Ciência
10/07/2017 às 09:03•2 min de leitura
Como você deve saber, entre todas as coisas que os cientistas esperam descobrir sobre Marte é se o nosso vizinho algum dia já abrigou — ou se ainda abriga — formas de vida. No entanto, de acordo com um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Edimburgo, na Escócia, se for para encontrarmos algum organismo por lá, só se for debaixo da superfície inóspita do Planeta Vermelho.
Os pesquisadores descobriram que o solo marciano contém uma combinação de elementos que funciona como um potente bactericida que evita que organismos — pelo menos como os que existem aqui na Terra — possam se proliferar pelo terreno. Segundo os cientistas, o Planeta Vermelho é rico em percloratos, que são sais derivados do ácido perclórico, e quando esses compostos interagem com a radiação ultravioleta, eles dão origem a agentes que basicamente esterilizam as camadas mais externas da superfície de Marte.
Para chegar a essa conclusão, os cientistas recriaram as condições do solo marciano em laboratório. Eles descobriram que a combinação de percloratos com a radiação que banha a superfície do planeta é capaz de aniquilar bactérias da espécie Bacillus subtilis, um tipo de microrganismo bastante comum em rochas e solos terrestres e que com frequência pode ser encontrado como contaminante em sondas espaciais e outros equipamentos enviados da Terra ao espaço.
Ambiente pouco acolhedor
Ao expor essas bactérias à alta concentração de percloratos e às condições presentes em Marte, os cientistas descobriram que esses organismos morriam muito mais depressa do que aqui no nosso planeta. O interessante é que, enquanto os sais são ativados na Terra pelo calor, na fria superfície do Planeta Vermelho quem faz esse trabalho é a radiação que atravessa a fina atmosfera e atinge o nosso vizinho.
Os cientistas também observaram que quando outros compostos comuns na superfície de Marte — como o peróxido de hidrogênio e os óxidos de ferro, que dão a coloração avermelhada ao planeta — eram adicionados ao “coquetel bactericida”, os percloratos se tornavam ainda mais letais.
Segundo os cientistas, a descoberta tem várias implicações importantes, e uma delas se refere ao risco de contaminação de outros mundos com organismos alienígenas. Pelo menos em Marte, as bactérias que pegam carona com os dispositivos terráqueos enviados até lá são aniquiladas pouco depois de chegar ao Planeta Vermelho, portanto, o perigo é pequeno.
Risco baixo de contaminação alienígena
No entanto, isso representa um problema para os humanos que pretendam colonizar o planeta algum dia, já que a descoberta sugere que a superfície marciana é ainda mais inóspita do que se pensava. Ao mesmo tempo, essa questão representa algo positivo, uma vez que o risco de que astronautas sejam infectados com algum organismo marciano também é bastante baixo.
Outra implicação da descoberta é que, para encontrar vestígios de vida em Marte, a melhor abordagem talvez seja buscar sob a superfície — entre dois e três metros de profundidade ou mais, onde possíveis organismos poderiam se encontrar protegidos da intensa radiação. O estudo ainda sugere que, inclusive para encontrar registros biológicos do passado, a melhor opção possivelmente seja cavoucar o solo marciano.
Afinal, existem fortes evidências de que antes de se tornar o planeta seco, poeirento e pouco acolhedor que ele é hoje, Marte contava com temperaturas amenas, uma atmosfera protetora e água em sua forma líquida na superfície. Portanto, é por dessas razões que a suspeita de que o Planeta Vermelho também possa ter abrigado formas de vida é alta.