A moral pode ser decidida pelos seus genes

20/03/2012 às 10:562 min de leitura

Dois sistemas de moral atuam simultaneamente em suas decisões (Fonte da imagem: ThinkStock)

Antes de tudo, um teste rápido. Digamos que um caminhão desgovernado está indo em direção a um grupo de cinco pessoas. Caso ele continue na mesma rota, todas morrerão. Mas você pode evitar esse acidente desviando o veículo para outro caminho, onde se encontra apenas uma pessoa. Você faria isso? Acha preferível que apenas uma pessoa morra em vez de cinco?

Para piorar um pouco a situação, digamos que agora o caminhão não pode mais ser desviado. Ele atropelará as cinco pessoas, a não ser que você concorde em assassinar alguém, empurrando um sexto indivíduo de cima de uma ponte. E agora? Sua decisão mudou ou continua a mesma? E se a pessoa que você deve empurrar da ponte for um parente seu?

Como é possível perceber por meio desse exercício mental, a conduta moral de uma pessoa muda de acordo com o contexto em que ela se encontra. Entretanto, ainda não temos certeza sobre a origem desse tipo de comportamento, ou seja, como é que nossas regras morais são formadas.

Mas de acordo com o artigo “Moral choices show we are deeply split”, publicado na revista New Scientist de 18 de fevereiro de 2012, é provável que esse tipo de “código” moral seja gerado pela biologia ou, mais precisamente, pelos nossos próprios genes e instinto de sobrevivência.

É por isso, por exemplo, que a maior parte das pessoas considera mais desejável a morte de apenas um indivíduo em vez de cinco, a não ser, é claro, que a pessoa a ser sacrificada seja um parente: nesse caso, a perpetuação dos próprios genes fala mais alto e o que antes parecia certo passa a ser considerado errado.

Entretanto, o pesquisador Robert Kurzban, da Universidade de Pensilvânia, nos Estados Unidos, acredita que nem sempre a sobrevivência dos genes está atrelada às regras morais.

Imoral sim, mas só para ajudar parentes

Em uma pesquisa conduzida por Kuzban, voluntários receberam variantes do mesmo exercício da ponte, perguntando o que eles fariam e pedindo uma confirmação: o assassinato dessa pessoa é moralmente aceito?

Oitenta e cinco por cento das pessoas consideraram errada a opção de matar alguém para salvar outras cinco pessoas, independentemente do fato de a vítima ser ou não parente. Isso confirma a existência de uma espécie de regra que vai contra o ato de matar e que se sobrepõe aos interesses dos genes.

Mesmo assim, apesar de considerar a solução do assassinato como moralmente errada, 28% das pessoas empurrariam um estranho para salvar outros cinco, enquanto 47% dos voluntários afirmaram que matariam um irmão para salvar cinco irmãos. Ou seja, no geral, o ser humano está mais inclinado a cometer um ato moralmente negativo caso ajude a salvar a vida de algum parente.

Com isso, o experimento mostrou que nós temos pelo menos dois sistemas de moral que atuam em paralelo: um que diz que certas ações são erradas e outro que força alguém a proteger seus parentes. Obviamente, esses sistemas entram em conflito quando você está em uma situação de stress.

Regras morais podem ser alteradas

De acordo com o coautor da pesquisa, Peter DeScioli, a coesão da sociedade exige que tenhamos certas regras, independentemente de quais sejam elas, para que possamos resolver disputas de maneira rápida e tranquila. DeScioli argumenta que nosso sistema de regras é arbitrário e, às vezes, pode estabelecer normas consideradas esquisitas. Porém, a boa notícia é que essas regras internas podem ser mudadas.

O professor assistente Fiery Cushman, da Universidade Brown, garante que algumas regras são mais difíceis de serem alteradas do que outras. Mas nosso instinto de proteção aos semelhantes influencia a forma como essas regras morais são criadas, caso contrário, não haveria punição no globo todo contra roubos, estupro ou assassinato.

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