Estilo de vida
06/02/2017 às 11:41•3 min de leitura
Conforme explicamos em uma matéria anterior aqui do Mega Curioso — que você pode conferir na íntegra através deste link —, a Via Láctea está viajando pelo Universo a pouco mais de 580 quilômetros por segundo (com relação à radiação cósmica de fundo), o que é equivalente a extraordinários dois milhões de quilômetros por hora, aproximadamente.
Apesar de os astrônomos terem conseguido calcular a velocidade com a qual viajamos pelo cosmos, eles ainda não entendiam muito bem as forças envolvidas nesse processo. A teoria mais aceita era a de que a responsável por essa vertiginosa aceleração seria a força gravitacional exercida por uma região do espaço chamada Superaglomerado Shapley, que abriga a maior concentração de galáxias do universo próximo à Terra.
Os cientistas sabiam que existia uma região de atração, mas desconheciam a de repulsão
No entanto, de acordo com Nuño Domínguez, do portal El País, essa proposta não se encaixava muito bem com as observações do movimento e trajetória do grupo de galáxias que inclui a Via Láctea e Andrômeda — sugerindo que deveria haver mais uma força nessa brincadeira. Então, um grupo de cientistas da Universidade Hebraica de Jerusalém, liderados pelo astrofísico Yehuda Hoffman, publicaram um artigo onde apontam quem seria essa força misteriosa.
Seus cálculos apontaram que se trata de uma região do Universo que, em termos cosmológicos, se encontra vazia. Essa área está situada a cerca de 500 milhões de anos-luz distância de nós e exerce uma força contrária à do superaglomerado, isto é, ela está “empurrando” a nossa galáxia em direção à concentração Shapley ao mesmo tempo em que o aglomerado nos atrai, e foi batizada pelos astrofísicos de “Dipole Repeller” — ou Repulsor Dipolo em tradução livre.
Segundo Nuño, os cientistas chegaram a essa conclusão depois de fazer uma simulação tridimensional do movimento da Via Láctea pelo Universo próximo. Eles se basearam nas observações da velocidade de 8 mil galáxias feitas com vários instrumentos, incluindo o telescópio espacial Hubble, e os resultados confirmaram a existência da tal região vazia.
Novo mapa do Universo próximo, onde o Grupo Local (Local Group) representa o agrupamento galáctico que abriga a Via Láctea
Assim, enquanto o superaglomerado atrai a Via Láctea com a massa dos milhares de galáxias que ele abriga, o dipolo nos repele na mesma direção, e é a soma dessas duas forças que faz com que a Via Láctea viaje a dois milhões de quilômetros por hora com relação à radiação cósmica de fundo, ou seja, a radiação gerada após o Big Bang.
Conforme explicou Hoffman, o astrofísico líder do estudo, a velocidade de expansão do Universo é definida pela constante de Hubble. Pois se tiramos essa aceleração da equação, o efeito restante sobre a Via Láctea seria o dessa região de repulsão — mas, até agora, apenas existiam pequenos indícios de que o vazio existia, e ninguém havia sido capaz de localizá-lo ou quantificar seus efeitos. Confira as duas regiões, de “empurra e puxa”, no mapa a seguir:
A Via Láctea, assim como muitas outras galáxias, estão no meio dessas duas forças
De acordo com Nuño, essas duas regiões — a que exerce atração e a que exerce repulsão — afetam uma área do cosmos de mais ou menos 500 milhões de anos-luz, e abriga outras grandes concentrações de matéria, como o superaglomerado Perseus-Pisces, o aglomerado de Hércules, e o superaglomerado de Laniakea — que serve de lar para 100 mil galáxias, entre elas a Via Láctea e a nossa vizinha Andrômeda.
Duas coisas interessantes sobre o estudo que valem a pena ser mencionadas: primeiro, que a região que abrange o repulsor dipolo não está realmente “vazia”, mas apresenta uma quantidade de galáxias e estrelas muito menor do que o normal — o que, por sua vez, a torna muito menos densa do que os aglomerados galácticos.
Os astrofísicos podem até achar que a Via Láctea não tem nada de extraordinário, mas olhando a imagem acima, é fácil discordar com eles, você não acha?
Em segundo lugar, de acordo com os astrofísicos, as características observadas, embora interessantes, não fazem da Via Láctea uma galáxia mais especial do que as demais, especialmente considerando que o Universo conta com cerca de dois bilhões delas. Na verdade, o comportamento observado parece bastante comum, e se encaixa perfeitamente com o modelo cosmológico padrão que descreve a estrutura e evolução do cosmos a partir do Big Bang.