Artes/cultura
19/08/2019 às 05:00•5 min de leitura
Graças ao Harry Potter, a imagem das bruxas e bruxos do século XXI anda muito mais tranquila e suave. Mas não pense que sempre foi assim. Se hoje em dia ser um mago é sinônimo de estudar em uma escola bacana situada em algum local remoto de Londres, beber cerveja amanteigada em Hogsmeade e participar de partidas de quadribol, no século XVII as coisas eram muito mais tenebrosas.
Em Salem, Massachusetts, no ano de 1692, ocorreram os últimos julgamentos por bruxaria. Neles, cerca de 150 pessoas foram presas e pelo menos 20 foram mortas, sendo a maioria delas mulheres. Os assassinatos eram realizados com requintes de crueldade, queima em fogueiras, afogamentos, enforcamentos etc.
Ficou com medo? A seguir, você descobre se você seria acusado ou condenado por bruxaria segundo as leis do Julgamento das Bruxas de Salem.
Não importa a idade, o tamanho, a cor ou a crença, se você é uma garota, então provavelmente também é uma das muitas noivas do capeta. Desde o período medieval, o aspecto feminino tem sido associado à bruxaria. Durante centenas de anos, as pessoas acreditaram que as mulheres fossem mais suscetíveis ao pecado do que os homens e, obviamente, o pecado é uma clara indicação do culto ao demônio.
Em Salem, 13 mulheres e cinco homens foram condenados por praticar bruxaria. Todavia, historicamente os números apontam uma taxa muito superior de moças acusadas do que de rapazes.
Pobres, desabrigados e qualquer pessoa obrigada a confiar na comunidade para se sustentar estavam entre os grupos mais suscetíveis à acusação por bruxaria. Sarah Good, enforcada em 1692, era extremamente destratada e vista com suspeitas por seus vizinhos, pois andava de casa em casa implorando por um pouco de comida.
Pois é, na Idade das Trevas não dava para ser nem tão rico e nem tão pobre quando comparado ao resto da comunidade, caso contrário era forca na certa. Ainda mais se você fosse uma mulher independente, segura e solteira vivendo sua vida sem nenhum suporte, pois isso claramente indica que você também possui uma jarra de olhos de lagartixa na dispensa.
Qualquer indicação de que uma mulher pudesse viver sem a ajuda ou supervisão de um homem era vista com suspeitas. Ela deveria ser isolada da comunidade – até, é claro, ela ser presa e ter um julgamento. Entre os anos de 1620 e 1725, mulheres sem irmãos ou filhos para compartilhar suas heranças corresponderam a 89% das execuções femininas devido à bruxaria na Nova Inglaterra.
Uma nota para todas as adolescentes e o elenco de Sex and the City. Um grupo de mulheres reunidas conversando sem um homem presente era visto como “uma irmandade para adoração ao demônio”. Quem assistiu à série American Horror History: Coven sabe muito bem do que isso se trata: um grupo de mulheres comungando com o cosmo e as forças sobrenaturais.
Matthew Hopkins e John Stearne foram dois dos maiores perseguidores responsáveis pela caça às bruxas. Todavia, não demorou muito tempo para que as próprias mulheres acusassem umas às outras de feitiçaria, sendo essa uma maneira de retirar suas acusações.
Segundo o autor Elizabeth Reis, “as mulheres eram mais suscetíveis às acusações de cumplicidade com o diabo e, devido a tais convicções, elas eram levadas a imaginar que outras mulheres também estivessem condenadas”.
O importante é lembrar que todo e qualquer um pode acusar outra pessoa. E eles faziam isso mesmo, sem nenhum remorso ou peso na consciência. Se você fosse acusado por praticar bruxaria – independente de ela ser elemental, natural, branca ou negra –, também poderia ser suspeito por ter sido visto voando pelado sobre a lua em uma vassoura enfeitiçada.
