Tom Gray, no deserto de Hadar, na Etiópia. Durante a busca, um fragmento de braço chamou a atenção de Johanson, que logo encontrou mais peças – no final, tinham aproximadamente 40% do esqueleto de Lucy. Em uma celebração com colegas, inspirados pela música “Lucy in the Sky with Diamonds,” dos Beatles, o fóssil ganhou seu nome icônico.
Lucy, uma Australopithecus afarensis de 3,2 milhões de anos, trouxe uma compreensão revolucionária: ela já caminhava ereta, apesar de ter um cérebro pequeno. Essa descoberta mudou nossa visão sobre a evolução humana, provando que a postura ereta surgiu antes do aumento do tamanho do cérebro.
Em 1924, trabalhadores de uma pedreira em Taung, África do Sul, encontraram um crânio que foi levado ao paleoantropólogo Raymond Dart. Ao analisá-lo, Dart percebeu que pertencia a um hominídeo muito antigo, identificando a espécie como Australopithecus africanus e apoiando a teoria de Charles Darwin de que a origem humana era africana. O fóssil, conhecido como “Criança de Taung”, pertence a uma criança de cerca de 3 anos e está datado de 2,8 milhões de anos.
A Criança de Taung trouxe uma nova luz ao estudo dos primeiros hominídeos ao mostrar que essa espécie já era bípede. Em 1995, os paleoantropólogos Lee Berger e Ron Clarke propuseram uma teoria intrigante: as marcas de garras sob as órbitas oculares sugerem que a criança foi possivelmente morta por uma grande ave de rapina. A presença de cascas de ovos e ossos de pequenos animais reforça essa hipótese, lançando uma perspectiva sobre os perigos enfrentados pelos primeiros hominídeos.
Em 1959, Mary e Louis Leakey estavam em escavações na Garganta de Olduvai, na Tanzânia, quando Mary encontrou dentes enormes em um crânio esmagado em mais de 400 pedaços. Após minuciosa reconstrução, o crânio revelou uma mandíbula pesada, dentes gigantes e uma crista sagital – uma linha óssea no topo do crânio que ajuda a fixar os músculos de mastigação, característica também vista em gorilas modernos.
Batizado de Zinjanthropus boisei, ou “Zinj,” mas apelidado pela imprensa como “Nutcracker Man” por sua mandíbula poderosa, o fóssil tem aproximadamente 1,75 milhões de anos. Estudos posteriores o classificaram como Paranthropus boisei, um ramo da árvore genealógica dos hominídeos que não levou diretamente ao Homo sapiens, mas que representava um tipo único de adaptação.