Estilo de vida
16/10/2018 às 02:00•4 min de leitura
Se você acompanha as notícias sobre o que rola no espaço, então você deve ter ouvido falar a respeito de um sinal (potencialmente) alienígena capturado há alguns anos e e que deixou os astrônomos atônitos. Caso você não saiba sobre o que estamos falando, o tal sinal bateu a marca dos 11 GHz — o que significa que ele era expressivamente forte — e foi detectado em maio do ano passado pelo radiotelescópio RATAN-500, situado na Rússia.
Em um primeiro momento, os astrônomos pensaram que o sinal estava sendo emitido a partir de uma estrela chamada HD 164595, localizada na Constelação de Hércules, a cerca de 94 anos-luz de distância de nós. Essa estrela, por sinal, é apenas 100 milhões de anos mais jovem que o nosso Sol, possui uma temperatura semelhante à dele e inclusive apresenta uma composição parecida com a do nosso astro-rei. A descoberta se mostrava muito promissora!
O mais excitante a respeito da coisa toda foi que, como a força do sinal era comparável ao de um televisor digital, logo começaram a circular hipóteses sobre o que poderia ser a sua fonte. E é claro que no topo da lista apareceu a possibilidade de que uma civilização do Tipo II na Escala de Kardashev — ou seja, bem mais avançada do que a nossa e capaz de usar a energia disponível em seu planeta e em sua estrela — estivesse por trás de tudo.
Vasculhando os céus
Como esperado, aconteceu uma enorme mobilização entre os astrônomos do mundo, e até o pessoal do SETI — o maior projeto no mundo focado na busca de inteligência extraterrestre — entrou na brincadeira! Não obstante, míseros dias após o anúncio sobre a descoberta, cientistas russos revelaram que, durante uma nova checagem, eles notaram que a perturbação aparentemente havia sido provocada por algo bem mais terreno.
Segundo os russos, o sinal parece ter sido emitido por um satélite militar soviético que não se encontrava catalogado em nenhuma lista de objetos celestes que estão em órbita ao redor da Terra — por isso ele era tão forte. Bem, na verdade, ao mesmo tempo que foi maravilhoso ver todo o mundo mobilizado para descobrir algo fantástico, incluindo o próprio SETI, a explicação dos russos caiu como um verdadeiro balde de água fria para a comunidade científica.
Mas você sabe como os astrônomos fazem para buscar sinais de vida inteligente pelo Universo? Conforme mencionamos anteriormente, o SETI — da sigla Search for Extraterrestrial Intelligence ou Busca de Inteligência Extraterrestre em tradução livre — consiste no maior projeto em andamento focado em detectar a existência de seres alienígenas e conta com uma equipe composta por astrônomos (claro!), engenheiros, professores, cientistas e uma porção de outros profissionais.
Vasculhando os céus
Basicamente, as buscas podem ser divididas em duas categorias. A primeira é focada na descoberta de formas de vida no sentido mais amplo, ou seja, incluindo micróbios e outros organismos simples. Nesse caso, na falta de uma civilização propriamente dita e, portanto, de tecnologia, essas formas de vida são incapazes de produzir sinais que possam viajar pela galáxia — e ser detectados por nós.
No entanto, o pessoal do SETI está atrás da segunda categoria, ou seja, na detecção de seres capazes de transmitir sinais ópticos ou de rádio que possam viajar pelo espaço — e revelar a existência de civilizações alienígenas altamente avançadas. De acordo com o que o time acredita, considerando que a vida na Terra surgiu cerca de 100 milhões de anos após o planeta se tornar habitável, é possível que, dadas as condições ideais, o mesmo possa ter acontecido em outros mundos.
De acordo com o SETI, existem três formas de encontrar vida em outros planetas: indo até o planeta, estudando o planeta a distância mesmo ou buscando transmissões. No momento, a primeira só é viável para planetas do nosso Sistema Solar, para os quais podemos enviar sondas e outros instrumentos.
Telescópio espacial Hubble
A segunda forma é mais abrangente e consiste em analisar características como a composição atmosférica e a luz emitida pelos planetas, incluindo aqueles que se encontram em outros sistemas solares — e é algo que já vem sendo realizado por equipamentos como o telescópio espacial Hubble da NASA.
O SETI se dedica principalmente à terceira forma, que seria rastrear o espaço em busca de sinais específicos de rádio que indiquem que eles foram produzidos por uma fonte artificial. O instituto também foca na tentativa de detectar sinais luminosos — mesmo que superbreves — emitidos por planetas distantes.
O explorador espacial Curiosity
No caso de um sinal interessante ser descoberto, a primeira coisa a fazer seria verificar se ele realmente veio do espaço — e não de uma fonte aqui da Terra mesmo! Para isso, os astrônomos do SETI devem confirmar a procedência da perturbação por meio de mais de um radiotelescópio e, depois, empregar outros instrumentos para garantir, sem qualquer sombra de dúvidas, que se trata de um sinal extraterrestre.
Por certo: se algum dia a confirmação finalmente acontecer, o SETI prometeu que anunciará a novidade o mais rápido possível e para os quatro cantos do mundo, de forma que todos os astrônomos e cientistas possam monitorar o sinal e participar da descoberta.
Segundo o pessoal do SETI, os terráqueos vêm transmitindo sinais ao espaço desde que a comunicação por meio do rádio se tornou mais comum, isso na época da Segunda Guerra Mundial. Sendo assim, o instituto busca mensagens que tenham sido enviadas ao Cosmos intencionalmente, especialmente por sinais que tenham sido transmitidos de um planeta a outro e que se encontrem no campo de “visão” da Terra.
Vasculhando os céus
Caso uma dessas mensagens seja capturada por nós algum dia, os cientistas do SETI acreditam que seria possível descobrir uma porção de coisas sobre quem a enviou. Os astrônomos conseguiriam, por exemplo, determinar de onde ela partiu, enquanto variações no sinal poderiam indicar a forma como o planeta se comporta. No entanto, o mais legal é que, se eles realmente cruzarem com esses sinais algum dia, eles finalmente poderão provar que não estamos sozinhos no Universo.
Com os equipamentos dos quais dispomos atualmente, é pouco provável que ETs e terráqueos possam travar conversas muito animadas, especialmente se os alienígenas habitarem um mundo muito distante do Sol. Isso porque, considerando que sejamos capazes de decodificar as mensagens, as transmissões levarão um tempo enorme para ir de um mundo a outro!
Vasculhando os céus
Para você ter uma ideia, a estrela mais próxima da nossa, a Alpha Centauri, se encontra a pouco mais de 4 anos-luz de distância — o equivalente a “ali na esquina” em termos astronômicos. Pois se começássemos a bater papo com um alien habitando algum planeta de lá, cada transmissão levaria mais de oito anos para viajar de um mundo a outro. Já pensou? Seria a conversa mais monótona do Universo!
*Publicado em 2/9/2016