Ciência
22/11/2024 às 05:00•2 min de leituraAtualizado em 22/11/2024 às 05:00
Nós, seres humanos, gostamos de desfrutar de uma dosezinha de uma bebida alcoólica para relaxar (de vez em quando, claro). E os animais passam longe desse líquido, certo?
Errado. E agora, uma pesquisa está sugerindo que os bichos podem estar consumindo mais álcool do que podemos imaginar.
A verdade é essa: os animais que comem frutas inevitavelmente vão acabar consumindo algumas que estão meio passadas – e que, por isso, estarão levemente fermentadas e consequentemente alcoólicas. Só que, por muito tempo, imaginamos que este era um acontecimento raro e acidental.
Uma equipe de ecologistas tem questionado essa visão. Isso porque alguns animais (entre os quais nos incluímos) têm a capacidade de metabolizar baixas doses de etanol, incluindo uma molécula produzida pela levedura Saccharomyces cerevisiae ao digerir certos vegetais.
É o que diz a ecologista comportamental Kimberley Hockings, da Universidade de Exeter. "O etanol é muito mais abundante no mundo natural do que pensávamos anteriormente, e a maioria dos animais que come frutas açucaradas será exposta a algum nível", afirma. A professora ainda destaca: "estamos nos afastando dessa visão antropocêntrica de que o etanol é apenas algo que os humanos usam".
Estas conclusões foram consolidadas após a equipe analisar 100 fontes de pesquisa existentes sobre o tópico, o que os levou a uma complexa rede de evolução em torno do advento do etanol na Terra. Este tipo de álcool surgiu há cerca de 100 milhões de anos, quando esta levedura encontrou uma maneira de fermentar o néctar e os frutos das primeiras flores da Terra. Esse processo ecológico levou ao surgimento de uma cadeia evolutiva de eventos que envolve plantas, leveduras, bactérias, insetos e mamíferos.
Como o etanol é gerado naturalmente em quase todos os ecossistemas da Terra, Hockings, ao lado de sua equipe, propõe a hipótese de que os animais que comem frutas e néctar (que geram essa levedura) muito provavelmente consomem álcool regularmente.
E esse consumo de álcool seria até um sinal de evolução dos animais, uma vez que a presença do etanol é um indicativo de que um alimento tem alto teor de açúcar – e, consequentemente, é rico em energia. Por isso, alguns animais podem ter adquirido maior eficiência metabólica em relação ao etanol para permitir que esses alimentos (especialmente frutas) fossem ingeridos.
Isso traria mais credibilidade à chamada "hipótese do macaco bêbado", que sugere que a propensão dos humanos a beber álcool está relacionada com a presença desta tendência nos primatas, com os quais os humanos têm uma relação genética próxima.
"Do lado cognitivo, foram apresentadas ideias de que o etanol pode ativar o sistema de endorfina e dopamina, o que leva a sentimentos de relaxamento que podem ter benefícios em termos de sociabilidade. Para testar isso, realmente precisaríamos saber se o etanol está produzindo uma resposta fisiológica na natureza", complementa a ecologista comportamental Anna Bowland, que também participa do estudo.
Ainda assim, esse consumo de álcool pode ser prejudicial, principalmente para os animais selvagens. "De uma perspectiva ecológica, não é vantajoso estar embriagado enquanto sobe nas árvores ou cercado por predadores à noite. Essa é uma receita para não ter seus genes transmitidos", sugere o ecologista molecular Matthew Carrigan, do College of Central Florida.
Ele ainda emenda: "é o oposto do que ocorre com os humanos, que querem ficar intoxicados, mas não querem realmente as calorias. Da perspectiva não humana, os animais querem as calorias, mas não a embriaguez". Dito de outro modo: se os animais realmente gostam de álcool, é por motivos diferentes dos nossos.