Descubra como é “produzido” o cheiro de carro novo

21/04/2019 às 10:303 min de leitura

Todo mundo que entra em um carro novo percebe um cheiro peculiar dentro do veículo, que normalmente não sentimos em nenhum outro lugar. Esse aroma característico não acontece por acidente e é o resultado de testes e mais testes para desvendar como os odores emanados pelos mais de 100 tipos de materiais dentro do veículo se combinam.

O pessoal do site Fast Co. Design conversou com Linda Schmalz, engenheira de materiais da Ford, para desvendar o processo de criação do “cheiro de carro novo”. O que ela contou é apenas uma pequena parte da obsessão que todas as montadoras têm por tornar os seus carros mais atrativos para os clientes, mesmo aqueles modelos mais baratos, o que explica o fato de esse odor específico ser inconfundível.

Os cientistas chamam esse processo de desgaseificação, que acontece quando produtos industriais novos liberam resíduos químicos no ar que possuem um odor perceptível. Na verdade, isso varia para o interior de cada modelo de carro, dependendo se foi usado tecido, couro, plástico ou madeira nos componentes, e até a cola usada para unir certas peças interfere no resultado final desse processo. Esses gases são liberados constantemente por um curto período de tempo e não são renováveis, segundo Linda.

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Teste do cheiro

De acordo com a engenheira, a preocupação maior em relação a isso não é diretamente produzir o cheiro de carro novo, mas desenvolver materiais de forma que eles tenham odores perceptíveis, mas que não incomodem quem estiver dentro do veículo. Para testar como cada parte do carro vai cheirar quando estiver nas ruas, a Ford utiliza um método praticamente caseiro, composto de potes de vidro e um forno.

Um pedaço do material em questão é colocado dentro de um dos recipientes, que então é aquecido três vezes, cada uma em uma temperatura diferente: 22,7 ºC, para simular a temperatura ambiente; 40 ºC, com um pouco de água no pote, para simular umidade; e 80 ºC, para simular o ar quente no interior de um carro em um dia ensolarado. Um time de seis jurados atribui notas para cada cheiro individualmente e de forma subjetiva, ressaltando qualquer coisa que pareça cheirar mal.

Todos os novos materiais comprados passam por esse teste, mesmo que seja um novo tipo de carpete ou de madeira para o painel. No entanto, componentes combinados também são testados, para se ter certeza de que seus odores funcionam juntos no produto final de forma satisfatória. Por exemplo, fragmentos de todos os materiais escolhidos para compor uma porta são testados juntos em um dos recipientes de vidro, nas três temperaturas que citamos acima, para garantir que ela não vá ter um cheiro estranho.

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"Jurados de cheiro" não podem fumar

As pessoas escolhidas para testar os cheiros normalmente trabalham em outras funções na maior parte do tempo. O time consiste de apenas um gerente que traz um pequeno grupo de engenheiros de laboratório para os testes, que são realizados esporadicamente. Para ser escolhido como um dos jurados, o funcionário não precisa de nenhum treinamento específico, mas não pode fumar, estar gripado, ter alergias, usar perfume forte ou estar sob qualquer outra condição que influencie o olfato.

Da mesma forma, pessoas com o olfato sensível demais não são indicadas para realizar o teste, pois uma nota atribuída por alguém assim pode influenciar na escolha de um material usado no carro, impactando no custo da pesquisa ou da manufatura do carro. Contudo, se um componente falha no teste, a montadora é obrigada a escolher um novo material para substituir aquele e tenta novamente, apesar de isso estar se tornando cada vez mais raro à medida que as tecnologias evoluem.

“A maioria das falhas que tivemos recentemente, e não foram muitas, são em relação a materiais compostos”, disse Schmaltz, se referindo aos testes com vários componentes combinados. “Vamos pegar como exemplo um porta-malas, em que foi selecionado um tipo de carpete, um tipo de cola, e tudo é grudado a um substrato. Algumas vezes, a cola escolhida atende aos requerimentos de força adesiva, mas o odor dela é questionável. Nesse caso, é necessário falar com o fornecedor para que ele mande outro produto”, contou ela.

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Carros cheiram diferente para pessoas de países diferentes

Linda não sabe se é uma questão genética, ambiental ou cultural, mas pessoas de países diferentes sentem os mesmo aromas de forma diferente. Por isso, a Ford mantém laboratórios na Europa e na China que também fazem os mesmos testes olfativos, e os resultados de todos eles são levados em consideração na hora da aprovação do “cheiro de carro novo” que um veículo da marca terá.

Isso porque seria dispendioso demais trocar os materiais do interior de um carro para atender aos gostos das pessoas de cada nação em que os automóveis da marca são comercializados. Então o que eles fazem é tentar achar um meio-termo que agrade a maior parte do público. Couro, por exemplo, é um produto particularmente complicado por ser natural, então o cuidado na hora de utilizá-lo é redobrado.

Mas nunca é possível saber com certeza qual será o odor que um carro vai ter até que todas as peças estejam no lugar e todos os cheiros dos materiais interajam entre si, e nesse ponto ainda podem surgir problemas. Um fornecedor pode ter mudado um componente da formulação de seu produto e isso não foi revisado, então a fábrica liga para o laboratório avisando que há um “problema de cheiro” na linha de montagem. No entanto, não é algo que aconteça com frequência.

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