Documentário de Hitchcock sobre atrocidades nazistas é restaurado

23/01/2014 às 07:172 min de leitura

Depois de 70 anos, o documentário “Memória dos Campos”, conhecido como a obra nunca vista do mestre do suspense Alfred Hitchcock, poderá finalmente ser assistida, em versão restaurada pelo Imperial War Museum.

Em 1945, o diretor Alfred Hitchcock foi convidado pelo produtor Sidney Bernstein para ajudar a montar um documentário sobre as atrocidades de guerra cometidas pelos alemães, a partir de uma série de registros filmados nos campos de concentração por unidades de libertação comandadas por militares soviéticos e britânicos.

Na época, a intenção era mostrar para o mundo a barbárie que ocorria sob o domínio nazista durante a Segunda Guerra Mundial. Com a descoberta dos campos de Auschwitz, Bergen-Belsen, Buchenwald e Dachau, americanos e britânicos estavam ansiosos para lançar um filme que responsabilizasse os alemães pelas atrocidades cometidas pelos seus líderes durante todo esse período.

Porém, o documentário levou muito mais tempo do que o previsto para ser produzido e, no final daquele ano, a percepção política sobre os crimes de guerra mudou; o longa acabou nunca sendo lançado. Naquela ocasião, as nações vencedoras entenderam que exibir o documentário mostrando os horrores dos nazistas não beneficiaria aos esforços de reconstruir a Alemanha no pós-guerra.

De abalar até o mesmo o mestre do suspense

A história conta que o próprio Hitchcock teria ficado extremamente abalado com as imagens que viu. Quando assistiu aos primeiros registros do que as tropas encontraram no campo de concentração de Bergen-Belsen, o diretor teria abandonado as instalações do estúdio Pinewood, nos arredores de Londres, e só voltou ao trabalho uma semana depois.

Fonte da imagem: Reprodução/The Guardian

A função de Hitchcock era supervisionar a montagem do documentário, organizar as cenas e sugerir o corte do produto final. Esse não é, portanto, um filme típico do diretor, pois ele não teve participação nas filmagens nem pôde opinar sobre os enquadramentos e os planos.

Mesmo sendo uma obra secundária na filmografia de Hitchcock, a obra é de muito interesse para historiadores, fãs e cinéfilos que desejam conhecer o material ao qual o diretor foi exposto, que pode ter influenciado sua maneira de fazer terror e suspense, e conferir de que forma ele decidiu apresentar as sequências captadas nos campos de concentração.

A versão restaurada

Os rolos de película foram deixados no Imperial War Museum em 1952, e 35 anos depois foram descobertos por um pesquisador americano, que trouxe o documentário à luz das telas. Em 1984, uma versão incompleta com apenas cinco rolos da obra foi exibida no Festival de Berlim, e no ano seguinte transmitida pelo canal americano PBS, momento em que o documentário recebeu o nome de “Memória dos Campos”, título que perdura até hoje.

Esse material parcial encontra-se disponível na internet, e você pode conferir abaixo o documentário. Vale o aviso, no entanto, de que as imagens são fortes e perturbadoras. Alfred Hitchcock, acostumado às provocações imagéticas em suas obras de suspense, mal teve estômago para aguentar esse registro da realidade — imagine nós!

“Memória dos Campos” nunca teve, no entanto, um lançamento oficial. Porém, o Imperial War Museum conclui uma restauração digital da obra, recuperando as imagens dos cinco rolos de película e remontando as sequências do sexto e último rolo que faltava na versão de 1984.

O resultado desse trabalho, garantem os responsáveis pela restauração, é como Hitchcock, Bernstein e os demais colaboradores haviam imaginado. A obra será exibida em festivais e salas de cinema no decorrer deste ano e transmitida em canais europeus no ano que vem como parte da comemoração pelos 70 anos da libertação europeia (e do fim de guerra).

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