Idosas, tanto casadas quanto solteiras, eram extremamente suscetíveis a acusações. Rebecca Nurse foi uma senhora idosa de 70 anos e inválida quando foi acusada de bruxaria por seus próprios vizinhos. Com 71 anos, ela se tornou a mulher mais velha a ser acusada, condenada e morta por ser uma bruxa.
Dorothy Goode tinha apenas quatro anos quando ela confessou inocentemente ser uma bruxa. Consecutivamente, essa declaração atingiu sua mãe, Sarah, que foi enforcada em 1692. A garota ficou presa durante nove meses e a experiência a deixou permanentemente insana para o resto da vida.
Como essas profissionais em geral eram idosas que possuíam status sociais, eram autônomas, possuíam influências pagãs e conheciam diversas ervas medicinais, elas também eram vistas com desconfiança pela comunidade do século XVII. A difamação da profissão servia para demonizar as parteiras. Ou seja, essas mulheres representavam tudo o que a igreja temia.
Se você possui um ventre fértil demais, com certeza isso é obra de magia negra. Adicione a isso um jovem casal que mora na sua vizinhança, mas que está tendo dificuldades para ter um filho, e pronto: essa é uma prova concreta de que você está roubando os bebês, pois você é uma bruxa.
É certo que o diabo amaldiçoou seu útero com infertilidade. Além disso, se o seu vizinho e seus seis filhos estão passando necessidade, é porque que a sua inveja está batendo e fazendo com que os coitados sofram.
Deu chilique, fez escândalo ou levantou um pouco a voz no meio da rua? Você é uma bruxa, com certeza. No julgamento de Rachel Clinton, alguns de seus perseguidores a acusaram de não apresentar uma postura amargurada, intrometida e mandona, como é esperado de qualquer mulher. Uma moça tão de bem com a vida só podia ser uma bruxa, não é mesmo?
Qualquer um desses sinais no corpo podia ser interpretado com uma marca do demônio. Além disso, esses também eram os locais em que a mascote da bruxa – geralmente um cachorro, um gato ou uma cobra – morderiam para se alimentar do sangue maldito. As acusadas de bruxaria eram depiladas completamente até que uma marca fosse encontrada. E você se perguntando o que era aquela famosa pinta da Angélica.
Em Salem, diversos testemunhos mencionaram encontrar laticínios estragados na casa do acusado. Finalmente chegou a hora de se preocupar com a higiene de sua geladeira e dar fim naquele queijo podre.
Se você respondeu sim para essa pergunta, é melhor se jogar no fogo do inferno. Em 1651, Alice Lake, moradora de Dorchester, foi julgada como bruxa por desempenhar o papel de uma “meretriz e ter ficado grávida”. Sua culpa foi tão grande que eventualmente ela confessou estar mancomunada com o capeta “durante a comissão de seus pecados”. Ela foi enforcada no mesmo ano.
Não tem um dia em que você não passe sem pensar em encontrar sua alma gêmea? Já brincou de “Com quem será... com quem será que a fulana vai casar?” Fazer mandinga, promessa e acender velas, enfim, tudo isso era prova de bruxaria. Tituba, uma escrava habitante de Salem, incentivava as mulheres mais jovens a predizer a identidade de seus futuros maridos, tornando-se assim a primeira mulher acusada de feitiçaria.
Se você chegou até o fim da lista e ainda não se considera uma bruxa, provavelmente deve ser uma santa. Mas não pense que você está a salvo: confira outras leis que os puritanos seguiam – ou pelos menos tentavam. Quebrar qualquer uma delas podia levar a um julgamento por bruxaria:
Você fez alguma dessas coisas? Então parabéns, você é culpada por bruxaria. Logo, está fadada ao inferno e provavelmente será enforcada, queimada ou deixada para apodrecer em uma prisão imunda para morrer. Mas calminha... Isso era no século XVII, pois atualmente no máximo você ganha é uma multa por voar muito alto.