Genoma japonês tem sua origem investigada por estudo inédito

23/10/2024 às 06:002 min de leituraAtualizado em 23/10/2024 às 06:00

Desde os anos 1950, os cientistas acreditavam que a história genética do Japão era bem simples: os povos nativos Jomon teriam se misturado com os imigrantes Yayoi, vindos da Península Coreana, lá por volta de 300 a.C. Mas uma nova pesquisa da Universidade de Tóquio veio bagunçar tudo e trazer uma nova camada para essa história ancestral. 

Segundo o estudo, essa mistura genética é mais complicada do que parece, com a presença de um terceiro grupo misterioso que já andava se misturando por aí antes mesmo de chegar ao arquipélago japonês. O que essa pesquisa revela é que a população atual do Japão é, na verdade, resultado de um "amontoado genético" triplo: Jomon, Yayoi e uma galera do nordeste asiático, que se juntou com os Yayoi antes de pisar no território japonês.

A briga entre os modelos de ancestralidade do Japão

Reconstrução de vila Yayoi mostra passado do Japão. (Fonte: Wikimedia Commons)
Reconstrução de vila Yayoi mostra passado do Japão. (Fonte: Wikimedia Commons)

Em 2021, um estudo realizado por pesquisadores japoneses e irlandeses já tinha sugerido que o DNA dos japoneses modernos vinha de três fontes diferentes: os Jomon, conhecidos pela vida de caçadores-coletores; os Yayoi, que trouxeram a agricultura; e um povo enigmático do nordeste da Ásia. Esse modelo triplo desafiava a teoria anterior, que só levava em conta a mistura entre Jomon e Yayoi. 

Mas mesmo com essa nova visão, ainda havia muitas dúvidas sobre como essas três populações se encontraram e trocaram ideias — ou melhor, genes — ao longo dos séculos. Para os cientistas, entender essas interações é como tentar resolver um quebra-cabeça genético. "As origens demográficas e o impacto das mudanças agrícolas ainda são, em grande parte, desconhecidos", explicava o estudo de 2021. E essa história vai além dos genes, tocando também em tradições agrícolas e na disseminação de línguas, como o proto-japonês, que pode ter se espalhado junto com o cultivo de arroz trazido pelos Yayoi. 

A questão sempre foi se essa expansão cultural estava acompanhada de uma grande troca genética, e agora temos pistas mais claras sobre isso. Então, o que a Universidade de Tóquio fez foi adicionar mais peças ao quebra-cabeça, analisando o DNA de 3.200 japoneses de diversas regiões. Os resultados confirmam a ideia de uma ancestralidade tripla, mas com mais nuances do que o esperado.

Descobertas de DNA e o mistério das origens japonesas

Restos mortais de 2,3 mil anos foram usados para nova análise de DNA japonês. (Fonte: Universidade de Tóquio/Divulgação)
Restos mortais de 2,3 mil anos foram usados para nova análise de DNA japonês. (Fonte: Universidade de Tóquio/Divulgação)

A equipe do estudo não brincou em serviço e foi atrás de uma amostra de DNA bem antiga: uma mulher de 2.300 anos, encontrada em um sítio arqueológico chamado Doigahama, na província de Yamaguchi. Esse lugar já abrigou cerca de 300 pessoas no período Yayoi, e foi lá que o pesquisador Kaneseki Tsuyoshi, nos anos 1950, começou a suspeitar que havia algo diferente na mistura de Jomon e Yayoi.

Com a sequência do DNA dessa mulher, os cientistas usaram modelos genéticos para simular como seria se populações da Coreia, com componentes tanto do leste quanto do nordeste asiático, tivessem migrado para o Japão e se misturado com os Jomon. 

O resultado? O DNA moderno dos japoneses reflete essa mistura complexa, que não aconteceu em um evento isolado, mas em várias fases e de forma entrelaçada. Os pesquisadores agora querem expandir os estudos para mais amostras Yayoi, a fim de entender melhor essa "sopa genética" e esclarecer como 80% dos genes dos japoneses atuais têm raízes imigrantes. 

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