Ciência
21/11/2024 às 08:00•2 min de leituraAtualizado em 21/11/2024 às 08:00
A produção de carne é tida normalmente como um dos vilões das mudanças climáticas no mundo, pelo seu potencial de desmatamento, emissão de metano, redução da biodiversidade e degradação do solo. Agora, uma pesquisa recente, liderada por Matthew N. Hayek da Universidade de Nova York, quer inverter isso, e usar áreas de pastagens para sequestrar carbono.
Conforme a análise, publicada na revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), pequenas reduções na produção de carne bovina podem resultar em uma remoção de 125 bilhões de toneladas de dióxido de carbono da atmosfera, o equivalente a quase três anos de emissões globais de combustíveis fósseis.
Identificando pastagens em antigas áreas florestais desmatadas, os autores afirmam que, se o gado for removido dessas regiões, os ecossistemas podem não apenas retornar ao seu estado natural de floresta, mas também capturar carbono nas árvores e no solo. Para isso, garantem que bastaria apenas uma redução de cerca de 13% na produção total de carne em países ricos.
Para testar suas hipóteses, os autores utilizaram sensoriamento remoto no mapeamento da produtividade das pastagens, avaliando potenciais benefícios climáticos. A equipe descobriu que uma remoção completa do gado de todas as áreas potencialmente florestais sequestraria impressionantes 445 gigatoneladas de CO2 até o final do século, ou 10 anos de emissões globais atuais.
Só que não é necessário remover todo o gado, pois 50% desse rebanho poderia continuar pastando em áreas nativas e secas, onde florestas e plantações não crescem facilmente.
“Mesmo que duas áreas diferentes possam regenerar a mesma quantidade de carbono em árvores, agora podemos saber quanta pastagem, portanto, produção de carne bovina, teríamos que perder em cada área para cultivar essas árvores novamente”, explica o coautor Johannes Piipponen, da Universidade Aalto da Finlândia, em um comunicado.
Para os autores, a regeneração florestal poderia ocorrer naturalmente em alguns países, ou por meio de plantio de árvores nativas em ambientes mais degradados, para acelerar o processo.
Quanto ao fato de impactar países de renda alta e média-alta, eles sugerem que a perda dessa produção de carne bovina seja compensada por melhorias no manejo do gado na África Subsaariana e no Brasil, ou seja, uma relação ganha-ganha, sem comprometer a produção alimentar global.
Hayek sabe que o crescimento do ecossistema não substitui os esforços para reduzir as emissões de combustíveis fósseis, mas entende que as descobertas atuais podem dar algumas pistas para novas políticas de mitigação climática e segurança alimentar.