Estilo de vida
14/06/2019 às 13:00•2 min de leitura
Sabe aquela história de que devemos ouvir nosso coração? Talvez esteja na hora de você começar a fazer isso e, não, não estamos falando de sentimentos amorosos, mas dos seus batimentos cardíacos mesmo. A verdade é que prestar atenção nas batidas que seu coração dá é um exercício que faz com que você consiga perceber melhor as emoções das pessoas à sua volta.
O ato de notar o pulsar do coração dentro do peito é chamado de interocepção, que alguns cientistas acreditam ser a forma de interpretar nosso corpo e, a partir daí, gerar emoções. É a interocepção que explica por que percebemos que ficamos com medo de um cachorro latindo pela rua, por exemplo, quando sentimos nosso coração disparar e vemos que estamos suando.
Se a interoceptividade nos ajuda a compreender nossas emoções, a falta dela é capaz de dificultar essa nossa interpretação do que sentimos. Uma boa interocepção nos dá o poder de não apenas entender nossas próprias emoções, mas também compreender melhor os outros seres humanos e, inclusive, “adivinhar” o que eles podem estar pensando.
Essa coisa de adivinhação por meio da interoceptividade é chamada de teoria da mente. Uma pesquisa conduzida por Geoff Bird, da Universidade de Oxford, pediu para que 72 pessoas voluntárias contassem seus batimentos cardíacos sem utilizar os dedos, só pela interocepção.
Durante o experimento, os participantes viram diversos vídeos que mostravam interações sociais e responderam a perguntas de múltipla escolha que visavam analisar se eles tinham a capacidade de compreender os estados mentais dos personagens.
Em um dos vídeos, um homem tentava paquerar uma moça que estava interessada em outro rapaz. Sobre essa cena, os participantes que conseguiram contar melhor seus próprios batimentos cardíacos conseguiram responder se a moça em questão havia ficado ou não irritada com a situação. De acordo com Bird, esses participantes que tiveram pontuações mais altas são mais empáticos.
Os testes mostraram, ainda, que nossa capacidade de sentir com clareza nossas próprias emoções só nos faz entender as emoções alheias quando elas são claras também, e não quando são muito específicas ou detalhadas. Os participantes não conseguiram dizer, por exemplo, o que o rapaz por quem a moça tinha interesse pensava da aproximação do outro homem.
Ainda que tudo isso pareça maluquice demais – e o que é que não parece, quando o assunto envolve o comportamento humano? –, esse tipo de estudo é interessante para observarmos que nossas habilidades de percepção trabalham de formas diferentes conforme a situação emocional muda também.
É por isso que outros vieses de estudo, como o sugerido por Anil Seth, da Universidade de Sussex, sugerem que a interoceptividade deveria focar também na respiração.
A falta de reconhecimento interoceptivo, segundo Bird, tem íntima relação com o desenvolvimento dos sintomas de condições como o autismo e a esquizofrenia – alguns autistas, por exemplo, se sentem muito incomodados com sons e luzes, que são itens ligados à nossa interocepção e que, portanto, têm o poder de acelerar nossos batimentos cardíacos e de alterar nossos níveis de excitação.
Bird afirma que esses estudos ainda são puramente teóricos e que a equipe gostaria de pesquisar mais a fundo se a melhora da interoceptividade pode realmente fazer com que uma pessoa tenha mais empatia. De qualquer forma, é interessante imaginar que, com algum tipo de treinamento de autopercepção, talvez um dia consigamos entender melhor a realidade do outro, você não acha?
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