Esportes
29/07/2014 às 07:03•4 min de leitura
Talvez você tenha ouvido ou lido em algum lugar que, apesar dos pesares — e das previsões dos mais pessimistas —, a Copa do Mundo foi um sucesso, e o enorme investimento realizado para sediar o evento inclusive já teria sido pago. Pois, os valores relacionados com o que os turistas deixaram por aqui durante o mundial começaram a ser divulgados, então, que tal fazer algumas estimativas para ver se a conta da Copa realmente já foi “quitada”?
Segundo as estimativas do governo antes do início evento, um número de 3,7 milhões de pessoas — entre brasileiros e estrangeiros — estaria em circulação pelo país durante a Copa, gastando um total de quase R$ 6,7 bilhões ao longo dos jogos.
De acordo com a Embratur, mais de 1 milhão de visitantes estrangeiros estiveram no país durante a Copa do Mundo, e seus gastos durante o mês de junho, quando começou o mundial, foi contabilizado em US$ 797 milhões, ou seja, aproximadamente R$ 1,8 bilhão. Isso somado a mais US$ 609 milhões — ou aproximadamente R$ 1,4 bilhão — referentes aos primeiros 23 dias de julho, somaram um total de US$ 1,4 bilhão, ou seja, R$ 3,1 bilhão. Metade do esperado.
Bem, é fato que a Copa do Mundo contribuiu para gerar novos empregos e aumentar a exposição internacional do país. Além disso, também é fato que as obras de infraestrutura e mobilidade urbana — como corredores exclusivos para ônibus, melhorias em aeroportos etc. — construídas em virtude do mundial ficarão como um legado para a população. E mais: com mais de 3 milhões de ingressos vendidos, o mundial é considerado o mais lucrativo da História.
No entanto, segundo a BBC, a estimativa de custos totais da Copa do Mundo ficou em perto de R$ 26 bilhões e, desse montante, apenas R$ 5,6 bilhões foram provenientes de recursos privados. Um terço das obras (R$ 8,7 bilhões) foi financiado por bancos federais — como a Caixa Econômica Federal, o BNDES e o Banco do Nordeste do Brasil —, e os empréstimos foram tomados pelos governos estaduais sozinhos ou em parceria com entidades privadas.
O governo também criou o programa Recopa — Regime Especial de Tributação para Construção e Reforma de Estádios da Copa —, que proporcionou uma série de concessões e isenções fiscais às construtoras. Essa prática, obviamente, se traduz em uma diminuição nos impostos que devem ser pagos e, portanto, isso acaba se transformando em despesa pública.
Como você viu acima, só os gastos com os estádios ficaram em R$ 8,48 bilhões, e somente uma parte teria sido financiada com recursos privados. Quem “pagou” boa parte das construções e reformas foi o BNDES, que liberou linhas de crédito a juros subsidiados. Em muitos casos, quem fez os empréstimos foram governos estaduais que, evidentemente, terão que pagar a conta com dinheiro público.
No caso dos empréstimos realizados em parcerias público-privadas, o pagamento seria realizado — em parte — através do uso das arenas em grandes eventos e espetáculos. Contudo, alguns dos estádios foram construídos em locais nos quais não haverá público suficiente ou clubes para manter essas estruturas.
Um exemplo disso é o estádio de Manaus que custou R$ 670 milhões para ser construído — segundo o Portal Transparência — e tem capacidade para abrigar 44,5 mil pessoas. Outro exemplo é o Mané Garrincha de Brasília — que custou quase 1,5 bilhão e tem capacidade de público para 72,8 mil pessoas —, cujo custo deve levar mais de mil anos ao DF para ser recuperado segundo as estimativas.
Como você já deve saber, a FIFA lucra um bocado com contratos de marketing e transmissão do mundial. Ao longo da Copa, a Fédération Internationale de Football Association contou com o apoio de seis patrocinadores oficiais — Coca-Cola, Sony, Hyundai, Visa, Adidas e Emirates — e firmou outros tantos contratos exclusivos, sem falar que a federação também manteria convênios com hotéis e cobraria uma porcentagem sobre as hospedagens.
Contudo, apesar de não ter sido confirmado oficialmente, a FIFA não precisou pagar nenhum imposto aqui no Brasil — benefício do qual a federação de futebol desfrutaria em qualquer país sede do mundial de futebol. Assim, o total de impostos que teriam sido desonerados da FIFA foi estimado em algo em torno de R$ 1 bilhão. E, se a renúncia fiscal realmente aconteceu, nenhum tostão disso ficou por aqui.
Bem, caro leitor, a verdade é que fazer a conta sobre os custos da Copa não é uma tarefa tão simples assim. No total, foram desenvolvidos 327 projetos para a Copa, que cobriram desde obras de infraestrutura básica — especialmente transporte e mobilidade urbana — a gastos diretamente relacionados com o evento. No entanto, como mencionamos anteriormente, muitos desses custos eram necessários, portanto, seria injusto considerá-los como “gastos”.
Então, desconsiderando questões como corrupção e ineficiência — que certamente encareceram alguns projetos —, assim como irregularidades, superfaturamento e a famosa isenção fiscal em favor da FIFA, que tal fazer umas continhas bobas com base nos custos que foram divulgados? Confira alguns deles:
Lembrando que o custo total estimado ficou em R$ 26 bilhões, seria justo descontar os montantes referentes às obras de mobilidade e aeroportos, não é mesmo? Isso nos deixa com cerca de R$ 8,7 bilhões. Contudo, R$ 5,6 bilhões teriam vindo de recursos privados, o que nos deixa com R$ 3,1 bilhões. Porém, se os turistas deixaram por aqui um total de R$ 3,1 bilhões, isso significa que a Copa estaria paga.
Assim, embora não tenhamos contabilizado nenhum lucro, a conta astronômica aparentemente foi quitada. E você, caro leitor, acredita que do ponto de vista financeiro a Copa do Mundo aqui no Brasil valeu a pena? Não deixe de compartilhar a sua opinião conosco nos comentários!