Artes/cultura
13/11/2015 às 17:03•6 min de leitura
Quando vemos um deles na rua, fica fácil identificar: os carros esportivos chamam atenção por onde quer que passem. Mas você conhece as histórias de como surgiram as montadoras que fabricam estes veículos?
Enquanto algumas delas nasceram de forma mais tradicional, como indústrias de motores aeronáuticos e equipes de corrida, outras têm origens engraçadas, como o fato de terem sido criadas depois de uma briga por causa de uma "reclamação".
Listamos aqui algumas histórias de como algumas dessas empresas surgiram, começando com cinco delas. Haverá uma segunda parte, então não deixe de comentar quais outras marcas você gostaria de ver por aqui.
A marca, que hoje é famosa por ter fabricado um dos carros de rua mais rápidos do mundo na atualidade, o Bugatti Veyron, teve origem com o italiano Ettore Bugatti no início do século 20. O jovem milanês, filho do arquiteto e designer Carlo Bugatti, criou seu primeiro veículo motorizado aos 18 anos, e seu primeiro carro, o Type 2, ganhou um prêmio internacional em 1901.
Ettore Bugatti dando um rolê com sua primeira criação, o Type 2
Foi apenas em 1909 – mesmo ano do nascimento de seu filho Jean – que Ettore fundou a Automobiles Ettore Bugatti. Depois de uma pausa durante a Primeira Guerra Mundial, a empresa retomou as atividades com foco em carros de competição na década de 20 e, em 1925, os veículos da Bugatti já acumulavam a impressionante marca de 412 vitórias.
De lá pra cá, várias reviravoltas aconteceram: Jean Bugatti morreu aos 30 anos de idade em um acidente automobilístico, a Segunda Guerra explodiu e o próprio Ettore faleceu em 1947. A empresa entrou em declínio e fechou em 1956, sendo ressuscitada no fim da década de 80 por um empresário italiano – responsável pela criação do Bugatti EB 110, um dos modelos mais icônicos da marca.
Bugatti EB 110, a tentativa de ressuscitar a marca na década de 90 que não deu muito certo
No entanto, a fase italiana da Bugatti durou pouco: em 1995 a "nova" empresa também faliu. Três anos depois, a Volkswagen resolveu investir pesado para trazer a marca de volta. Em 2005, depois de muito dinheiro e tempo investidos, o Bugatti Veyron nasceu: ele foi batizado em homenagem a Pierre Veyron, um dos pilotos que venceu a competição de Le Mans em 1939, e foi o principal responsável pelo renascimento da Bugatti na era moderna.
O engenheiro austríaco Ferdinand Porsche começou desenhando veículos no final do século 19 e cresceu profissionalmente de forma acelerada neste meio. No início da década de 30, passou a prestar consultoria para a produção de veículos, entre carros e tanques do exército alemão, com uma empresa própria em Stuttgart.
Foi ele o responsável por liderar o time que criou um dos carros mais conhecidos do mundo até hoje: o Volkswagen Fusca. Foi com base no popular veículo, inclusive, que Ferdinand produziu o primeiro Porsche não oficial – já que a empresa propriamente dita não existia –, chamado de Type 64.
Ferdinand Porsche, o criador
Durante a Segunda Guerra, Porsche esteve envolvido com o exército nazista no desenvolvimento de tanques e, por esse motivo, com o final do conflito, perdeu seu posto na Volkswagen e foi preso.
Sendo assim, ficou para o filho de Ferdinand a tarefa de tocar os negócios e se tornar o fundador da marca Porsche definitiva. Foram alguns anos efetuando a manutenção de carros, bombas d'água e até mesmo molinetes navais até que, por não encontrar um carro que gostasse para poder comprar, Ferry Porsche decidiu criar o seu próprio bólido: o Porsche 356 – que, inclusive, também tomava emprestadas várias peças do Fusquinha.
Ferry Porsche junto do modelo 356 e do carro que o inspirou, o Fusca
Ferdinand saiu da prisão em 1947 e faleceu quatro anos depois. Ferry continuou comandando diretamente a companhia até 1972, quando a empresa se transformou no que é hoje: a Porsche AG. Após este período, ele assumiu a posição de chairman honorário e ficou até sua morte, em 1998. A marca, hoje uma subsidiária da Volkswagen, fez história nas pistas e nas ruas com o modelo 911, o mais conhecido da Porsche, que existe desde 1963.
A companhia britânica nasceu como uma subsidiária da equipe de corrida criada pelo neozelandês Bruce McLaren na década de 60. Sendo uma das mais influentes nas principais categorias do automobilismo mundial, como a Can-Am e, principalmente, a Fórmula 1, ela resolveu sair das pistas e levar a tecnologia da categoria máxima para as ruas. Com isso, a McLaren como fabricante de carros surgiu em 1989, 19 anos depois da morte de Bruce.
A McLaren F1, primeiro projeto da marca, foi lançada em 1992 e não era nada modesta: foi projetada por Gordon Murray, o responsável pelos veículos da equipe de Fórmula 1, e bateu (com uma certa folga) o recorde de carro de produção mais rápido do mundo ao alcançar 391 km/h – marca que só foi superada vários anos depois pelo Bugatti Veyron. Por isso, a F1 é vista até hoje como um dos melhores supercarros já produzidos.
