Artes/cultura
27/06/2017 às 13:57•2 min de leitura
Você já ouviu falar a respeito das taipan? Essas cobras pertencem ao gênero Oxyuranus e, por sorte, são endêmicas da Austrália — o que significa que o risco de a gente tropeçar com um bicho desses aqui no Brasil é bastante remoto. E o que esses répteis têm de tão terrível para desejarmos que eles fiquem bem longe das nossas terras?
Oxyuranus microlepidotus
Uma das espécies mais temidas dessas cobras é a taipan-do-interior (Oxyuranus microlepidotus), considerada a mais venenosa do planeta. Para você ter uma ideia, apenas 110 mg de seu veneno — produção máxima registrada por picada — são suficientes para matar perto de 100 humanos adultos ou aproximadamente 250 mil ratos! Felizmente, graças a um destemido e azarado australiano chamado Kevin Budden, hoje existe um soro antiofídico para a picada desses animais.
De acordo com Ed Yong, da National Geographic, Kevin foi um herpetólogo amador — ou seja, um aspirante a especialista — e caçador de cobras de Randwick, em Nova Gales do Sul que, em 1948, aos 18 anos de idade, já se gabava de ter capturado 59 serpentes venenosas. O jovem tratava a coisa toda como um hobby e dizia ter sido picado apenas cinco vezes.
Kevin Budden é o cara à direita
No entanto, sua sorte mudou em 1950, quando, durante uma viagem a Cairns, uma cidade que fica no estado de Queensland, Kevin se deparou com uma taipan devorando um rato na beira de uma estrada. O australiano já vinha tentando capturar um exemplar há tempos e não pensou duas vezes antes de partir para cima da cobra.
Segundo os amigos que o acompanhavam, Kevin conseguiu imobilizar a cobra com o pé antes de capturá-la perto da cabeça, mas, no processo, deixou o animal enfurecido. Então, o australiano pegou uma carona até o especialista em serpentes mais próximo e, ao chegar lá, como estava com a mão suando e cansada de segurar a taipan, a bicha escapou e o picou.
Taipan-costeira
O especialista teve tempo de confirmar que realmente se tratava de uma taipan-costeira (Oxyuranus scutellatus) — um dos primeiros exemplares capturados vivos até então — e colocar a cobra em segurança. Mas, como não existia um soro contra a picada desses animais na época, Kevin acabou falecendo no hospital algumas horas depois.
Antes de ser levado ao hospital, Kevin demonstrou bastante preocupação pela taipan e pediu que o animal não fosse ferido — e seu desejo foi atendido. Após a morte do rapaz, a cobra foi enviada a um laboratório de Melbourne para que seu veneno fosse extraído e estudado. De acordo com Isidoro Merino, do portal El País, a serpente morreu também, cerca de 1 mês depois, mas as análises revelaram que a substância consistia em um letal coquetel de neurotoxinas, hemotoxinas e miotoxinas capaz de matar um humano adulto em menos de meia hora se ele não receber cuidados médicos.
A cobra (preservada) que picou Kevin
Kevin só sobreviveu por mais tempo porque recebeu cuidados intensivos, mas sua morte não foi em vão. Graças ao fato de ele ter capturado a taipan viva, os cientistas australianos conseguiram desenvolver um “antídoto” para a picada das mortais Oxyuranus.
Na verdade, segundo Isidoro, a Austrália serve de lar para mais de 60 tipos de cobras venenosas e, dessas, meia dúzia figuram entre as mais mortais do mundo, como é o caso da taipan-costeira — a que picou Kevin — e da taipan-do-interior. E os acidentes com esses animais são relativamente frequentes, com um índice anual de mais de 500 pessoas recebendo picadas. Entretanto, graças a pessoas como Kevin e ao desenvolvimento de soros antiofídicos, as vítimas mortais são raras, entre duas ou três por ano.