Será que aos 18 anos o nosso cérebro já é “adulto”?

04/05/2022 às 02:004 min de leitura

A questão da maturidade tem sido muito debatida em diversas nuances, uma delas se prende se os jovens entre os 16 e os 18 anos de idade são dotados de uma capacidade plenamente desenvolvida para atuar e decidir em campos muito diferentes da sua vida pública e privada. Não devemos esquecer que o Brasil é o país mais ansioso do mundo e um dos que mais utiliza as redes sociais e a internet, o que já comprovei em estudos que pode comprometer o desenvolvimento intelectual e cognitivo. Ou seja, estaria o jovem hoje mais imaturo? Qual deveria ser, então, a maioridade atualmente com base na neurociência?

A razão da ansiedade excessiva do brasileiro está relacionada com fatores como violência, diferença social e elementos culturais que interferem no comportamento, inclusive, na tomada de decisão e avaliação das consequências futuras. Como cientista, e aliado apenas à razão, sei que os jovens não estão nessa fase tão precoce da sua vida dotados das mesmas capacidades racionais e lógicas. Aqui, mais do que uma opinião pessoal de cada um devemos levar em consideração a capacidade de raciocínio, de lógica, de conhecimento e desenvolvimento que cada idade nos traz.

Quanto mais jovem...

aFonte: Shutterstock

Evidentemente não devemos esquecer que quanto mais jovens, mais influenciados somos. É mais fácil convencer um jovem de 16 anos do que um jovem adulto de 20 que muitas vezes já tem mais experiência de vida — inclusive em meios académicos, laborais, entre outros. Quanto maior o conhecimento e a experiência, mais ponderada será a tomada de decisão e a análise das situações que lhe surgem e precisam ser resolvidas. Quanto menor a idade, maior a ingenuidade e as decisões são, como se costuma dizer, tomadas com o coração e não com a cabeça.

Os jovens são, como sabemos, muito mais impulsivos. O lobo frontal, mais especificamente o córtex pré-frontal, só termina de se desenvolver até os 30 anos de idade, a depender do indivíduo. Com 20 anos, ele já é bastante desenvolvido. Esta região está relacionada à lógica, tomada de decisões, controle emocional, atenção, racionalidade, entre outras funções ligadas à inteligência global e precursora. Chamo isso de controle das inteligências.

O cérebro de jovens com 16 anos de idade ainda é imaturo e excessivamente emocional. O sistema límbico trabalha melhor nas mensagens negativas, o que é natural para a sobrevivência, mas revela uma ira maior e como não existe um controle emocional tão definido, possuem o que chamo de "pensamento abstrato de imortalidade".

Capacidade de decisão

O ato de decidir, de tomar posição, de fazer escolhas, sejam elas em que campo for, entre os mais jovens não seria tanto um ato de coragem ou de mudança, mas sim um risco com menor padrão nas consequências, já que não têm um controle emocional desenvolvido, não refletem sobre as consequências com tantas opções. A cognição com base na experiência ainda está desenvolvendo-se e ela é crucial para que tenha um maior mapa de opções para melhores escolhas. Por isso, os idosos são sempre mais sábios e todos seremos idosos um dia. Faz bem saber disso.

Diferentes estudos mostram que, aos 16 anos, o raciocínio lógico ou a argumentação funcionam de maneira semelhante à de um adulto; no entanto, devemos ter precauções, senão isso seria o mesmo que assumir que pessoas de alto QI são mais capacitadas em todos os aspectos, mesmo faltando o fator experiência. Há, sim, cérebros jovens mais desenvolvidos que outros na região frontal, mas estatisticamente são uma minoria. As idades que aqui tratamos estão ligadas à fase onde se dá o início da busca pela independência já premeditando os 18 anos, que é a etapa radical quando saem de casa e iniciam a universidade na maioria dos países mais desenvolvidos. Esta é a fase da "rebeldia", onde querem bater de frente para mostrar que são maduros e independentes, logo, isso interfere na racionalidade.

Imaturidade crescente

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Para finalizar, os jovens hoje estão muito mais imaturos, como comprovei em 2018 que o uso excessivo de internet diminui o QI. Também há um estudo na Noruega em andamento desde 1970 que comprova a diminuição do QI, que está relacionada ao desenvolvimento da região do córtex pré-frontal. A cultura virtual criou, de forma semântica, a ideia do abstrato onde vivem sempre no que chamo "mundo da fantasia". A percepção distorcida da realidade tem relação com essa cultura virtual e distorce também a capacidade lógica e racional. A maturidade tem relação com a consciência, com a percepção, com a lógica e a capacidade criativa. A experiência desenvolve a maturidade assim como o desenvolvimento do lobo frontal.

Concluindo, se me é permitida uma opinião pessoal, apenas com embasamento científico, para mim a idade ideal para assinalar a maioridade seriam os 20 anos — idade ideal para um cérebro que começa a fazer sentido e a pensar com clareza, um cérebro que embora ainda ceda muitas vezes às questões emocionais, tem a noção dessa dicotomia.

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Fabiano de Abreu Agrela Rodrigues, colunista do Mega Curioso, é PhD em Neurociências; doutor e mestre em Ciências da Saúde nas áreas de Psicologia e Neurociências; mestre em Psicologia; mestre em Psicanálise com formações em neuropsicologia, licenciado em Biologia e em História, tecnólogo em antropologia, pós-graduado em Programação Neurolinguística, Neurociência Aplicada à Aprendizagem, Psicologia Existencial Humanista e Fenomenológica, MBA, autorrealização, propósito e sentido, filósofo, jornalista, especializado em programação em Python, Inteligência Artificial e tem formação profissional em Nutrição Clínica. Atualmente, é diretor do Centro de Pesquisas e Análises Heráclito; membro ativo da Redilat — La Red de Investigadores Latinoamericanos; chefe do Departamento de Ciências e Tecnologia da Logos University International, cientista no Hospital Martin Dockweiler, professor e investigador cientista na Universidad Santander de México, diretor da MF Press Global, membro da Sociedade Brasileira de Neurociências e da Society for Neuroscience — maior sociedade de neurociências do mundo, nos Estados Unidos. Membro da FENS, Federação Europeia de Neurociências; membro da Mensa International, Intertel e Triple Nine Society (TNS), associação e sociedades de pessoas de alto QI, esta última TNS, a mais restrita do mundo; especialista em estudos sobre comportamento humano e inteligência com mais de 100 estudos publicados.

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