Ciência
12/09/2024 às 09:00•2 min de leituraAtualizado em 12/09/2024 às 09:00
Um dos riscos ambientais mais temidos, a bioacumulação de microplásticos em cérebros humanos foi documentada pela primeira vez em um estudo ainda não revisto por pares, conduzido por uma equipe internacional de pesquisa, liderada por cientistas da Universidade do Novo México, nos EUA.
Disponível em uma versão preprint na Biblioteca Nacional de Medicina dos EUA, a pesquisa isolou e quantificou micro e nanoplásticos ambientais (MNPs) em 51 amostras obtidas de homens e mulheres e coletadas durante autópsias de rotina realizadas na cidade de Albuquerque nos EUA. As amostras eram do fígado, rim e cérebro.
Pesquisar partículas em escalas nanométricas nas amostras de tecido é uma missão quase impossível. Por isso, os autores optaram por analisar quimicamente pequenas porções das amostras cerebrais, buscando assinaturas de 12 polímeros plásticos diferentes, entre os quais PVC, poliestireno e polietileno.
Além das análises químicas, os autores também utilizaram microscopia eletrônica de transmissão, que permite visualizar estruturas em escala atômica, mas não identifica quais tipos de plástico estão sendo observados. Dessa forma, a equipe detectou "inúmeras" partículas suspeitas que, pelo seu tamanho e forma, poderiam ser microplásticos.
Nesse levantamento, os pesquisadores se surpreenderam ao flagrar até 30 vezes mais microplásticos nas amostras cerebrais do que nas hepáticas e renais. Um dos motivos para essa discrepância, sugerem os autores, pode ser um fluxo sanguíneo mais elevado para o cérebro, que poderia carregar mais partículas plásticas junto.
Outras hipóteses afirmam que fígados e rins podem estar mais "preparados" para lidar com toxinas e partículas externas. Além disso, o cérebro não renova suas células, como os demais órgãos. No entanto, o dado mais alarmante da análise foi a descoberta que a quantidade de microplásticos nas amostras subiu cerca de 50% entre 2016 e 2024.
Depois de entrar em nossos corpos por meio da água e alimentos contaminados, os microplásticos podem impactar o microbioma intestinal, a comunidade de microrganismos (bactérias, vírus e fungos) que habita e regula nosso trato gastrointestinal.
Possíveis inflamações podem afetar o eixo intestino-cérebro, um sistema de comunicação bidirecional entre trato gastrointestinal e sistema nervoso central, que regula o humor, a digestão e o comportamento. Mas, para entrar efetivamente no cérebro, os microplásticos precisam atravessar a chamada barreira hematoencefálica, que filtra substâncias do sangue potencialmente prejudiciais ao cérebro.
Mesmo com algumas amostras cerebrais de 2024 exibindo quase 0,5% da sua massa em microplásticos, ainda não se sabe o que esses poluentes podem causar ao nosso sistema nervoso central. Por isso, "a melhor coisa que podemos fazer é reduzir nossa exposição aos plásticos o quanto pudermos", reconhecem os autores.