Ciência
12/04/2014 às 03:53•2 min de leitura
As bactérias estão presentes em lugares que nem sequer imaginamos – e isso inclui o espaço. Então, pensando na saúde dos astronautas, anteriormente a NASA enviou bactérias causadoras de doenças (devidamente isoladas, é claro) em missões espaciais. Como a vida no espaço enfraquece o sistema imunológico e aumenta o risco do surgimento de doenças era importante entender os riscos.
Para nosso azar, esses estudos revelaram que tais bactérias se desenvolvem especialmente bem mesmo fora de seu ambiente de origem. Em 2007, descobriu-se que a Salmonella – que costuma ser associada à intoxicação alimentar – se torna ainda mais virulenta quando cultivada na Estação Espacial Internacional (EEI). Quando as amostras do micro-organismo retornaram para a Terra e foram injetadas em ratos, eles rapidamente ficaram muito doentes e sucumbiram em menos tempo.
No ano passado, os pesquisadores descobriram que a Pseudomonas aeruginosa – bactéria comum que causa infecções – se desenvolveu mais rapidamente e formou aglomerações mais espessas de células, o que chamado “biofilme”. Esses biofilmes também apresentaram uma bizarra estrutura de “colunas e coberturas” que não se forma na Terra. Além disso, bactérias como E. coli e Staphylococcus também se desenvolveram melhor no espaço.
Fonte da imagem: Shutterstock
A partir dessas observações, os pesquisadores se perguntaram: mas por que a gravidade faz diferença em organismos unicelulares que sequer tem cabeça ou pé? Então eles chegaram à conclusão de que o segredo está na maneira como a água e os alimentos são transportados para dentro e para fora da célula.
Em geral, essa troca se dá por meio de convecção, que é um processo afetado pela gravidade. Em um ambiente em que não há gravidade, a hidratação e a alimentação precisam acontecer de maneira diferente e é esse o ponto que os cientistas acreditam que favorece os micro-organismos.
“Se você é um micróbio, isso significa que o produto de suas atividades metabólicas e tudo o que você respira e come precisa circular por difusão. O mecanismo de transporte é diferente”, explic Russell Neches, do Projeto MERCCURI. As aglomerações em biofilmes reduzem a área da superfície, então o formato também pode afetar a maneira com que as substâncias entram e saem das células.
Preparação das amostras de micróbios que serão levadas para o espaço. Fonte da imagem: Reprodução/Project MERCCURI
Hoje, a Estação Espacial Internacional serve de lar para seis astronautas e bilhões de bactérias. Os cientistas sabem que os micróbios sempre nos acompanharam para todos os lugares, mas a partir de agora a NASA resolveu retomar as investigações sobre o que acontece quando levamos micro-organismos da Terra para o espaço.
A maior parte deles consegue chegar lá dentro ou fora do corpo dos astronautas. Mas a próxima missão não tripulada para enviar suprimentos à EEI, que deve acontecer na próxima segunda (14), levará também uma carga microbiótica especialmente para o Projeto MERCCURI.
O lote inclui 48 micróbios diferentes que foram coletados em estádios, banheiros e até mesmo de espaçonaves que já voltaram de suas missões. Ao retornar para a Terra, essas amostras serão comparadas com conjuntos de micróbios que serão cultivados por aqui. A segunda fase do projeto consiste em analisar amostras retiradas diretamente de dentro da EEI para determinar o microbioma da estação espacial.
O MERCCURI é um projeto de financiamento coletivo, mas a NASA também já apontou seu interesse em estudar seu “observatório microbiótico”, conforme apontou Mark Otto, microbiólogo sênior do Johnson Space Center, e começou a trabalhar em simuladores de microgravidade para poder estudar as bactérias do espaço sem sair da Terra.