O misterioso "povo dos olhos de lua" das lendas dos indígenas cherokee

18/04/2024 às 12:002 min de leituraAtualizado em 18/04/2024 às 12:00

Se você fosse norte-americano, provavelmente já teria ouvido falar no "povo dos olhos de lua". Eles eram uma "raça misteriosa", de pele pálida e olhos sensíveis, que vivia nas profundezas das florestas dos Apalaches, emergindo apenas sob o brilho do luar. Trata-se de uma lenda antiga dos indígenas cherokee que intriga tanto os curiosos quanto os estudiosos. Mas será que essas histórias são apenas mitos ou existe algo por trás dessa lenda?

O mistério começa quando mergulhamos nas histórias transmitidas pelos cherokee e pelos primeiros colonos europeus. Relatos do século XVIII descrevem encontros com uma raça peculiar, conhecida como o "povo dos olhos de lua" (ou "olhos lunares"). Estes seriam seres humanos, mas com uma aparência e comportamento distintos que os tornavam únicos entre os habitantes das florestas dos Apalaches.

O povo da noite

Anciãos da tribo Cherokee relatam que o
Anciãos do povo cherokee relatam que o "povo com olhos de lua" habitavam a região anteriormente. (Fonte: Getty Images / Reprodução)

Os cherokee, o povo originário dessas terras, compartilharam narrativas sobre um grupo peculiar de seres pequenos, dotados de olhos azuis e pele pálida que habitavam as sombras das florestas. 

Segundo escreveu em 1797 o botânico Benjamin Smith Burton, conforme os relatos dos cherokee, o povo dos olhos de lua habitava cavernas subterrâneas durante o dia — por serem extremamente sensíveis à luz —, mas à noite, tinham sua energia renovada e assim podiam mover-se com destreza pelo ambiente. 

Outras pessoas que tiveram contato com o povo cherokee relataram ter ouvido falar sobre as pessoas com olhos lunares como sendo os residentes originais do local até a chegada dos indígenas, que teriam sido os responsáveis por matar e expulsar esses seres da região.

Uma teoria sugere, inclusive, que esses seres misteriosos podem ter raízes históricas profundas: alguns estudiosos especulam que eles podem ter sido descendentes de colonos europeus que vieram para a América do Norte muito antes de Cristóvão Colombo, ainda no século XII. 

A soma de duas lendas

A escultura do Povo de Olhos de Lua. (Fonte: Strange Carolinas/ Divulgação)
A escultura do povo de olhos de lua. (Fonte: Strange Carolinas / Divulgação)

A lenda de Madoc ab Owain Gwynedd, o príncipe galês que supostamente navegou para o oeste em 1170, é frequentemente ligada ao mito dos povos de olhos de lua. Diz-se que ele e seus seguidores se estabeleceram no Novo Mundo e se misturaram com as tribos nativas, o que poderia sugerir que foram eles os responsáveis pelo surgimento do grupo lendário.

A ligação entre as duas lendas conduz a lugares fascinantes, como o Fort Mountain, na Geórgia, onde os vestígios de uma antiga fortaleza de pedra continuam a intrigar os visitantes. Este muro, com 270 metros de extensão e mais de 2 metros de altura, remonta ao século entre os anos 400 e 500 d.C., sugerindo que teria existido uma civilização habilidosa antes dos cherokee na região.

Descobertas arqueológicas, como esqueletos com armaduras de latão gravadas com brasões galeses, também alimentam especulações sobre a presença desses colonos na região dos Apalaches. 

No entanto, as evidências são fragmentadas e as histórias envoltas em muito mistério, sugerindo também uma possível ligação entre o povo mítico e os construtores de montes da cultura Adena, habitantes pré-históricos da região por volta do ano 500 a.C., ou seja, um período muito mais antigo que os das lendas especuladas até aqui.

No fim, o que se sabe é que não há uma conclusão, por enquanto, sobre a veracidade da lenda, continuando a ser apenas o eco das histórias passadas oralmente pelos membros mais velhos do povo cherokee.

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