Artes/cultura
30/06/2015 às 10:43•3 min de leitura
Já faz alguns anos que agências espaciais e companhias privadas vêm considerando a possibilidade de enviar missões tripuladas a Marte. Entretanto, apesar de já estarmos desenvolvendo os recursos necessários para mandar seres humanos até o Planeta Vermelho, a viagem apresentará uma enorme quantidade de desafios e perigos à tripulação. Portanto, nada mais normal do que tentar preparar os futuros colonizadores da melhor maneira possível. Mas como fazer isso?
De acordo com John Schellhase do site All That is Interesting, uma forma de preparar as pessoas para a viagem a Marte é mandá-las para passar uma temporada na Base Concordia, localizada na Antártida. A base é administrada pela Itália e pela França, fica no topo de uma montanha de mais de 3 mil metros de altura localizada no meio do continente, e normalmente abriga uma dúzia de cientistas durante o inverno.
Como você sabe, Marte não é um planeta especialmente acolhedor para os seres humanos. O ambiente por lá é completamente diferente ao da Terra, e as temperaturas do planeta rondam os – 27° C na altura do equador marciano — caindo para – 140° C nos polos. Além disso, sua atmosfera é muito menos densa do que a nossa, o que significa que não é possível encontrar água em sua forma líquida na superfície.
Por sua vez, conforme explicamos em uma matéria sobre a Antártida aqui no Mega Curioso, o continente é considerado o maior deserto da Terra — com uma precipitação de apenas 10 centímetros por ano —, e em alguns pontos do território não foi registrado qualquer tipo de precipitação na forma de neve ou chuva nos últimos 2 milhões de anos.
Além disso, outros fatores que fazem da Antártida um local ideal para que os terráqueos contemplem como poderia ser a vida em outros planetas são os céus frequentemente desprovidos de nuvens, seu isolamento, suas condições climáticas extremas e os períodos durante os quais o continente fica no escuro — já que o Sol desaparece durante três meses do ano!
Segundo John, para chegar até a base, os viajantes devem voar da Tasmânia ou Nova Zelândia até um dos portos que ficam na costa da Antártida. De lá, é possível pegar um bimotor — especialmente projetado para o clima gélido e ar rarefeito — para cobrir os mais de 1,1 mil quilômetros até a Base Concordia. Alternativamente, quem preferir pode encarar uma expedição de 10 a 12 dias através das planícies congeladas.
Além disso, é importante ter em mente que é impossível viajar pelo interior da Antártida entre os meses de fevereiro e novembro, o que significa que, durante esse período a Base Concordia fica isolada. Para não dizer que não há ninguém por perto, a base mais próxima é a Vostok, dos russos, a mais de 600 quilômetros de distância. Portanto, não é a toa que os cientistas brincam que a Base Espacial Internacional recebe mais visitantes do que a Concordia!
Aurora boreal sobre a Base Concordia
De acordo com John, a maioria dos cientistas que se encontram na base está conduzindo experimentos voltados para futuras missões a Marte. Um deles, por exemplo, é um sistema de reciclagem de água que um dia poderá ser instalado em uma das colônias no Planeta Vermelho, mas boa parte dos estudos está focada em avaliar o que acontece com as pessoas que vivem isoladas em condições extremas.
Assim, os cientistas que passam o inverno na Base Concordia realizam pesquisas para descobrir como seus corpos reagem após tantos meses de privação à luz solar, e para determinar como suas mentes lidam com tamanho isolamento. Eles ainda fazem testes para medir como os exercícios físicos e a exposição à luz artificial afetam seus estados de humor, e gravam vídeos relatando suas experiências que são avaliados por psicólogos.
Pois, conforme mencionamos anteriormente, na Antártida, o Sol desaparece do céu durante três meses do ano. Essa característica oferece a oportunidade perfeita para que os cientistas possam estudar como os humanos reagem com respeito a ambientes estranhos, tanto individualmente como em grupo. Afinal, as pessoas “presas” na Base não têm outra opção além de aprender a conviver — e aguentar — a companhia de estranhos.
E sabe quais são as principais reclamações dos cientistas? O tédio e a insônia. Segundo John, muitos dos cientistas sofrem com os dois problemas, além de confessar que a monotonia sensorial — provocada pela privação de sons, sensações e escassez de elementos visuais — não é nada fácil de contornar.