Ciência
19/09/2024 às 15:00•2 min de leituraAtualizado em 19/09/2024 às 15:00
Uma equipe de pesquisadores da Universidade Politécnica de Valência (UPV), na Espanha, acaba de divulgar um método inédito de biofortificação de folhas e tecidos vegetais verdes, turbinando o conteúdo de substâncias saudáveis, principalmente do betacaroteno, devido ao seu valor nutricional como precursor (substância transformadora) da vitamina A na alimentação humana.
Publicada na revista The Plant Journal, a pesquisa tem como objetivo produzir uma superalface para suprir a deficiência de micronutrientes, chamada de “fome oculta”, uma crise global que atinge vários países em desenvolvimento. A falta da vitamina A expõe cerca de 140 milhões de crianças a doenças graves, como perda auditiva, cegueira e até morte, diz o estudo.
Testes realizados com técnicas biotecnológicas e tratamentos com alta intensidade de luz mostraram que os níveis de betacaroteno nas folhas podem ser amplificados em até 30 vezes. Esse acréscimo pode ser armazenado em novos locais do tecido vegetal, sem prejudicar a fotossíntese.
O betacaroteno é um dos mais importantes carotenoides, pigmentos naturais encontrados em plantas, algas, bactérias e alguns fungos. Eles têm papel fundamental na fotossíntese, e também protegem as células contra o estresse oxidativo, neutralizando os radicais livres que se formam pela superexposição à luz solar.
Precursor da vitamina A, isso significa que o betacaroteno é transformado nesse importante retinoide, que desempenha no corpo humano funções essenciais para a saúde dos olhos, multiplicação e especialização de células, e fortalecimento do sistema imunológico.
Para o coautor Manuel Rodríguez Concepción, da UPV, embora carotenoides como o betacaroteno sejam fundamentais nos complexos fotossintéticos dos cloroplastos, "quando muito ou pouco betacaroteno é produzido nos cloroplastos, eles param de funcionar, e as folhas eventualmente morrem", alerta o pesquisador em um release
Para garantir o crescimento normal das folhas, os autores combinaram duas estratégias iniciais: uma produz betacaroteno no citosol das células foliares, e a outra converte cloroplastos (plastídeos que realizam fotossíntese) em cromoplastos não fotossintéticos superacumuladores de carotenoides em folhas agroinfiltradas.
Em várias tentativas de melhorar o conteúdo foliar de betacaroteno via engenharia metabólica, tratamentos hormonais e exames genéticos, o betacaroteno aumentou no máximo cinco vezes. Elevando pequenos plastoglóbulos com tratamentos intensos de luz e enzimas de bactérias, a equipe obteve não só 30 vezes mais betacaroteno, mas aumentou também a bioacessibilidade.
Em um comunicado, os autores destacam que produzir e armazenar betacaroteno em níveis altíssimos e de forma bioacessível, fora dos locais costumeiros nas folhas, "representa um avanço muito significativo para melhorar a nutrição por meio da biofortificação de vegetais como alface, acelga ou espinafre, sem abrir mão de seu aroma e sabor característicos".