Artes/cultura
21/11/2024 às 17:00•2 min de leituraAtualizado em 21/11/2024 às 17:00
A éfedra, uma droga medicinal utilizada no passado como remédio para asma, e atualmente proibida na maior parte dos países, foi encontrada por pesquisadores em “macrofósseis vegetais excepcionalmente preservados, recuperado de depósitos arqueológicos de aproximadamente 15 mil anos, na Caverna dos Pombos, no Marrocos", diz o estudo.
No local, um dos mais importantes sítios arqueológicos do Paleolítico Superior no norte da África, arqueólogos descobriram, entre 2005 e 2015, esqueletos de vários adultos e crianças sentados ou reclinados na parte de trás da caverna.
Um deles, de um homem adulto de 19 a 20 anos, foi encontrado enterrado ao lado de bens raros, ossos de animais, pedras e restos carbonizados de éfedra. Esse gênero de arbustos nativos de regiões áridas, produz alcaloides, como a efedrina e a pseudoefedrina, ambas utilizadas na medicina e também como inibidores do apetite.
A efedrina já foi usada no passado como um fármaco para tratar resfriados, doenças respiratórias, narcolepsia e obesidade, além de utilizada também para evitar quedas de pressão arterial durante anestesias.
O seu efeito como estimulante do sistema nervoso central na redução do apetite, pois acelera o metabolismo e aumenta o gasto energético, fariam da planta uma campeã de vendas nas farmácias. No entanto, os efeitos colaterais da droga, como aumento da pressão arterial, palpitações, convulsões e até mesmo mortes, determinaram a suspensão de suas vendas.
Mas, antes que alguém tenha ideias de cultivar o arbusto, é bom saber que, além de proibida pela FDA em 2004 (em suplementos dietéticos), a substância é controlada, pois pode ser usada na produção de metanfetamina, uma droga estimulante altamente viciante e ilegal.
Face aos múltiplos usos potenciais da éfedra como medicamento, os autores ficaram intrigados por que o homem teria sido enterrado com restos carbonizados da planta, mas logo teorizaram que o consumo da efedrina “poderia ter sido explorado para fornecer vários benefícios simultaneamente, como mitigar a fome e manter a saúde", escrevem os autores no estudo.
Para comprovar sua tese de que a planta foi usada para fins medicinais, os pesquisadores encontraram vestígios de algumas cirurgias rústicas, como extrações dentárias e trepanação craniana (espécie de craniostomia). Pelas suas propriedades como vasoconstritor, a efedrina pode ter sido usada como medicamento pelos iberomaurusianos.
Embora os autores do atual estudo reconheçam que jamais poderemos entender o que seres humanos que viveram há 15 mil anos pensavam ou sentiam ao consumir a planta, há muitas evidências sugerindo que ela possuía um papel especial nos rituais funerários daquela época.
O estudo foi publicado na revista Nature Scientific Reports.