O bizarro caso da adolescente obcecada por sequestrar crianças

04/08/2019 às 11:004 min de leitura

Aquele era para ser mais um dia comum para a família Edgington, mas se transformou em um grande pesadelo. O calendário marcava 22 de junho de 1961 e o pequeno Richard, de 5 anos, brincava na frente de casa, em um bairro tranquilo de Nova York, quando uma garota chegou ao local. Ela o convidou para um passeio, mas a criança sabia que era errado sair com desconhecidos. Depois da sua negativa, ela o pegou pelos pulsos e ameaçou afogá-lo. Sem opção, o pequeno foi caminhando com ela até o Zoológico de Buffalo.

Enquanto eles andavam pelos trilhos do trem, a garota avistou uma poça de água e disse para Richard: “é aqui que eu vou te afogar e você nunca mais vai ver a sua mãe ou o seu pai novamente”. É claro que seria impossível fazer isso naquela pequena porção de água, mas as suas palavras foram suficientes para assustar o garoto.

É aqui que eu vou te afogar e você nunca mais vai ver a sua mãe ou o seu pai novamente

Inesperadamente, ela lhe deu alguns doces, tirou a roupa dele e o amordaçou. Com um saco plástico que encontrou no caminho, enrolou a cabeça dele e prendeu o menino aos trilhos.

Mas essa história não acaba assim: mesmo com a pouca idade, ele conseguiu se livrar da mordaça, rasgou o saco plástico, se soltou das amarras e saiu correndo. Uma mulher, que passava pelo local, estranhou toda a situação e chamou a polícia.

Se Richard conseguiu agir e salvar a sua vida, outra criança não teve a mesma sorte.

undefinedRichard conta sobre o sequestro

Outras vítimas

Pouco antes de a polícia começar a montar esse tenebroso quebra-cabeças, a pequena Susan Benedict, também de 5 anos, havia sido amarrada quase no mesmo local que Richard, no dia 23 de abril. Por sorte, a polícia encontrou a garota viva e, com os dois casos ocorrendo de maneira semelhante, eles sabiam que a criminosa atacaria novamente. Apenas um dia depois de ter atacado Richard, a misteriosa garota raptou outra criança: Andrew Ashley. Ele havia saído de casa para brincar com o vizinho, mas nunca chegou ao local combinado.

A misteriosa garota raptou outra criança: Andrew Ashley. Ele havia saído de casa para brincar com o vizinho, mas nunca chegou ao local combinado.

Segundo a família, a criança, de 3 anos e meio, saiu da residência às 15h e ninguém notou o seu desaparecimento até as 18h. Assim que a família notificou a polícia, oficiais saíram pelo bairro, procurando informações de casa em casa. Sem sucesso, eles começaram a se preocupar: diferente dos casos anteriores, já haviam se passado muitas horas desde o rapto.

Andrew Ashley saiu na primeira página dos jornais e toda a cidade estava determinada a encontrar o garoto. Uma testemunha apareceu e contou à polícia que havia visto uma criança andando com uma mulher em direção ao jardim zoológico. Depois desse relato, outras pessoas afirmaram ter presenciado a mesma cena, mas a descrição da criminosa variava muito: a idade indicada era de 28 a 40 anos.

undefinedAndrew na primeira página do jornal

A busca se amplia

O FBI se juntou à investigação e os oficiais resolveram seguir algumas pistas deixadas no depoimento de Richard, principalmente a parte em que ele falava sobre a ameaça de afogamento. Eles enviaram uma equipe para o Parque Delaware e iniciaram as buscas nos lagos do local.

Enquanto isso, outra tentativa de sequestro alertou os oficiais: a senhora Palermo contou que uma garota tentou levar a sua filha Elizabeth, de apenas 6 anos. A mulher tentava perseguir a criminosa quando encontrou Robert Brown a segurando. Segundo ele, a jovem também tinha tentado raptar sua filha Patty, de 5 anos.

 Os investigadores acharam que a garota não tinha relação alguma com os crimes, afinal o suspeito deveria ter mais de 28 anos, de acordo com as testemunhas. Então, eles a liberaram.