Depois do sucesso do primeiro modelo, a McLaren teve uma contribuição com a Mercedes-Benz, mas passou diversos anos inativa até oficializar seu retorno com a produção da McLaren MP4-12C, em 2011. Dois anos depois, lançou a McLaren P1, sucessora direta da F1 e um dos hipercarros mais importantes da atualidade.
Falar de carros esportivos e não falar da Ferrari é uma tarefa impossível. A Itália foi um dos terrenos mais férteis para o nascimento e crescimento de marcas históricas, mas poucas alcançaram o nível de sucesso da companhia sediada em Maranello.
Seu fundador, Enzo Ferrari, dedicou sua vida toda ao automobilismo, criando, desenhando e dirigindo carros de corrida. Pilotou para a Alfa Romeo durante alguns anos – período em que passou a usar o cavalo rampante como símbolo –, mas em 1929 resolveu criar sua própria empresa, a Scuderia Ferrari, preparando carros para pilotos amadores. Mais tarde, na década de 30, foi contratado novamente pela Alfa Romeo como gerente do departamento de competições, suspendendo as atividades de sua companhia por um tempo.
Enzo Ferrari, "O Comendador"
Com a explosão da Segunda Guerra, em 1939, Enzo saiu da Alfa Romeo sob a condição de não ter seu nome relacionado ao automobilismo por quatro anos, período que se dedicou à produção de peças para aviões e ferramentas. Em 1943, a fábrica de Ferrari foi para Maranello, onde a sede principal da marca se encontra até hoje. Ela foi bombardeada em 1944 e reconstruída dois anos depois, pronta para lançar os primeiros modelos de rua da companhia.
O problema é que Enzo não gostava da ideia de produzir veículos normais e só fazia isso por dois motivos: para poder financiar a Scuderia Ferrari, a divisão competitiva da empresa, e também para homologar eventuais carros que iriam competir mais cedo ou mais tarde.
Com o sucesso conquistado nos circuitos do mundo todo, os veículos "civilizados" da Ferrari eram cada vez mais requisitados, e a marca foi se consolidando como uma referência dentro e fora das pistas. A estrutura acabou se equilibrando e, embora o foco continuasse sendo a Scuderia, a divisão de carros esportivos se firmou como uma parte extremamente importante, produzindo modelos que marcaram a história da indústria automotiva.
O Comendador, como Enzo era chamado, foi o responsável por fazer a Ferrari protagonizar as maiores rivalidades na história do automobilismo, o que ajudou e muito nos negócios. Hoje, a empresa pertence ao grupo Fiat Chrysler e é uma das marcas mais valiosas do mundo, além de ser a equipe mais bem-sucedida da história da Fórmula 1.
Pode-se dizer, inclusive, que a Ferrari – ou, mais precisamente, Enzo Ferrari – foi indiretamente responsável também pela criação de outra marca bastante conhecida...
Sem sombra de dúvida, o nascimento da Lamborghini é a história mais inusitada desta lista. Ferruccio Lamborghini fundou uma fábrica de tratores logo depois da Segunda Guerra e ganhou muito dinheiro com o negócio, que era uma referência na Itália. Como todo empresário rico na década de 50 que gostava de carros, Ferruccio tinha uma queda pelos esportivos italianos e teve algumas Ferraris em sua coleção, motivo que o levou a ter contato com o próprio Enzo Ferrari.
Ferruccio Lamborghini: de "agroboy" a dono de uma das maiores marcas de veículos esportivos do mundo
Ferruccio gostava dos veículos da Ferrari, mas achava que o acabamento interno era ruim e detestava o serviço de atendimento. Conhecendo o dono da empresa, ele achou justo conversar com Enzo para dar algumas sugestões e falar sobre os problemas que enfrentava. Para sua surpresa, O Comendador – que não era tido como uma figura carismática – disse que não precisava ouvir um homem que "só sabia guiar tratores".
Depois da discussão, no início da década de 60, Lamborghini fez o que qualquer homem com o ego ferido e muito dinheiro faria: resolveu injetar uma parte considerável de suas finanças no desenvolvimento de um carro que fosse melhor que as Ferraris – um feito que muita gente considerava uma loucura.
Ele contratou os melhores engenheiros da época – alguns, inclusive, trabalharam na Ferrari –, comprou um grande terreno em Sant'Agata Bolognese e montou a fábrica que se tornou a sede da Automobili Lamborghini que conhecemos hoje. O resultado foi o 350 GTV, apresentado em 1963, que teve suas unidades vendidas abaixo do preço de custo para competir com a Ferrari e era considerado um carro tão bom quanto.
Lamborghini 350 GTV, o fruto da treta entre Ferruccio Lamborghini e Enzo Ferrari
Quatro anos depois, a Lamborghini lançou o Miura, modelo que consolidou de vez a marca e iniciou a prática de batizar os modelos esportivos com nome de touros famosos – além de colocar a empresa como principal concorrente da Ferrari, para o desgosto de Enzo. A rivalidade se mantém até hoje, com as duas companhias reunindo uma grande quantidade de fãs aficionados para cada lado.
Quais são as marcas que você gostaria de ver na segunda parte da matéria? Comente no Fórum do Mega Curioso