Ciência
24/07/2024 às 12:00•2 min de leituraAtualizado em 24/07/2024 às 12:00
A criatividade, essa habilidade que muitas vezes parece surgir do nada, sempre intrigou cientistas e curiosos. Recentemente, um estudo inovador trouxe uma nova percepção sobre o assunto, mostrando que a criatividade envolve a interação de diversas partes do cérebro, especialmente a rede de modo padrão (RMP) e a rede de controle frontoparietal (RCF).
O cérebro humano não é apenas uma massa uniforme de células; ele é organizado em diversas regiões interconectadas, cada uma responsável por funções específicas, como processamento visual ou controle motor. No entanto, a criatividade não está confinada a uma área específica. Ela emerge da atividade coordenada de várias regiões cerebrais, como descobriram pesquisadores da University of Utah Health e do Baylor College of Medicine.
Em uma pesquisa fascinante, os cientistas pediram a 13 participantes que pensassem em usos alternativos para objetos cotidianos, observando a atividade cerebral durante a tarefa. Eles descobriram que a rede de modo padrão é fundamental para a geração de ideias criativas.
A rede de modo padrão é um conjunto de regiões do cérebro que estão ativas quando estamos em repouso e não focados em tarefas externas específicas, com objetivos claros. Esta rede fica "ligada" durante estados de descanso, como quando estamos sonhando acordados, lembrando do passado, imaginando o futuro ou refletindo sobre nós mesmos.
Usando métodos avançados de imagens cerebrais, a equipe conseguiu captar a atividade da rede em tempo real durante tarefas criativas. Eles notaram que, nos primeiros milissegundos de uma tentativa criativa, a RMP se ativa antes de sincronizar com outras regiões.
Para testar a ligação entre a rede de modo padrão e a criatividade, os pesquisadores interromperam temporariamente a atividade da RMP em alguns participantes. O resultado? A originalidade das ideias desses participantes diminuiu significativamente, indicando que há um nexo causal entre a atividade da RMP e o pensamento criativo.
Contudo, por mais que tenha um papel importante, ela não trabalha sozinha. Conforme os participantes começavam a listar os usos alternativos dos objetos, a rede de controle frontoparietal, associada à resolução de problemas e atenção, também se ativava.
Isso sugere que a RMP pode ser responsável por gerar novas ideias, enquanto a RCF avalia e refina essas ideias. Essa interação entre as duas redes parece ser crucial para o pensamento criativo. Tal fato reforça o entendimento de que as ideias criativas começam na RMP e depois são refinadas por outras partes do cérebro.
Essa descoberta aprofunda nosso entendimento sobre a criatividade e abre portas para novas intervenções. Compreendendo melhor a interação entre RMP e demais redes, podemos desenvolver técnicas para estimular a criatividade em pessoas com transtornos mentais, por exemplo.
De acordo com os especialistas, a atividade da RMP é alterada em vários transtornos, como a depressão ruminativa, onde ela pode contribuir para pensamentos negativos persistentes. Compreender melhor como a RMP opera pode levar a tratamentos mais eficazes para essas condições. Afinal, a criatividade é uma função cerebral única e valiosa para todos, não apenas para artistas e inventores.
No futuro, técnicas de estimulação cerebral que modulam a atividade da RMP e da RCF podem ser desenvolvidas para melhorar o pensamento criativo. Esse avanço promete não apenas expandir nosso conhecimento sobre o cérebro, mas também transformar a maneira como abordamos a criatividade, o aprendizado e a saúde mental.