Saúde/bem-estar
14/11/2014 às 05:41•7 min de leitura
Embora as grandes guerras mundiais tenham trazido desgraças e danos irreversíveis para a humanidade, é inegável que elas também contribuíram para o avanço tecnológico e científico. No quesito bélico, por exemplo, as armas ficaram mais poderosas e ainda mais letais.
A seguir, você confere detalhes dos modelos anatômicos de algumas das pistolas mais utilizadas durante a Segunda Guerra Mundial.
Embora a 1911 fosse descendente do modelo Colt 1900, essa arma era uma cópia da FN 1900. O sistema simples de blowback (função que dispensa o travamento da culatra da pistola) de cartuchos .32ACP representou uma revolução na fabricação de pequenas armas por toda a Europa. Sendo a primeira pistola militar operada por ferrolho, ela estabeleceu um padrão para pistolas pequenas e de calibres curtos que foram utilizadas durante toda a Segunda Guerra.
No início da década de 20, o arsenal chinês começou a copiar essa icônica pistola e vendê-la para soldados e senhores da guerra locais. Uma espécie de indústria artesanal começou a surgir a partir do modelo, sendo que a qualidade das cópias variava de boa até absolutamente sofrível.
Ainda que a armas chinesas derivadas da 1900 pudessem ser encontradas em diversas formas e tamanhos (muitas delas misturadas com as características da C96), o exemplo mais comum é a da foto acima.
A maioria dos clones caseiros utilizava a mesma numeração: 126063. Marcações britânicas e belgas eram utilizadas para transmitir um senso de qualidade para os analfabetos ou os clientes não falantes de inglês. Infelizmente, nem mesmo os produtores podiam ler a numeração, uma vez que elas costumavam ser feitas de cabeça para baixo ou até mesmo misturadas.
Embora não fossem muito confiáveis, essas pistolas serviram nos anos de guerra, na nacionalização em massa, na Segunda guerra Mundial e na Guerra Civil Chinesa. Entretanto, é bom lembrar que elas também eram cheias de defeitos e feitas com metal inferior. Logo, não é muito recomendável atirar com uma delas.
A pistola original Kijiro Nambu (Nambu Tipo 14) era uma mistura eclética de muitas ideias. Muitos especialistas apontam que ela pegou emprestado alguns conceitos de outros modelos militares, tais como a Gilisenti ou a semiautomática Mauser C96. Todavia, não há provas de que ela tenha se inspirado em algum deles ou que realmente tenha sido influenciada. Portanto, deve ser considerada como um modelo único.
Conhecida nos Estados Unidos como “Papa Nambu”, essa pistola de 8 mm foi desenvolvida em 1904 e vendeu bem comercialmente e em pequenas quantidades na Tailândia, China e para o exército japonês. Porém, o design pareceu despropositadamente complicado e caro para que pudesse ser adotado oficialmente pelo governo.
O grande terremoto de Kanto mudou o destino da pistola para sempre, uma vez que ele destruiu a maior parte dos equipamentos da fábrica de Koishikawa e interrompeu a produção dos modelos comerciais, em 1923. Depois disso, o governo tomou a iniciativa de atualizar a Nambu, visando adotá-la. Em 1925, a pistola do Tipo 14 foi aceita oficialmente pelo império.
A Nambu Tipo 14 possui recuo curto, trava semiautomática e dispara cartuchos de 8 x 22 mm. A força do recuo da bala faz com que o cano e a extensão da arma sejam levados para trás e travem o ferrolho. Esse sistema é feito por um bloco de trancamento – que lembra a cabeça de um martelo – e que fica preso a extensão da arma e se conecta à parte inferior do corpo do ferrolho.
Conforme os componentes deslizam para trás, uma abertura no chassi da pistola permite que bloco de trancamento deslize suavemente, soltando o ferrolho, mas impedindo o cano e a extensão. As primeiras pistolas do Tipo 14 tiveram diversos problemas, a maioria em relação aos pinos e às molas fracas. Após várias atualizações, o modelo recebeu um guarda-mato estendido, molas de retenção de cartuchos extras, pinos de tiro e ricochete mais fortes.
Os cartuchos de 8 mm da Namu eram um tanto fracos para um sistema de travamento tão robusto. Apesar de todos os problemas, a arma não parece ter sido substituída facilmente e serviu junto com a Tipo 94 – talvez até mesmo um modelo inferior do que ela – até o fim da Segunda Guerra.
