Artes/cultura
12/09/2016 às 08:36•3 min de leitura
A cólera, como você já deve saber, é uma doença que afeta os intestinos e provoca sintomas como diarreia intensa e o vômito. Além disso, nos casos mais severos, ela pode levar à desidratação grave e até à morte em apenas poucas horas. Ela é transmitida através da água e de alimentos contaminados com matéria fecal infectada por algumas estirpes das bactérias Vibrio cholerae, o que significa que os surtos costumam acontecer em locais onde a população não tem acesso a saneamento básico e água tratada, onde as condições de higiene não são ideais.
Isso não inclui somente as comunidades mais pobres de países em desenvolvimento, mas também regiões afetadas por desastres naturais e conflitos armados, por exemplo. Infelizmente, apesar de a cólera poder ser prevenida — e tratada —, todos os anos entre 3 milhões e 5 milhões de pessoas são infectadas no mundo, e aproximadamente 100 mil doentes morrem anualmente.
De acordo com Nickolaus Hines, do portal All That Is Interesting, segundo fontes oficiais, desde o catastrófico terremoto que abalou o Haiti há seis anos, a epidemia matou cerca de 10 mil pessoas. Entretanto, como a maioria dos casos sequer é comunicada às autoridades, na verdade, estimativas apontam que o número de mortos pela cólera pode chegar a 30 mil pessoas — sendo que mais de 2 milhões podem ter sido infectadas.
Mulher contempla sua casa completamente destruída após o terremoto
Ainda de acordo com Nickolaus, a Organização das Nações Unidas anunciou novas medidas que podem ajudar no tratamento dos doentes e no combate à epidemia. Contudo, segundo Nickolaus, a ONU é a principal responsável pela chegada da doença no Haiti e pela devastadora situação enfrentada pela população do país — e se não fosse pela própria organização, a doença jamais teria se espalhado pela nação caribenha.
Caso você não se recorde, em janeiro de 2010, um terremoto de magnitude 7,0 sacudiu o Haiti e provocou a morte de um número estimado entre 220 mil e 316 mil pessoas. O sismo também ocasionou o desmoronamento de uma grande quantidade de edifícios e residências — problema que foi agravado pelas más condições da maioria das construções situadas nos locais mais afetados.
Hospital improvisado para receber os infectados pela cólera
Assim, além dos milhares de mortos e feridos, milhões de pessoas ficaram desabrigadas. Em pouco tempo as Forças de Manutenção da Paz da ONU começaram a chegar ao Haiti — com elas, a cólera. Acontece que, apesar da boa intenção da organização, ela cometeu uma sucessão de erros: as equipes de ajuda não passaram por testes nem triagens antes de desembarcar na nação arrasada e iniciaram a construção de abrigos sem muito planejamento.
Segundo Nickolaus, não demorou até que a população haitiana começasse a enfrentar problemas com o saneamento básico — em boa parte por culpa da presença do pessoal da ONU. O problema é que a organização sabia de todos esses problemas e inclusive tinha em mãos um relatório que trazia informações detalhadas sobre os riscos oferecidos à população, mas não fez nada a respeito.
O terremoto deixou uma enorme parcela da população desabrigada
Especificamente, o documento informava a ONU sobre o despejo de esgoto em rios e a respeito da escassez de produtos de higiene pessoal, além de mencionar a falta de banheiros. O relatório ainda lançava o alerta de que o descuido dos responsáveis em lidar com a situação podia deixar a missão vulnerável a acusações de envolvimento na propagação de doenças e na contaminação ambiental.
Dito e feito: em pouco tempo, dejetos começaram a ser lançados no Rio Meille, que, por sua vez, deságua no Rio Artibonite, o maior do país. Com os dejetos, a cólera também acabou caindo nesse curso d’água — usado pela população para a higiene pessoal e como fonte de água para beber. Mesmo assim, sabendo que a doença estava chegando, segundo Nickolaus, os abrigos estabelecidos pela ONU continuaram a despejar o esgoto no ambiente.
A ONU conhecia o risco e não fez nada
Em uma questão de dias, mais de 10 mil casos de suspeita de cólera foram registrados em comunidades abrigadas próximo às margens dos rios, e logo o Haiti começava a enfrentar sua maior epidemia da doença. E a ONU? Em nenhum momento a organização assumiu qualquer responsabilidade pelo problema.
Sabe o pior? Um estudo feito pela Universidade de Yale revelou que a epidemia poderia ter sido evitada com um simples exame cujo kit custa US$ 3,54 (menos de R$ 12) por pessoa. Se os testes tivessem sido feitos em todos os integrantes das equipes de resgate que foram ao Haiti, a ONU teria gastado certa de US$ 2 mil (cerca de R$ 6,5 mil) — e reduzido o risco de epidemia de cólera em 98%.
A epidemia podia ter sido evitada
Porém, devido à combinação de fatores que explicamos acima, um em cada 16 haitianos já foi infectado pela cólera. E só depois de muitas acusações, pressão e uma enxurrada de processos legais é que a ONU começou a reconhecer seus erros e propôs um plano de ação para remediar o problema. No entanto, assumir publicamente a responsabilidade pela morte de milhares de pessoas, isso a Organização das Nações Unidas ainda não fez, não!