Ciência
14/10/2018 às 02:00•2 min de leitura
De repente duas pessoas se conhecem, rola aquele interesse mútuo, elas conversam, trocam mensagem, saem juntas, ficam algumas vezes e quando a coisa parece que vai deslanchar e se tornar o início do namoro, um dos dois simplesmente some, não liga mais e tudo acaba. Esse comportamento é bastante típico em pessoas que têm medo de relacionamentos, e está na hora de entendermos por que isso acontece.
Esse tipo de comportamento é intrigante justamente por que seres humanos são sempre motivados a procurar amor, especialmente o amor romântico, e fugir dele é algo que nos causa estranhamento.
Ainda assim, a verdade é que todas as pessoas têm algum nível de medo do amor, e isso se deve às experiências particulares de cada um de nós. É preciso entender que, no que diz respeito ao amor, há sempre uma dualidade, como bem observou o psicólogo Robert Firestone ao dizer que “a maioria das pessoas tem medo da intimidade e, ao mesmo tempo, tem medo de ficar sozinha”. É justamente esse medo que causa essa resistência emocional em alguns indivíduos.
Por isso tem muita gente que só demonstra interesse por uma pessoa depois de ser desprezada por ela ou que fica muito a fim quando a coisa é platônica, e se a situação passa a ser recíproca, o interesse acaba. Por outro lado, existe o medo que as pessoas que estão em relacionamentos sérios sentem: o medo de perder o parceiro, o medo de se sentir rejeitado e por aí vai.
A maioria das pessoas se identifica com um desses dois tipos de medo, com muita preocupação por estar ou não em um relacionamento, e isso geralmente é resultado do que já vivenciamos nesse aspecto. Se temos medo do abandono da pessoa amada ou de ficar com alguém e perder a liberdade, acabamos nos comportando, muitas vezes sem consciência disso, de maneira a sabotar toda tentativa de relacionamento.
É fundamental reconhecer e buscar entender quais são nossos medos em relação ao amor romântico, para poder alterar padrões de comportamento. Isso envolve analisar o quanto do medo em relacionamentos atuais tem a ver com relacionamentos passados – até mesmo as relações com pais, irmãos e pessoas que fazem parte da nossa infância acabam moldando o que buscamos quando adultos.
É na infância que aprendemos como seres humanos se relacionam, e a partir do que vemos e vivemos, criamos expectativas próprias. É por isso que crianças que vivem em ambientes hostis podem ter dificuldades em relacionamentos futuros, inclusive no que diz respeito à confiança, com medo de depender de alguém ou de se tornar responsável por outra pessoa.
Quando os pais não se importam com a criança, o que infelizmente acontece, é possível que ela cresça desenvolvendo o padrão evasivo, agindo como se não precisasse da atenção dos outros e fugindo quando essa atenção aparece.
É importante entendermos que as experiências emocionais que vivemos na infância são realmente definidoras, e isso vale também para que consigamos entender as pessoas do nosso convívio. Sentimentos de rejeição e frustração, quando vividos intensamente na infância e especialmente quando provocados por nossos cuidadores, geralmente desencadeiam traumas e moldam nossos comportamentos futuros.
Em alguns casos, as crianças crescem com um padrão de apego ansioso, quando suas necessidades emotivas eram atendidas, mas nem sempre elas conseguiam entender as atitudes de seus pais ou eles agiam de maneira intrusa e sufocante. É o que acontece quando os pais demandam mais atenção da criança do que dedicam a ela.
Muitas vezes, quando as crianças se sentem cuidadoras de seus pais, elas acabam crescendo ansiosas, preocupadas em ter suas necessidades atendidas pelos futuros parceiros, desencadeando também sensações de posse.
Saber do poder que o ambiente familiar tem na formação emocional de uma criança é fundamental para que esses padrões negativos possam ser quebrados e, assim, buscar novas formas de relacionamentos. Em alguns casos, a terapia psicológica pode ser uma grande ajuda.
*Publicado em 29/6/2017