Os franceses foram mais lentos para atualizar seu modelo de pistolas automáticas após a Primeira Guerra Mundial, pois eles ainda tinham um vasto estoque de armas “Rubis” feitas na Espanha. Posteriormente, algumas amostras foram entregues e eles escolheram um modelo que descendia da pistola U.S. M1911. Ela tinha um sistema de proteção para os cartuchos, um indicador de carregamento de balas e uma trava simplificada.
A trava da empunhadura podia ser removida e, mais importante, o mecanismo do martelo funcionava em um pacote individual e removível, facilitando assim o processo de substituição durante os reparos. Entretanto, os oficiais franceses não se importavam com o recuo “brutal” da .45ACP. Eles escolheram um cartucho americano diferente para a arma: o Pedersen .30.
Essa munição foi desenvolvida para os kits de conversão para o rifle semiautomático Springfield M1903, durante a Primeira Guerra. Com um poder um pouco reduzido, os cartuchos foram adotados como o novo padrão para as pistolas francesas. O modelo mais popular, adotado em 1935, foi fornecido pela Societe Alsacienne de Construction Méchanique, portanto a arma ganhou o sufixo “A” de “Alsace”.
No início, a produção foi vagarosa e apenas algumas centenas foram finalizadas e entregues antes da invasão alemã. Uma fábrica francesa foi capturada e forçada a produzir os armamentos para o exército nazista. Com a invasão dos aliados, as produtoras foram devolvidas e voltaram a criar armamentos para França até o fim da guerra, continuando assim até a década de 50.
A rápida expansão e rearmamento da Alemanha levou a produção de armas já existentes ao limite. Em busca de uma substituta para a pistola Luger, o exército iniciou a procura por um modelo mais simples de fabricar da Parabellum de 9 mm. A Walther forneceu um protótipo para o exército e, após algumas mudanças, eles tentaram adotá-lo em 1938.
Os modelos de teste tiveram poucas mudanças até 1939, logo, a versão oficial da P.38 não começou a ser produzida inteiramente até 1940. Na época, a substituta da Luger feita pela Walter era uma das pistolas mais avançadas existentes. Ela possuía uma alavanca de decoking e um sistema de gatilho DA/AS, o que fazia com que ela fosse fácil e segura de carregar.
Basicamente, o soldado podia carregar a pistola, inserir uma bala e então desativar o decoker. Isso fazia com que o martelo (cão) fosse deslocado com segurança. Sem a trava, um pressionar do gatilho fazia com que o martelo retornasse e soltasse (dupla ação). O ciclo de descarregamento repetia a ação e deixava o cão na posição inicial, o que significa que os tiros seguintes seriam todos automáticos.
Além disso, a arma possuía um indicador de carregamento e uma armação contornada que a tornava excelente para atirar com as duas mãos e mirar melhor. A trava da P.38 possuía um sistema de recuo curto que incorporava mecanismos de subida/descida da cunha de bloqueio. Essa pistola foi um grande sucesso durante a Segunda Guerra, sendo produzidas mais de 1 milhão delas.
Na virada do século 20, John Browning estava desenvolvendo uma nova série de pistolas semiautomáticas. Seu modelo de bolso 1900, fabricado pela FN, ganhou fama internacional. Porém, apenas seu outro design de mesmo número, mas licenciado pela Colt, conseguiu deixar um verdadeiro legado. Essa arma usava um cano seguro por duas ligações (frontal e traseira) ao chassi.
Quando a arma descarregava, o recuo forçava o ferrolho para trás, que era conectado ao cano por uma série de interligações posicionadas na parte de dentro dele e no topo do ferrolho. Após várias mudanças, a Guerra Filipino-Americana padronizou de vez o modelo. Os problemas com o antigo design de balas .38 Long Colt impediram que o exército americano conseguisse deter as guerrilhas Moro, o que fez com que eles procurassem um novo tipo de cartucho mais adequado.
John Browning criou as balas .45 ACP (inspiradas no modelo .45 Long Colt) junto com o novo modelo de pistola militar. Trabalhando com as funções de travamento de suas armas 1900 e 1902, ele desenvolveu o que viria a ser a 1911. Essa pistola semiautomática de ação única, acionada por cão, possui tanto uma trava manual quanto uma automática.
As duas ligações foram substituídas por uma que ficava na parte inferior da câmara, criando assim um cano inclinado. Em 1926, algumas mudanças na ergonomia da pistola criaram o modelo 1911A1. Isso inclui o encurtamento do gatilho, moagem de recessos por trás do chassi, vista mais larga na parte da frente, mola principal mais arredondada, empunhadura simplificada e um “bico” maior na trava do punho.
