Ciência
13/10/2024 às 09:00•2 min de leituraAtualizado em 13/10/2024 às 09:00
Um recente fóssil achado na Austrália Ocidental está desafiando nossas ideias sobre a evolução dos celacantos. Batizado de Ngamugawi wirngarri, esse peixe, com cerca de 375 milhões de anos, foi descoberto na famosa Formação Gogo, oferecendo uma visão fascinante de um período crítico da história da Terra, quando a tectônica de placas e as extinções em massa moldavam a vida aquática.
O estudo que detalha essa descoberta foi publicado na conceituada revista Nature Communications e revela que a atividade tectônica não apenas influenciou a evolução do celacanto, mas também ajudou a moldar novos habitats que facilitaram o surgimento de novas espécies.
Os celacantos, conhecidos como "fósseis vivos", são peixes de nadadeiras lobadas — tipo de estrutura óssea que se assemelha aos nossos membros — que habitam águas profundas, sendo hoje representados por apenas duas espécies: uma encontrada na costa da África (Latimeria chalumnae) e outra na Indonésia (Latimeria menadoensis).
Durante um bom tempo, a crença era que os celacantos não tinham sobrevivido às diversas extinções em massa do período Devoniano (aproximadamente 416 milhões e 359 milhões de anos atrás), até que as duas espécies de Latimeria foram encontradas no século 20.
Porém, a nova espécie encontrada em Gogo está ligada a um período em que os movimentos das placas tectônicas do período estavam intensificados, criando novas oportunidades evolutivas.
As extinções em massa que ocorreram durante o período Devoniano, que afetaram cerca de 70 a 80% de todas as espécies marinhas, tiveram um impacto profundo na biodiversidade da época. Embora os cientistas ainda não saibam ao certo o que causou essas extinções, acredita-se que mudanças climáticas rápidas, impactos de asteroides e as atividades tectônicas tenham desempenhado papéis significativos.
A Formação Gogo, onde o Ngamugawi foi encontrado, é famosa por ser um dos locais mais ricos em fósseis do mundo. Estima-se que há 380 milhões de anos, essa região era um vibrante recife tropical repleto de diversas espécies de peixes.
O que torna essa descoberta ainda mais fascinante é o que ela revela sobre nossa própria evolução. Os celacantos estão mais intimamente relacionados aos tetrápodes, os vertebrados com braços e pernas, do que a muitos outros peixes.
Isso significa que algumas características da nossa anatomia, como mandíbulas e corações com câmaras, têm raízes que remontam a mais de 350 milhões de anos. De acordo com os autores do estudo, o Ngamugawi wirngarri nos dá uma perspectiva de como era a anatomia inicial que provavelmente levou aos humanos.
Historicamente, pensava-se que os celacantos não tinham evoluído significativamente desde o período Cretáceo, quando desapareceram do registro fóssil, possivelmente devido à extinção em massa provocada por um impacto de asteroide. Contudo, a descoberta de Ngamugawi questiona essa narrativa.
Enquanto os pesquisadores exploram a Formação Gogo, novas evidências podem emergir, esclarecendo tanto a história dos celacantos quanto a evolução da vida na Terra. O estudo dessa espécie promete ampliar nossa compreensão de como as espécies sobrevivem, se adaptam e evoluem diante de grandes mudanças ambientais.