Em posse da polícia, a adolescente, a princípio, mentiu sobre o seu nome e endereço, mas acabou revelando sua identidade: Chyrel Jolls. Apesar de sua atitude estranha, os investigadores acharam que a garota não tinha relação alguma com os crimes, afinal o suspeito deveria ter mais de 28 anos, de acordo com as testemunhas. Então, eles a liberaram.

O telefonema suspeito

No dia seguinte, a mãe de Andrew recebeu uma ligação em que uma mulher afirmava que o seu filho havia sido encontrado e estava bem. Ao entrar em contato com a polícia, ela soube que, infelizmente, o aviso não havia sido feito por eles. O FBI conseguiu localizar o local de onde vinha a chamada e descobriu que a responsável era ninguém menos que Chyrel Jolls. 

undefinedChyrel

A jovem alegou que estava apenas tentando consolar a mãe do menino e que tudo não passava de uma brincadeira. Porém, a falta de comunicação fez com que os oficiais do FBI não soubessem que a menina havia sido interrogada no dia anterior pela polícia local. Novamente Chyrel foi liberada.

A descoberta do corpo

Poucos dias depois, o corpo do pequeno Andrew foi encontrado no lago do parque Delaware. Ele havia sido amarrado e amordaçado como as outras crianças, mas, desta vez, a criminosa havia cumprido a sua promessa de afogá-lo.

Com os primeiros raptos e a morte de Andrew confirmada, a polícia divulgou que o mesmo criminoso era o culpado pelo sumiço das crianças e alertou os pais sobre o perigo.

undefinedCorpo do pequeno Andrew foi encontrado em um lago

Um retrato falado baseado na descrição de Richard Edgington foi publicado nos jornais e Robert Brown e a sra. Palermo, que quase tiveram os filhos raptados, afirmavam que a polícia deveria procurar por Chyrel Jolls. Mesmo achando estranho que uma jovem de apenas 15 anos fosse suspeita de assassinato, a polícia resolveu observar a adolescente.

undefinedO retrato falado divulgado

Juntando as pistas

Chyrel foi levada para ser interrogada e, obviamente, negou o seu envolvimento com os sequestros. Ela ainda afirmou que estava sendo perseguida e assediada pelos policiais. Foi então que eles resolveram colocar a jovem frente a frente com o pequeno Richard, que prontamente reconheceu a garota. Para que não restassem mais dúvidas, um laboratório do FBI identificou fios de cabelo na cena do crime que tinham as mesmas características de Chyrel.

Em sua casa, os oficiais encontraram recortes de jornais que contavam detalhes sobre as investigações, além de um mapa com o título “o caminho que eu fiz na última sexta-feira”.

undefinedMapa encontrado na casa da jovem

 Descobrindo o passado de Chyrel

Ao verificar os antecedentes, a polícia descobriu que Chyrel havia sofrido terapia de eletrochoque durante a infância. Ela também estava atrasada em relação a outras adolescentes da sua idade: aos 15 anos, cursava a 7º série. 

Adotada, ela tinha passado alguma parte de sua vida em orfanatos e era suspeita de ter causado um incêndio em uma dessas casas aos 12 anos.

undefinedChyrel cercada pela polícia

Uma parente, da atual família que abrigava Chyrel, revelou que notava alguns comportamentos estranhos na garota e que, certa vez, encontrou o filho amarrado depois de ter passado um tempo com a jovem.

O julgamento

Chyrel foi internada para observação psiquiátrica e finalmente confessou os sequestros. Entretanto, ela alegou que deixou Andrew em terra e que a própria criança pode ter girado até o lago e morrido afogada.

No dia 2 de agosto de 1961, Chyrel foi indiciada e enviada ao Hospital Estadual Matteawan, para criminosos insanos. Apenas em 1969, dois médicos testemunharam e afirmaram que a adolescente não era psicótica, mas que participar de um julgamento poderia tirá-la do controle e acabar com o trabalho realizado por eles ao longo dos anos.

undefinedChyrel

O tribunal aceitou a solicitação, retirou todas as acusações contra ela e a jovem foi liberada dois anos depois. Onde está Chyrel? Ninguém sabe até hoje.

*Publicado em 29/07/2016

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