A 1911 feita por Browning se tornou a pistola oficial do exército americano e o acompanhou na Guerra do Vietnã, sendo utilizada até hoje. Diversos países a copiaram e vários modelos já foram feitos a utilizando como base. O conceito de cano inclinado cujo topo é travado com o ferrolho ainda é usado na maioria das pistolas modernas. Além disso, ela é considerada a arma mais influente na história do design de pistolas.
A maioria das funções presentes na Beretta 1934 já existiam em sua antecessora, a 1923. As únicas mudanças feitas foram no cano e no design do blowback com a abertura icônica na parte de cima do ferrolho. Todavia, a maior diferença em comparação com os modelos antigos foi o uso do cão externo. Ela foi produzida para conseguir contratos militares e adotar o cartucho Glisenti de 9 mm.
Com a popularidade das pistolas de bolso e da .32 ACP, a Beretta reduziu o modelo 1923 e melhorou um pouco seu estilo. Esse se tornou o modelo 1931. O interesse do exército italiano na série Walther PP inspirou as futuras mudanças que fizeram parte da 1932 e da 1934, a qual foi adotada pelas forças armadas italianas. Posteriormente, a 1935 – uma versão da .32 ACP –foi escolhida pelas forças aéreas e pela marinha.
Essas pistolas confiáveis e de fácil manuseamento foram muito populares entre a tropas italianas. As Berettas eram muito estimadas pelas tropas americanas e inglesas, tanto é que elas costumavam ser surrupiadas de oficiais italianos mortos ou aprisionados. No período pós-guerra, não era nada incomum encontrar essas armas para vender em outros países.
A pistola TT-33 é uma das descendentes do modelo 1911. Durante a década de 20, os oficiais russos procuraram uma pistola automática para substituir os antigos revólveres Nagant M1895. A experiência adquirida com a Mauser C96 criou um grande respeito para com os cartuchos 7.63 x 25 mm, mas a arma em si era um tanto ineficiente e complicada. Por fim, a munição 7.62 x 25 mm (uma versão um pouco menor) foi selecionada como o novo padrão de pistolas e submetralhadoras russas.
Fedor Tokarev desenvolveu a base para o que viria a ser a sua TT-30 ao combinar característica das pistolas Colt 1903 e 19011. Devido a sua configuração mais robusta, a arma era extremamente confiável e difícil de quebrar. Posteriormente, a pistola recebeu o número 33 após passar por uma série de melhorias técnicas.
O modelo TT-33 foi utilizado pela União Soviética até ser substituído em 1952, entretanto ele continuou sendo vendido como segunda linha durante alguns anos. Diversas cópias e variações foram produzidas na época e continuam sendo até hoje.
Durante o período entre as duas Grandes Guerras, os britânicos perceberam que o cartucho da Webley .455 era excessivamente poderoso e resultava em tiros menos precisos e no maior tempo de treinamento das tropas. As munições pesadas também eram difíceis de carregar e exigiam mais espaço no inventário e no transporte.
Dessa maneira, eles decidiram que um cartucho quase tão poderoso quanto o original poderia ser feito para o calibre .38 com uma bala de 200 gramas. A .38/200 era idêntica à .38 S&W, porém com uma carga diferenciada, que depois foi reduzida por medo de violar a Convenção de Haia – junto com às Convenções de Genebra, o tratado internacional lida com as leis e crimes de guerra.
A Webley & Scott forneceu seu revólver MkIV, reduzido para a escala .38/200, como uma nova arma em potencial para o exército britânico. Entretanto, ele foi rejeitado e se optou por um modelo da Royal Small Arms Factory, Enfield. O problema era que o design era praticamente o mesmo em todos os aspectos, visando assim impedir a troca de componentes entre as armas.
A Webley processou a empresa e perdeu. O governo alegou que o capitão H. C Boys, mais conhecido como “Captain Boys”, havia produzido o novo modelo de revólver sozinho. As perdas iniciais da Segunda Guerra Mundial criaram uma grande demanda pelas armas, entretanto a Enfield não foi capaz de supri-la. Logo, a Webley Mk IV foi adotada como paralelo, finalmente ganhado seu merecido papel.
Entretanto, a Webley estava preocupada que os soldados vissem a qualidade de suas armas para a guerra e assumissem que aquela seria a mesma implantada nas armas desportivas – o que sujaria a reputação da empresa, visto que as armas da guerra eram inferiores. Portanto, eles decidiram marcar o lado direito do cabo com o escrito “War Finish” (Feito para guerra), visando assim evitar qualquer confusão e preservar o bom nome da marca.